O medicamento injetável, que tem como princípio ativo a Tirzepatida, foi aprovado pela Anvisa como um tratamento específico para o diabetes tipo 2. Contudo, como ele também atua em hormônios relacionados à digestão e à saciedade, muitas pessoas estão buscando para a perda de peso.
A comercialização de Mounjaro dentro do mercado brasileiro é proibida e sua importação só pode ser feita por pessoa física, mediante receita médica.
Mesmo com essas determinações, pessoas que buscam o emagrecimento rápido ignoram as recomendações e buscam o mercado clandestino, colocando em risco a própria saúde.
O g1 questionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) sobre os trâmites da polícia caso seja comprovada a venda ilícita do remédio, porém o órgão informou que nesse caso a fiscalização é desenvolvida pela Receita Federal, que controla o fluxo da entrada do remédio no país.
Influenciadoras se aproveitam da visibilidade
Influenciadora de Fortaleza anuncia venda de Mounjaro em seu perfil com mais de 50 mil seguidores.
É com essa promessa de investimento com garantia de emagrecimento rápido que as influenciadoras divulgam a venda de Moujaro em suas redes sociais. Uma delas, que tem mais de 50 mil seguidores, diz na biografia do Instagram que perdeu 16 quilos em 40 dias com o uso do remédio.
Ela também costuma mostrar diariamente a evolução de seu corpo e posta foto de supostas clientes que também tiveram sucesso com a medicação.
A mulher, que também é empresária, vende o Mounjaro por R$ 5 mil cada caneta completa com quatro doses. Já as doses fracionadas, variam conforme cada miligrama, ficando entre R$ 1 mil (7,5 mm) a R$ 1,6 mil (15 mg).
Para facilitar a compra, a influenciadora afirma que o preço do remédio pode ser dividido em até cinco vezes no cartão de crédito, porém o preço da caneta passa para R$ 5,5 mil.
Preços promocionais
Influenciadora fez mais promoção para clientes durante a venda ilegal de Mounjaro.
Outra influenciadora, que tem mais de 30 mil seguidores nas redes sociais e se apresenta como CEO de uma empresa de produtos naturais, é mais discreta em relação às publicações da venda de Mounjaro, repostando apenas vídeos de clientes que já usaram o medicamento que compraram dela.
Contudo, ela disponibiliza contatos de funcionárias com quem é possível conseguir informações sobre a compra do remédio e também disponibiliza promoções com o valor da caneta completa, com quatro doses, além de uma dose extra, saindo de R$ 6.900 para R$ 4.900 no pagamento à vista.
As doses fracionadas, que podem ser aplicada pela equipe dela, ficam entre R$ 900 (7,5 mg) a R$ 1.600 (15 mg).
Mesmo com os preços promocionais, o valor do Mounjaro vendido pelas influenciadoras fica acima do teto estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que determina que o preço seja entre R$ 1.752,58 a R$ 3.952,37, dependendo da dose e do ICMS do estado.
Comércio ilegal
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a venda de medicamentos é exclusiva de farmácias e drogarias. Portanto, o comércio por pessoas físicas e fora de estabelecimento farmacêutico é irregular.
Caso seja comprovada a prática, conforme o órgão, a pessoa que vende pode até ser autuada pela polícia por contrabando, já que até o momento o fabricante não iniciou a comercialização do Mounjaro no Brasil.
"A Anvisa mantém mecanismos de monitoramento de venda de produtos irregulares, especialmente em plataformas de comércio eletrônico. Para o comércio local a fiscalização cabe às vigilâncias sanitárias locais. É fundamental que as pessoas adquiram medicamentos somente em farmácias e drogarias. A aquisição fora destes ambientes expõe o consumidor a um risco de produtos de origem desconhecida, falsos e fora de suas condições de conservação. Quando o medicamento é apreendido, seguindo as determinações da Anvisa os mesmos são destruídos", disse a Anvisa em nota enviada ao g1.
Riscos à saúde
Médica alerta sobre os riscos à saúde no uso de Mounjaro de procedência duvidosa
A médica Bárbara Freire, pós-graduada em nutrologia, alerta que adquirir o Mounjaro de maneira irregular e sem acompanhamento médico pode trazer vários riscos a saúde.
"Ele é um medicamento que por si só já traz efeitos colaterais como náusea, lentificação do fluxo do trato gastrointestinal, deixando a digestão mais lenta. Além disso, se não tiver a armazenação correta, desnatura a medicação, podendo causar também azia, refluxo, diarreia, perda de cabelo, reação de hipersensibilidade e até mesmo, em casos mais graves, pancreatite", disse Bárbara Freire.
Ainda segundo a médica, não há como garantir a eficiência do Mounjaro comprado de terceiros, e mesmo que a pessoa consiga emagrecer, é necessário a orientação de um médico e uma mudança no estilo de vida para evitar o efeito rebote.
"Se você faz sem orientação, você pode até emagrecer bastante quando você tá usando. Porém, se você não faz o desmame adequado do jeito que era para ser, que só os médicos sabem como é que faz, você vai ter o resultado do rebote. Tem gente que usa e engorda o dobro depois. Então, tem que ter a orientação correta nas clínicas", afirmou a médica.
Fiscalização da Receita Federal
Receita Federal apreende 176 canetas de Mounjaro entre material de pesca em Fortaleza
Ao ser questionada sobre essa última apreensão, o órgão informou que não iria se pronunciar sobre o caso e não deu mais detalhes das circunstâncias que o material foi localizado.
Passageiro é flagrado no Aeroporto de Fortaleza com dezenas de canetas de Mounjaro escondidas nas meias e na cueca.
Conforme a Receita Federal, não houve quaisquer prisões de pessoas no momento das apreensões do medicamento.
"Em relação à apreensão de quantidades de medicamentos, que não sejam para uso pessoal, ou de grandes volumes do medicamento, não há previsão de pagamento dos tributos que permitam a liberação da mercadoria e nestes casos será dada a pena de perdimento. Se não for caso de liberação com pagamento de imposto (pessoa física com Receita médica, por exemplo) aplicamos a pena de perdimento", falou a Receita.
"Quando o medicamento é apreendido, desde que esteja no prazo de validade e em condições de uso, poderá ser doado para órgão público municipal, estadual ou federal", esclareceu o órgão.
G1