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Natany cursava licenciatura em Química no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no campus de Quixadá. — Foto: Arquivo pessoal
O sepultamento da universitária Natany Alves, de 20 anos, morta a pedradas após ser sequestrada por três homens na saída de uma igreja evangélica na cidade de Quixeramobim, no interior do Ceará, reuniu centenas de pessoas nesta segunda-feira (17), em cortejo pelas ruas da cidade.
Francisco Márcio Freire, Francisco Teodósio Ramos, ambos de 43 anos, e Jardson do Nascimento Silva, 23 anos, foram presos pelo crime.
Eles confessaram à polícia que haviam planejado roubar um carro para quitar uma dívida de Máricio e escolheram a jovem aleatoriamente, conforme documento oficial ao qual o g1 teve acesso. Contudo, o trio entrou em contradição sobre quem teria desferido as pedradas que mataram a Natany.
O laudo da Perícia Forense apontou que Natany teve traumatismo craniano, com esmagamento da cabeça por objeto contundente, com exposição de massa encefálica. O documento também indica que ela tentou se defender dos ataques.
Durante a audiência de custódia, realizada nesta segunda, os homens tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça, por latrocínio. Na decisão, o juiz de Direito afirmou que os autuados demonstraram "completo desprezo, mesquinhez e desapego pela vida humana".
"[Há] uma acentuada e profunda reprovabilidade na conduta ético-jurídica dos autuados ao levarem a vítima ao óbito por meio de pedradas na cabeça", diz um trecho da decisão.
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Veja cronologia do caso de jovem morta após ser sequestrada em saíde de igreja, no Ceará — Foto: Arte/g1 |
Passo a passo de como o crime aconteceu
Sábado (15), um dia antes do crime
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Um dia antes de Natany ser morta, Jardon foi visto circulando na cidade de Quixeramobim. — Foto: Reprodução |
Na noite do último sábado (15), um dia antes de Natany ser morta, Jardon foi visto circulando na cidade de Quixeramobim.
Na ocasião, uma moradora gravou o momento em que ele estava em um parquinho infantil, próximo a várias crianças. Ele também foi visto em comércios da região.
Nos registros, Jardson vestia uma camisa azul e uma bermuda preta, mesma roupa usada durante o sequestro da universitária.
13h05 de domingo (16), dia do crime
Momentos antes do crime, às 13h05, uma câmera de segurança gravou Jardson, Márcio e Francisco Teodosio em uma via da cidade.
Os três homens, que estavam com mochilas nas costas e sacos com mantimentos, conversaram por alguns minutos, observaram a movimentação e saíram caminhando. Conforme os três relataram a polícia, eles planejavam roubar um carro para vender e quitar uma dívida.
13h10 de domingo
Natany, a vítima do crime, caminhava sozinha em direção ao carro, estacionado próximo à igreja. Ela abriu a porta do passageiro para colocar um pertence, depois entrou pela porta do passageiro e quando já estava dentro do veículo foi rendida por Márcio.
No momento que o primeiro deles invadiu o veículo, pela porta do motorista, ela tentou sair pela porta do lado do passageiro, mas foi impedida por um segundo criminoso.
Em seguida, os criminosos saíram do local levando a vítima de refém no próprio carro.
15h de domingo
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Sistema da polícia registrou momento que o carro da universitária estava trafegando na cidade de Morada Nova após o sequestro. — Foto: Polícia Civil |
Ao ser informada sobre o sequestro da jovem, a polícia começou as investigações e as buscas na região.
Em torno das 15h, as câmeras do Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia) registraram a passagem do carro de Natany na cidade de Morada Nova, a123 quilômetros de distância de Quixeramobim.
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Crachá de Natany foi localizado pela polícia durante as buscas pela universitária. — Foto: Reprodução |
Durante as buscas nos municípios vizinhos o crachá do trabalho da universitária foi localizado abandonado na cidade de Banabuiú.
16h de domingo
A câmera de um estabelecimento registrou o momento que os criminosos abandonaram o carro de Natany às 16h11 na Rua Francisco Eneas de Lima, na cidade de Quixadá, a 43 quilômetros de distância do município para o qual ela foi levada.
Os homens desceram do carro, já vestidos com outras roupas e saíram caminhando pela via.
Investigações da polícia apontaram que os três homens foram até um ponto de mototáxi e cada um deles embarcou em uma moto.
Prisão dos suspeitos
Durante as apurações, a polícia descobriu que os três homens estavam escondidos em uma casa na Rua Francisco Xavier de Lima, em Quixadá, que pertence àfilha de Márcio.
No momento da abordagem, Jardson indicou aos policiais que havia jogado uma sacola com pertences da vítima em um terreno em frente ao imóvel.
Os agentes localizaram a sacola e dentro dela acharam uma bolsa pequena de cor rosa contendo uma bíblia, um livro com hinos cristãos, uma piranha para cabelo e um protetor labial. No saco também continha uma camisa azul e uma permuda de cor preta, usadas por Jardson no momento do sequestro.
Após a prisão, os suspeitos indicaram que haviam abandonado o corpo de Natany em uma mata às margens da CE-266, na localidade de Laranjeiras, em Banabuiú.
O g1 não conseguiu localizar a defesa dos suspeitos.
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Polícia apreendeu com os suspeitos pertences da vítima e as roupas usadas por eles no crime. — Foto: Polícia Civil |
Contradição sobre quem matou a universitária
Durante o depoimento, Márcio, Francisco Teodósio e Jardson admitiram que planejaram o assalto para pagar uma dívida de Márcio. Porém, nenhum deles assumiu a autoria da morte da universitária.
Segundo Márcio, ele e os comparsas passaram a madrugada na rodoviária de Quixeramobim, de sábado para domingo, consumindo drogas e bebida alcoólica. Na manhã de domingo, eles começaram a planejar um assalto, tendo em vista uma dívida que ele possuía.
Com isso, o suspeito teria sugerido aos comparsas o roubo de um veículo, pois seria mais rentável, já que poderiam vender o carro. Após essa decisão, os três homens saíram a pé, ainda sob efeito de drogas e escolheram a vítima aleatoriamente.
Após abordar a jovem, ele anunciou o assalto e os três homens invadiram o carro. Dentro do veículo, ele fez "pressão psicológica” sobre a universitária, exigindo que ela não gritasse por socorro.
Ao logo do trajeto, Márcio, que estava dirigindo o carro, decidiu levar a garota até uma área isolada, conhecida como Laranjeiras, onde pretendia abandoná-la e fugir com o veículo. Chegando ao local, ele desceu do carro, entrou na mata e atravessou uma cerca junto com a jovem. Nesse momento, Natany teria se abaixado repentinamente, pegado uma pedra e atingido a cabeça dele.
Conforme Márcio, após a reação, ele derrubou a universitária no chão, afirmou para os comparsas que não faria nada com a mulher e seguiu em direção ao carro que estava estacionado. Porém, ao olhar para trás, percebeu que Francisco Teodósio e Jardson ficaram com a jovem.
Momentos depois, Jardson retornou para o veículo e disse para Márcio que Francisco Teodósio era um psicopata, pois havia matado a garota.
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Márcio Freire, Francisco Teodósio e Jardson do Nascimento — Foto: Reprodução |
Jardson acusa Teodósio
Jardson falou em depoimento ouviu gritos da jovem, que estava na mata com Márcio, e ele e Teodósio sairam do veículo para ver o que estava acontecendo.
No local, Teodósio matou a universitária e retornou para o carro com as mãos sujas de sangue.
Ainda conforme Jardson, o combinado não seria matar a vítima, mas deixá-la no matagal viva e fugir com o carro.
Teodósio negou
Francisco Teodósio, confirmou a versão do assalto e detalhou que para fazer pressão na vítima Márcio chegou a simular que colidiria o carro caso a jovem tentasse qualquer reação. Inclusive, eles quebraram o celular da garota e jogaram fora.
Sobre o assassinato de Natany, o suspeito relatou que ao chegar ao local Márcio retirou a vítima do carro e a levou para dentro da mata, atravessando uma cerca. Momentos depois, ele ouviu gritos e Jardson foi em direção a Márcio. Enquanto isso, ele permaneceu no carro, pois estava sob efeito de álccol e drogas.
Quando Márcio e Jardson retornaram ao veículo, de acordo com Teodósio, ele percebeu que os dois estavam “em estado de nervosismo, demonstrando desespero, e exigiram que o grupo deixasse o local rapidamente”.
Investigações da Polícia Civil revelaram que o crime tinha como objetivo inicial a subtração do veículo da vítima, que seria deixado na rodoviária para “esfriar” o crime, evitando o rastreamento do automóvel e aguardando um momento oportuno para ser negociado pelos criminosos.
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Natany era aluno do curso do curso de licenciatura em Química do IFCE, do campus de Quixadá. — Foto: Arquivo pessoal |
(g1)