O prefeito de Potiretama, município do Vale Jaguaribe, tem “fortes vínculos” com membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), conforme apuração da Polícia Civil do Ceará (PC-CE). A afirmação consta na decisão judicial que decretou a prisão de Luan Dantas Félix, de 34 anos.
Ele
foi preso no dia 3 de abril passado. A defesa de Luan, feita pelo
advogado Pedro Neto, nega as acusações. Conforme ele afirmou a O POVO, a ilação feita não é corroborada por nenhuma prova.
Luan foi preso pelo crime de incêndio, já que, conforme a investigação da Delegacia de Combate à Corrupção, ele teria sido o mandante do incêndio que atingiu uma fazenda em 31 de maio de 2024 em Alto Santo, município vizinho a Potiretama.
Não houve feridos, mas diversos móveis da propriedade foram queimados, como geladeira, freezer, portas, janelas e outros.
A
vítima, um advogado que atua na região, acusou Luan de ordenar o
incêndio, dizendo ainda que, em 2023, o prefeito havia ameaçado-o de
morte.
As ameaças teriam sido motivadas por Luan acreditar que o advogado havia denunciado-o à Procuradoria dos Crimes contra a Administração Pública (Procap).
Em 2024, Luan chegou a ser alvo de operação do Ministério Público Estadual (MPCE) que investigava um esquema criminoso de venda superfaturada de combustível para a Prefeitura.
Ainda de acordo com o advogado, o prefeito chegou a oferecer R$ 25 mil para matá-lo. A vítima também disse que “várias pessoas” receberam um áudio em que Felipe Gomes da Silva, conhecido como Pajé, confessava ter ateado fogo na fazenda.
Felipe é descrito na decisão judicial, assinada pelo juiz Francisco Eduardo Girão Braga, como um dos “executores” do PCC na região do Vale do Jaguaribe. Ele foi assassinado a tiros no município potiguar de Olho D’água do Borges em 6 de julho de 2024.
Ainda conforme a investigação, o cunhado de Luan, Thiago José de Sousa Araújo, também teria participado do planejamento do incêndio.
Conforme mencionado na decisão, a Polícia identificou Luan e Thiago fazendo tratativas sobre o crime por meio de um número de celular que não era usualmente utilizado por Luan.
“A análise dos dados revelou que THIAGO registrou esse número em sua agenda no dia 22 de maio de 2024, após receber uma ligação de um número desconhecido, que se identificou como sendo LUAN”, diz trecho da peça judicial.
"Na ocasião, LUAN enfatizou que o número não deveria ser repassado a terceiros, momento em que começaram a tratar sobre o crime por meio desse número".
Laudo da Perícia Forense do Estado (Pefoce) identificou a presença de óleo diesel no local do incêndio, “substância inflamável que pode ser empregada como acelerante de incêndio”, como pontuado na peça judicial.
“Adicionalmente, as investigações apontaram que o prefeito Luan Dantas Felix tem fortes vínculos com integrantes da organização criminosa Primeiro Comando da Capital - PCC, a qual utiliza para coagir e atacar seus inimigos políticos”, também afirma a decisão.
Defesa afirma que relatórios não servem como provas
O advogado Pedro Neto afirma que as acusações de que Luan teria ligações com o PCC se baseiam apenas em um relatório feito pela Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Conforme ele, a extração de dados do celular que embasou o relatório da Coin não é uma perícia, sendo um documento “apócrifo” e que “não tem valor de prova algum”.
“Não tem, além da impressão de quem o produziu, nenhum outro elemento concreto e palpável de que ele tenha esta vinculação”, disse o advogado. “Não são transcrições, são extrações copiadas por alguém dito da inteligência policial, mas que ninguém sabe quem é, porque é apócrifo”, afirmou.
“Além do mais, fazem uma atribuição de que um telefone seria do Luan, sem ter nenhuma certeza de sê-lo”, também afirma Pedro Neto, acrescentando que o aparelho sequer foi apreendido em posse dele.
O advogado afirma que já impetrou um habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado (TJCE) pedindo a soltura de Luan. Atualmente, ele está recolhido à Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, localizada em Aquiraz (Região Metropolitana de Fortaleza), que recebe presos de menor potencial ofensivo.
(g1)