Nesta segunda-feira (19), a Diocese do Crato apresenta a conclusão da primeira fase do inquérito, compilada em 10 volumes. O encerramento da fase diocesana do processo terá também uma sessão aberta ao público no dia 7 de junho, a partir das 19h, na Basílica Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte.
Na semana seguinte à sessão aberta ao público, toda a documentação será enviada ao Vaticano. A partir de então, começará a fase romana do processo (veja detalhes abaixo).
Atualmente, padre Cícero possui o título de Servo de Deus, atribuído àqueles que estão no início do processo de beatificação. Caso o papa reconheça as virtudes dele ao fim da fase romana, o padre poderá ser nomeado como Venerável Servo de Deus.
Mais de 10 mil páginas
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Documentos do primeiro inquérito para beatificação do padre Cícero têm cerca de 10 mil páginas — Foto: Patrícia Silva/SVM |
Os documentos fornecidos pela Comissão Histórica na fase diocesana foram reunidos em cerca de 10 mil páginas. Esta primeira etapa é chamada de "Inquérito sobre a vida e as virtudes do Servo de Deus", trazendo uma biografia bastante documentada.
O relatório da Comissão Histórica tem cerca de 200 páginas, enquanto os escritos do padre Cícero tiveram pouco mais de 850 páginas, como detalha o padre Wesley Barros, vice-postulador da causa de beatificação.
Além disso, o inquérito também conta dez obras literárias sobre o padre Cícero, além dos testemunhos de mais de 60 pessoas que tiveram contato com a história do religioso.
“Um capítulo para Graças Alcançadas faz parte desse relatório da Comissão Histórica porque a comissão tem o dever de provar que o Servo de Deus foi venerado, foi invocado desde o momento em que ele faleceu. Então foi um trabalho de garimpar mesmo entre os romeiros, entre os relatos antigos deixados na Basílica de Nossa Senhora das Dores”, explicou o padre Wesley Barros.
Para esta parte do relatório, os membros da comissão reuniram documentos e digitaram cartas escritas desde 1934 até os dias atuais.
Todo o material precisou ser microfilmado e digitado para inclusão no processo. Para o vice-postulador, uma das dificuldades foi recolher todo o material sem deixar de fora os aspectos relevantes, fundamentando com provas documentais.
“Ele era uma figura que se relacionava com os mais variados segmentos da sociedade, desde as pessoas mais simples, a quem ele mandava um bilhetinho enviando a bênção e um recado para nunca deixar de rezar o rosário, até as cartas que enviavam para as pessoas importantes, influentes, da vida política e religiosa da região, em busca de auxílio, de suprimentos para as necessidades das pessoas mais pobres que estavam a seus cuidados em Juazeiro”, recorda o padre Wesley.
Após quase dois anos e meio de trabalho, a fase diocesana encerra para que possa começar a fase romana, que também é considerada demorada. Nela, o material é analisado no Dicastério para a Causa dos Santos, em Roma.
A tramitação na fase romana inclui a redação de uma tese, com cerca de 300 páginas, sobre o Servo de Deus. Este documento servirá para análises e votações entre os teólogos do Dicastério. Na última instância, caberá ao papa reconhecer as virtudes do padre Cícero.
Os próximos passos da beatificação incluem, de acordo com o vice-postulador:
- Envio do primeiro inquérito da fase diocesana para Roma, previsto para junho deste ano.
- Início da fase romana do primeiro inquérito, que pode levar padre Cícero ao título de Venerável Servo de Deus
- Fase diocesana de um segundo inquérito, buscando comprovar um milagre atribuído a Padre Cícero
- Fase romana do segundo inquérito, podendo tornar padre Cícero um beato da Igreja Católica.
Do perdão à beatificação
No dia 1º de março daquele ano, durante uma missa, após Cícero colocar a hóstia na boca de Maria de Araújo, a hóstia teria se convertido em sangue. Devotos afirmaram que se tratava de um milagre – a hóstia havia se convertido no sangue de Cristo. A Igreja, no entanto, discordou à época.
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Processo de beatificação de padre Cícero avançou durante pontificado de papa Francisco — Foto: Reprodução/Vatican Media/AFP |
À frente da Diocese do Crato, dom Magnus Henrique Lopes comemora o andamento de uma causa levantada pelos bispos anteriores como dom Fernando Panico e dom Gilberto Pastana.
“Eu tive a alegria de receber este processo já começado pelo dom Fernando e pelo dom Gilberto… de receber esta caminhada e dar prosseguimento. Então, sinto-me feliz, como nordestino, como alguém que tem também um carinho muito grande pelo Padre Cícero, de estar presente neste momento da história”, afirma dom Magnus Henrique Lopes.
O bispo ressalta que, mesmo com o tempo de espera pelas fases do processo, os romeiros já vivenciam uma forte relação com o padre Cícero, em uma caminhada marcada pela fé e pela oração.
A felicidade ao acompanhar este processo é partilhada pela aposentada Maria das Dores Bernardino. Ela foi uma das pessoas ouvidas pelos membros da Comissão Histórica no processo de beatificação do Padim.
A devoção dela veio da história da mãe, agricultora que morava em Pernambuco e que ficou doente. Segundo Maria das Dores, a mãe dela chegou a passar três dias sem consciência e tendo visões.
Foi depois de uma promessa para o padre Cícero que ela recuperou a saúde e se mudou com os filhos para Juazeiro do Norte.
(g1)