Febre, dor de cabeça e vômito é a tríade de sintomas que, em parte dos casos, embora não sejam condições específicas, demarcam a possível ocorrência de meningite. Mas, nem sempre o paciente os apresenta conjuntamente. Por isso, é preciso atenção. No Ceará, a doença, que é potencialmente grave, até o dia 2 de agosto, ou até a chamada Semana Epidemiológica 31, provocou 17 óbitos e teve 211 casos confirmados, conforme monitoramento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
A meningite é caracterizada pela inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. A doença pode ser causada por diferentes agentes como vírus e bactérias e é prevenível por vacina. Além disso, exige cuidado para que seja identificada e tratada em tempo hábil.
Segundo a médica infectologista e diretora técnica do Hospital São José, Ruth Araújo, é preciso atentar-se para o fato de que nem sempre os sintomas mencionados acima ocorrem de forma conjunta e, “em algumas situações, as pessoas deixam passar batido achando que é só um quadro viral ou alguma coisa mais simples”.
A médica destaca que pacientes com meningite também podem ter rebaixamento do nível de consciência, desorientação e rigidez de nuca. Esses sintomas de alarme, aponta, chamam mais atenção e é necessário que o paciente procure atendimento médico.
No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica, ou seja, ocorre de forma contínua durante todo o ano, podendo haver surtos e epidemias ocasionais. No Ceará, em 2024, no período semelhante ao de 2025 (início de agosto), foram registradas 20 mortes por meningite e 166 casos da doença foram confirmados.
Diferenças entre doença meningocócica e outras meningites
A meningite pode ser causada por bactérias, vírus, fungos ou parasitas, e quando é provocada pela bactéria meningococo, é chamada de doença meningocócica. Segundo o Ministério da Saúde essa forma bacteriana é geralmente a “mais grave”. Se não tratada a tempo, podem deixar graves sequelas ou até mesmo levar o paciente a óbito.
Tanto a doença meningocócica (DM) como as outras meningites são de notificação compulsória imediata, conforme determina a Portaria nº 1.061, de 18 de maio de 2020. Isso significa que as unidades de saúde que recebem o paciente precisam informar o registro junto às secretarias de saúde municipal e estadual em até 24 horas.
Questionada sobre a diferença entre doença meningocócica e as outras meningites, a médica Ruth Araújo explica que, de modo geral, as meningites são classificadas como aguda, subaguda ou crônica. No caso, a doença meningocócica, detalha, está no rol das meningites agudas e é a que demanda mais atenção devido à gravidade.
“Nesses casos (de doença meningocócica), temos chance de fazer bloqueio em casos suspeitos, ela pode acontecer em surtos e geralmente é uma doença de rápida evolução”, destaca a médica. Ela também pondera que “alguns casos de meningite que não sejam tratados adequadamente de forma rápida podem evoluir para óbito de forma muito veloz", destaca.
De acordo com dados da Sesa, dos 17 óbitos por meningite, 2 foram por doenças meningocócica e 15 por outras meningites. Os óbitos por doença meningocócica foram registrados em Fortaleza e São Gonçalo do Amarante. Em Fortim, Ibiapina e Milagres ocorreram mortes por outras meningites.
Já os casos confirmados de doença meningocócica, além de Fortaleza e São Gonçalo do Amarante, ocorreram em Redenção e Santa Quitéria.
Outras meningites foram confirmadas em Caucaia, Pentecoste, Barreira, Guaiúba, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Palmácia, Redenção, Pacoti, Boa Viagem, Canindé, Itapipoca, Fortim, Icapuí, Pedra Branca, Quixadá, Jaguaretama, Russas, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Potiretama, Quixeré, Hidrolândia, Ipu, Irauçuba, Meruoca, Reriutaba, Sobral, Acaraú, Marco, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, Tianguá, Crateús, Ipaporanga, Nova Russas, Barroquinha, Camocim, Chaval, Granja, Martinópole, Milagres, Jardim, Juazeiro do Norte, Beberibe, Cascavel, Horizonte e Pindoretama.
O que fazer em casos suspeitos de meningite?
Em caso de suspeita de meningite envolvendo dor de cabeça forte, febre alta, vômito, rebaixamento do nível de consciência, convulsões, algum quadro desse de instalação súbita, é necessário que procurar as unidades de saúde para ser devidamente avaliado, destaca ela, de preferência unidades de pronto atendimento. O que inclui a emergência do São José, mas não só ela, em Fortaleza, completa.
Nas situações nas quais não é possível fazer o diagnóstico imediato, diz ela, um dos procedimentos realizados é a pulsão lombar para que seja analisado o líquido cefalorraquidiano e saber se é meningite. Além disso, aponta, em quadro sugestivo de meningite, “na dúvida, faz a primeira dose de antibiótico, pois isso pode salvar vidas”.
A médica também esclarece que no caso das meningites virais geralmente não precisam de tratamento específico. “É suporte líquido na veia ou pela boca, remédio para a dor, controle de sintomas, não tem um antibiótico específico”, acrescentou.
Vacina é a forma de prevenção
A forma mais eficaz na prevenção da meningite bacteriana é a vacinação. No caso, são consideradas vacinas específicas para determinados agentes etiológicos. “As vacinas fazem parte, principalmente, do calendário vacinal da criança. Temos a vacina para a meningocócica e a pneumocócica disponível na rede de saúde.”,
Segundo o Ministério da Saúde, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), disponibiliza as seguintes vacinas para prevenção à meningite:
- Vacina meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C.
- Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite.
- Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.
- Meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C.
- Meningocócica ACWY (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelos sorogrupos A,C,W e Y.
DN