Célula do Comando Vermelho é investigada por homicídios e expulsão de famílias em Maranguape

Operação policial contra o Comando Vermelho em Maranguape 

Uma célula da facção criminosa Comando Vermelho (CV) com envolvimento em homicídios, espancamentos e expulsão de moradores, em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, está sob a mira da Polícia Civil do Ceará (PCCE). Na última semana, uma ofensiva deflagrada pela Delegacia Metropolitana de Maranguape cumpriu um mandado de prisão preventiva contra um dos integrantes do grupo identificado como Antônio Leonardo da Silva Braga, o ‘Leo Braga’

'Leo Braga' e os irmãos Antônio Lynkon Ribeiro da Silva, o ‘Lynkon’ ou ‘Playboy’; e Melysson da Silva Abreu, o ‘Memé’, são investigados por homicídio qualificado e participação em organização criminosa. A reportagem não localizou a defesa do trio até a publicação da matéria. O texto será atualizado se houver manifestação dos advogados. 

Um dos crimes atribuídos ao grupo foi o homicídio que vitimou uma adolescente de 17 anos, assassinada quando carregava a filha de nove meses no colo. O crime ocorreu no dia 19 de maio de 2024, no bairro Penedo, em Maranguape.  

De acordo com depoimentos reunidos no inquérito, aos quais a reportagem teve acesso, os investigados responsáveis pela morte da garota integram uma célula da facção criminosa Comando Vermelho (CV), que atua na região. As investigações apontam que ‘Leo Braga’ e ‘Memé’ teriam ligação direta com a execução da garota de 17 anos, enquanto ‘Lynkon’ é citado como o chefe da facção no local e que teria ordenado a morte. 

A garota, segundo o depoimento de testemunhas, já havia sido ameaçada de punição pela facção por destratar a mãe e também por namorar um rapaz que moraria em uma comunidade rival. Na ocasião, ‘Lynkon’ determinou que a adolescente fosse submetida a “um corretivo”, mas não seria morta.  

Ela levaria “uma surra” e teria o cabelo cortado. Duas pessoas, sendo um homem conhecido como ‘Josué’ e uma mulher identificada como ‘Alzenir’, foram cumprir a ordem do chefe do CV, mas ao chegar ao local enfrentaram resistência da adolescente.  

Ela entrou em luta corporal com a mulher. Josué estava armado apenas com um pedaço de pau, conforme testemunhas e não conseguiu conter a garota.  

Após a primeira ameaça da facção, a jovem recebeu o "recado” de que não deveria mais destratar a mãe e nem se relacionar com o então namorado. Mesmo diante das “ordens” do chefe do CV, a adolescente continuou o relacionamento com o rapaz.   

No dia 19 de maio do ano passado, ela saiu de casa com a mãe e o filho de nove meses no colo para comprar leite. Quando voltava do mercadinho foi surpreendida por dois homens em uma moto. 

Os assassinos ordenaram que a adolescente colocasse a criança no chão. Ao serem obedecidos, eles efetuaram vários disparos contra a cabeça da garota, que morreu na hora. A criança não ficou ferida e nem a mãe dela, que saiu correndo com a neta no colo em busca de ajuda.  

Outros crimes atribuídos ao grupo 

O caso da morte da garota de 17 anos, segundo a Polícia, não é isolado. As investigações apontam que o mesmo grupo esteve envolvido em pelo menos quatro homicídios recentes. As mortes ocorreram em contextos diferentes, mas todas ligadas a punições contra integrantes e supostos simpatizantes de grupos rivais ou por disputa pelo comando do tráfico. 

Em uma sexta-feira do mês de janeiro de 2024, a vítima Antônio Diekson Sampaio, o ‘Dé’, se dirigiu a um bar na localidade de Penedo, em Maranguape. Ele não era morador da região, mas ia de tempos em tempos beber no local por ter parentes residentes na comunidade.

Naquela noite, Diekson ingeriu bebida alcoólica no ‘Bar da Loira’ e, após estar embriado, começou a dizer que “ninguém mandava ali” e que “não tinha facção que mandava ali”. A informação chegou aos ouvidos dos integrantes do CV. 

Dois homens foram ao local e agrediram Diekson. Bastante machucado, ele ficou caído na rua e foi amparado por moradores, que acionaram a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). 

Conforme os relatos de testemunhas, uma ambulância foi acionada, mas demorou a chegar. Antes que o homem pudesse ser atendido, dois homens em uma moto se aproximaram e efetuaram vários disparos contra Diekson, que morreu no local. 

No dia 23 de julho de 2024, um homem identificado como Francisco Reginaldo Viana de Sousa foi morto. O crime teria sido cometido por 'Lynkon', o homem apontado como chefe do CV na região. 

Reginaldo tinha um terreno onde cuidava de animais e cultiva plantações. O local passou a ser usado por usuários de drogas, que maltratavam um cão que pertencia a Reginaldo.  

Para evitar a passagem das pessoas em seu terreno, ele cercou o imóvel. Essa atitude gerou revolta nos faccionados da região. No dia 23 de julho, Reginaldo fumava no alpendre da casa dele quando viu a aproximação dos assassinos. 

O agricultor correu, entrou e casa e fechou a porta. No entanto, os criminosos arrombaram a porta e entraram. A vítima se escondeu no banheiro da casa, mas ainda assim foi morta com vários disparos. 

Uma testemunha viu 'Lynkon' saindo do local após os tiros. Ele estava acompanhado de outros comparsas. 

Além das execuções, “castigos” ordenados pelo CV são comuns na região. Uma das vítimas foi um homem identificado como Antonio Carlos, conhecido como ‘Neném’. O caso ocorreu em 2 de agosto de 2024, na localidade de Penedo. 

A investigação revelou que o "corretivo" foi determinado pelos chefes da facção, 'Lyncon' e seu irmão Melysson. A razão para a agressão foi porque a vítima cumprimentou uma pessoa inimiga da facção CV

De acordo com o depoimento de uma testemunha, cinco homens e uma mulher participaram da ação. A mulher envolvida é uma adolescente.  

Ela filmou a agressão sofrida por ‘Neném’. A adolescente é conhecida por postar em seu Instagram vários símbolos e músicas que fazem referência à facção Comando Vermelho, vangloriando-se de pertencer ao grupo, fazendo o sinal de "2" com as mãos e utilizando figuras de trens cobrindo os olhos. 

Presença da facção em Maranguape 

A presença da facção é visível por pichações em diversas localidades de Maranguape, como Ladeira Grande e Penedo. Essas pichações incluem as siglas "C.V.R.L", (Comando Vermelho Rogério Lemgruber) que faz menção ao fundador da organização criminosa no Rio de Janeiro, o assaltante e traficante Rogério Lemgruber e "T.D2", além de frases intimidatórias como "cada fofoca 10 pauladas!", "X9 não se cria", "abaixa o vidro tira o capacete", "trem bala" e "1 Deus 2 nois 3 bala". 

Membros da facção, incluindo Lyncon e Meme, utilizam frequentemente o sinal do "2" com os dedos e símbolos como bandeiras vermelhas ou imagens de "trens" cobrindo os olhos em suas redes sociais, como uma clara referência à facção CV 

O município figura no 1º lugar entre as 10 cidades mais violentas do Brasil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025. A taxa de homicídios, de 79,9, supera a média nacional e estadual e reflete a intensa atuação das facções criminosas. 

A facção criminosa Comando Vermelho impõe medo em Maranguape

Legenda: A presença da facção é visível por pichações em diversas localidades de Maranguape. Quem desobedecer as ordens é punido

Foto: Divulgação/Polícia Civil

Quando o Anuário foi divulgado, a Prefeitura de Maranguape declarou que a questão da segurança pública no município "transcende limites territoriais e exige colaboração entre todos os níveis de governo". A Gestão citou diversas ações feitas em parceria com o Governo do Estado do Ceará. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), por sua vez, destacou todas as ações implantadas pelo governo nos últimos anos.

A Polícia Civil orienta que denúncias anônimas sobre o caso e sobre a atuação do grupo podem ser feitas pelo 181 (Disque-Denúncia) ou diretamente junto à Delegacia Metropolitana de Maranguape. 

 

DN

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