Considerado um mineral estratégico e matéria-prima para baterias de carros eletrificados e turbinas de aviões, o cobalto, também conhecido como “ouro azul”, pode estar presente em abundância no Ceará, conforme indica estudo publicado por pesquisadores do departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Os pesquisadores descobriram cinco grandes depósitos de manganês no Brasil que também são fontes de cobalto. As maiores concentrações foram encontradas no depósito de Lagoa do Riacho em uma cidade cearense com cerca de 25 mil habitantes. Trata-se de Ocara, a cerca de 160 quilômetros de Fortaleza.
De acordo com um dos autores do estudo, doutorando em Geologia pela UFC e geólogo do Serviço Geológico do Brasil, Evilarde Uchôa, ainda não é possível calcular com precisão o tamanho das reservas de cobalto no local, mas a identificação de concentrações expressivas no local “servem como ponto de partida para futuras estimativas”.
Além de Ocara, onde já existe uma mina de manganês ativa, outras cidades do Ceará também já registraram ocorrência de cobalto, como Chorozinho, Horizonte, Pacajus, Acarape, Aracoiaba, Pacoti, Pentecoste e Caucaia.
Como o cobalto é utilizado?
Conforme o estudo, que também é conduzido pelo professor Felipe Holanda dos Santos, do Departamento de Geologia da UFC, o Ceará pode estar em posição estratégica, considerando o avanço da fabricação e vendas de carros eletrificados no Brasil.
O Estado, inclusive, receberá um Polo Automotivo na cidade de Horizonte, onde devem ser fabricados carros eletrificados.
“O cobalto é um metal estratégico com múltiplas aplicações: superligas metálicas e ligas magnéticas resistentes a altas temperaturas, empregadas em turbinas de aeronaves e usinas, catalisadores químicos para produção de combustíveis e produtos industriais”, listam os pesquisadores.
Eles avaliam que a extração poderia gerar empregos, aumentar a arrecadação de impostos e impulsionar setores de serviços e infraestrutura, mas que é essencial uma extração sustentável, com participação da comunidade local e adoção de boas práticas socioambientais.
“Qualquer mineração demanda gestão rigorosa de rejeitos, controle de emissões e recuperação ambiental. Aproveitar o cobalto como subproduto reduz a necessidade de novas minas e pode minimizar impactos adicionais”, detalha Uchôa.
Reserva no Brasil
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, a reserva de cobalto no Brasil é estimada em 70 mil toneladas.
Conforme os pesquisadores, ainda não houve procura de empresas privadas para investimento na exploração do mineral, mas foram iniciadas tratativas com o Centro de Referência em Tecnologia Mineral do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) para um projeto em parceria.
“O objetivo é desenvolver um método de beneficiamento mineral capaz de recuperar o cobalto associado ao manganês, utilizando rotas tecnológicas eficientes e ambientalmente seguras”, aponta.
Uchôa revela que, paralelamente, estão em andamento estudos para a elaboração de um modelo de formação do minério de cobalto. “Esse modelo servirá como guia para direcionar a prospecção e a exploração de novas áreas com potencial para o metal, tanto no Ceará quanto em outras regiões do Brasil”, observa.
(Diário do Nordeste)