A suspensão de contratos de exportação para os Estados Unidos já resultou no cancelamento de mais de 1 milhão de litros de água de coco de uma das principais empresas do setor no Ceará, a Paraipaba Agroindustrial.
A informação foi confirmada ao O POVO pela fundadora da Associação Nacional dos Produtores de Coco (Aprococo), Rita Grangeiro, que acompanha de perto as tratativas do setor com o governo estadual.
O segmento ficou fora da lista de exceções publicada pelo governo Donald Trump e enfrenta uma tarifa de 50%. Com isso, pode entrar em uma crise sem precedentes no Estado, já que o momento é de uma supersafra.
"A preocupação é que isso é somente uma indústria. Infelizmente, nós temos outra indústria que exportava, mas se mandava via Bahia. Então, o governo do Ceará não tem nenhuma responsabilidade de ajudar."
Em 2025, até julho, os Estados Unidos representam cerca de 95% do que o Estado exporta de água de coco, conforme os dados do Comex Stat. Ao todo, foram comercializados US$ 11,6 milhões dos US$ 12,3 milhões, somando todos os outros países. Quem ocupa o segundo lugar é o Canadá, com US$ 283.248, um valor bem inferior ao dos americanos.
Estado do Ceará vai comprar 350 mil litros de água de coco
Outra questão levantada por Rita Grangeiro é a compra da água de coco pelo Governo do Ceará para ser usada nas merendas das escolas públicas. Está prevista, por exemplo, a compra de 350 mil litros por mês do item.
"Espero que essa proporcionalidade exista em relação ao volume exportado de cada empresa. Então, se a empresa for responsável por 50%, 60%, 80% ou 90% da exportação, que ela também tenha direito de entregar ao governo da merenda escolar a mesma proporcionalidade que ela fazia. É isso que esperamos."
Sobre o cadastro, a fundadora da Aprococo afirmou que foram exigidos muitos requisitos para comprovar, por exemplo, a quantidade e os valores. Agora, está em análise para ser distribuído entre os técnicos.
"Então aí, na verdade, o governo tá aprendendo a fazer, como também as empresas estão aprendendo a lidar com toda essa documentação que não era uma coisa normal para o dia a dia."
Entenda as medidas do Governo do Ceará contra o tarifaço
Foram quatro medidas do projeto sancionado em 7 de agosto: aquisição de crédito de exportação; redução dos encargos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI); subvenção econômica para as empresas manterem seus negócios com os EUA; e compra direta pelo Estado de produtos alimentícios.
Os recursos virão do Tesouro Estadual, a depender da capacidade financeira e fiscal do Estado, para manter o equilíbrio. Conforme o secretário da Fazenda, Fabrízio Gomes, a quantidade estimada de companhias que exportam para os americanos chega a 300.
Aquisição de crédito de exportação
A aquisição de créditos de
exportação terá como responsável pelo pagamento a Secretaria do
Desenvolvimento Econômico (SDE). A empresa fará requerimento à
Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), que analisará o pedido. O
valor adquirido será para compensar o aumento do custo tarifário.
Segundo o secretário da Fazenda, Fabrízio Gomes, a medida funcionará por meio de uma antecipação do pagamento do crédito acumulado que muitas empresas possuem com os estados e com as unidades federais
"A Secretaria da Fazenda vai estar recebendo, através de seus sistemas, esses pedidos, e a gente vai analisar para que seja feito esse pagamento desse crédito de exportação, justamente para compensar esse aumento do custo tarifário que as empresas estão tendo nessa negociação com os Estados Unidos", informou.
Redução dos encargos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI)
Os encargos do FDI serão reduzidos com o intuito de equilibrar custos e evitar possíveis perdas de negócios. O titular da Sefaz destacou que o valor será diminuído a depender da "necessidade de cada empresa".
Além disso, ele comunicou que para ser beneficiada por essa medida a companhia também terá que entrar com pedido a partir da secretaria.
Subvenção econômica para as empresas manterem seus negócios com os EUA
A subvenção econômica irá combater a perda financeira das empresas nas exportações, de modo que ela consiga manter a competitividade nos contratos com importadores americanos. O requerimento deve ser realizado junto a Sefaz.
Vale destacar, que o valor adquirido não pode ultrapassar o impacto econômico do das tarifas. Assim, a pasta, de acordo com Fabrízio, "irá analisar qual foi o custo que aumentou". A SDE será responsável pelo pagamento.
Compra direta pelo Estado de produtos alimentícios
Por fim, a compra dos alimentos, que será realizada pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) a partir de processo de credenciamento, irá atender demandas do Estado. O preço pago pelos produtos, segundo o informado pelo governo, será decidido mediante pesquisa.
A medida deverá servir como uma alternativa aos exportadores que tenham perdido negócios com os EUA.
Além disso, ela será "uma forma de a gente monitorar e ver quais são as possibilidades que o Estado do Ceará tem com as empresas, para podermos manter os negócios", afirmou o secretário da Fazenda.