| Legenda: O menor preço para 500ml de azeite de oliva encontrado pelo Procon Fortaleza em setembro foi de R$ 39,90. Foto: Paloma Vargas |
Após a escalada de preços nos últimos dois anos, os consumidores já percebem uma redução no valor do azeite de oliva nos supermercados de Fortaleza. Segundo levantamento do Procon Fortaleza, entre janeiro e setembro, a queda variou de 6,17% a 15,8%.
A maior retração ocorreu no produto de menor valor, que passou de R$ 47,49 para R$ 39,99, recuo de R$ 7,50. O preço médio também caiu, de R$ 51,09 para R$ 48,94, uma redução de R$ 3,15.
Já o valor máximo permaneceu praticamente estável, caindo de R$ 65,99 para R$ 65,69, uma redução suave de R$ 0,30.
Para o levantamento, foi considerada apenas uma marca do produto, na apresentação de 500 ml, com o objetivo de calcular a média de preços e permitir a comparação. A pesquisa abrangeu 36 estabelecimentos distribuídos pelas 12 regionais da Cidade.
O Diário do Nordeste visitou um atacarejo e um supermercado para analisar os preços. Uma marca conhecida no mercado chegou a ser encontrada a R$ 59,98 por litro.
Esse foi o melhor preço, considerando que a mesma marca também foi encontrada na versão de 250 ml por R$ 28,90 e na de 500 ml por R$ 39,90.
A queda registrada em Fortaleza acompanha a tendência nacional. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado mensalmente pelo IBGE, o recuo no preço do azeite vem sendo observado em todo o Brasil desde fevereiro.
Apenas em 2024, a retração acumulada é de 12,55%, enquanto nos últimos 12 meses a redução chega a 11,07%
Por que o preço baixou e o que esperar para 2026?
A justificativa para a redução nos preços está na melhor safra das oliveiras na Europa. O azeite, majoritariamente importado para o mercado brasileiro, nos anos de 2023 e 2024, havia se tornado um artigo de luxo nas mesas dos consumidores, apontado com um dos grandes vilões da inflação naquele período.
Conforme a presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva), Rita Bassi, os preços do produto devem se manter no patamar registrado em setembro e até apresentar queda em 2026, se considerarmos apenas a safra internacional.
Isso porque a colheita deste ano deve iniciar agora, em outubro, e está sendo considerada boa pelos grandes fabricantes do produto. Porém, ela ressalta que não é apenas isso que faz a diferença na composição do preço.
Mesmo com o imposto de importação zerado desde março de 2025, o que, segundo Rita, é bom, há outras cargas tributárias que também são levadas em consideração na composição do valor.
Assim, o produto pode ter uma variação neste ano e no início de 2026, mas uma variação pequena, para mais ou para menos.
"Temos que lembrar que todo o azeite é importado (apenas 1% é produzido no Brasil, segundo Rita) e não podemos apenas considerar os preços lá fora como estáveis, porque há interferências da taxa de câmbio", avalia.
Ele ressalta que a alta do dólar e do euro eleva o valor do azeite no câmbio, e que outros fatores além do custo e da oferta também influenciam o preço ao consumidor.
Vale a pena estocar agora que o preço baixou?
O professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador de Finanças Comportamentais, Érico Veras, comenta que, para quem usa bastante o alimento e está notando um preço atrativo, pode valer a pena comprar um pouco mais.
"Embora esse produto não seja amplamente consumido por todos os consumidores, o azeite tem um prazo de validade maior, podendo ser estocado", aponta.
Contudo, Veras reforça que é preciso ter cuidado e parcimônia na hora de tomar a decisão de estocar.
"A pesquisa sempre é muito boa para encontrar as melhores opções de preço dentro do mercado. Mas, quanto à quantidade a ser armazenada, depende da demanda de cada um", analisa.
"Se você efetivamente não vai precisar consumir muito azeite, o mais barato é aquilo que você não compra. Assim, a compra para o consumo temporário é a melhor opção, podendo-se voltar a comprar quando necessário", enfatiza.
Como economizar na hora de comprar azeite?
Araújo pondera que adotar estratégias como a comparação de marcas, dada a grande variedade de azeites no mercado, é uma prática vantajosa para o consumidor. Ele acrescenta que, em períodos de alta nos preços, os blends (misturas) podem ser uma alternativa.
O economista afirma que também é possível aproveitar promoções sazonais: datas como Natal e Páscoa costumam ter descontos maiores.
Além disso, segundo ele, eventualmente, em períodos de forte alta, é possível alternar o uso com outros óleos vegetais de boa qualidade, como canola ou girassol, em preparações do dia a dia, reservando o azeite para pratos especiais.
"Porém, é sempre importante alertar para as falsificações, que cresceram com o aumento do preço do azeite, de modo que a pesquisa e a aquisição em fontes confiáveis são essenciais para não ser enganado", diz.
Variação de preço afeta percepção de custo de vida
O Brasil é o segundo maior consumidor mundial de azeite de oliva, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com cerca de 100 milhões de litros por ano.
Porém, o consumo per capita ainda é baixo, entre 400 e 500 ml por ano, contra 10 litros em países mediterrâneos.
Dito isso, para o economista Alex Araújo, apesar de o produto não ser um item da cesta básica, ele ganhou espaço relevante no consumo das famílias brasileiras, especialmente da classe média urbana
"Sendo assim, na prática, a variação de preço impacta pouco o orçamento agregado das famílias, mas afeta a percepção do custo de vida. Como é um produto associado à qualidade e à saúde, sua alta ou queda de preço é bastante notada, sobretudo entre consumidores habituais", reflete.
Ele lembra que o encarecimento do azeite nos últimos anos reduziu o consumo em alguns mercados, levando distribuidores a rever margens.
"Já a concorrência entre as grandes redes do varejo tem buscado segurar preços em itens de maior visibilidade, como é o caso do azeite, para atrair consumidores", observa.
(DN)


