Um relatório da Polícia Civil do Ceará (PCCE) aponta que o Ceará teve 219 ocorrências de expulsões de moradores, por facções criminosas, em 1 ano e 9 meses. Isso representa uma expulsão a cada 3 dias, aproximadamente.
O dado, que abrange o período de janeiro de 2024 a setembro de 2025, faz parte de um relatório do Núcleo de Inteligência Policial (NUIP) do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), elaborado no último dia 17 de outubro.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) foi questionada sobre o número de expulsões de moradores por facções, mas não se manifestou até a publicação desta matéria. O texto será atualizado, se houver resposta.
Conforme o documento, "a maioria das ocorrências está concentrada na Capital, totalizando 143 registros, com destaque para os bairros Ancuri, Prefeito José Walter, Vicente Pinzón e Jangurussu".
Confira os bairros com mais expulsões em Fortaleza:
- Ancuri - 16 ocorrências de expulsões de moradores;
- Prefeito José Walter e Vicente Pinzón - 15 ocorrências;
- Jangurussu - 8 ocorrências;
- Barra do Ceará e Papicu - 7 ocorrências;
- Canindezinho: 6 ocorrências.
O relatório que a reportagem teve acesso foi anexado a um inquérito policial, aberto pelo 30º Distrito Policial (30º DP), sobre a prisão em flagrante de dois suspeitos de integrarem a facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP) e de expulsarem moradores do Condomínio José Euclides, no bairro Jangurussu, em Fortaleza, no último dia 29 de outubro.
Gleilson dos Santos Rosa e José Vitório Barbosa da Silva também estariam revirando os imóveis e roubando pertences dos moradores expulsos. A dupla teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Estadual.
Região Metropolitana de Fortaleza
O conflito entre facções e as expulsões de moradores se intensificaram nas cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), nos últimos meses.
Maranguape, considerada a cidade mais violenta do Brasil em 2024 - conforme a pesquisa do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 - teve o maior número de ocorrências de expulsões de moradores na RMF, segundo o relatório da Polícia Civil do Ceará.
Confira as cidades com mais expulsões na Grande Fortaleza:
- Maranguape - 19 ocorrências de expulsões de moradores;
- Maracanaú - 16 ocorrências de expulsões de moradores;
- Caucaia - 15 ocorrências de expulsões de moradores;
- Pacatuba - 2 ocorrências de expulsões de moradores.
Somente o bairro Novo Maranguape, localizado em Maranguape, teve 11 ocorrências de expulsões de moradores.
Apesar de apenas duas ocorrências serem registradas pela Polícia em Pacatuba, mais de 30 famílias foram afetadas pelas ordens de uma facção, na comunidade do Jacarezal, no fim de setembro deste ano.
A reportagem recebeu informações que integrantes da facção carioca Comando Vermelho (CV), que pretendem tomar o domínio do tráfico de drogas no Jacarezal, teriam ordenado que moradores saíssem de aproximadamente 30 imóveis. A região era ocupada por membros da facção cearense Guardiões do Estado (GDE).
Três homicídios ocorridos na região, na mesma época, também poderiam estar ligados ao conflito entre as organizações criminosas. Os crimes são investigados pela Polícia Civil.
Ocorrências no Interior do Estado
O relatório da Inteligência da Polícia Civil também aponta que a cidade de Sobral, na Região Norte do Ceará, concentra o maior número de ocorrências de expulsões de moradores no Interior do Estado, em 1 ano e 9 meses: 7 casos.
As ocorrências foram registradas nos bairros Centro (3), Sumaré (2), Caiçara (1) e Santa Casa (1).
Após Sobral no ranking, está a cidade de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, com duas ocorrências de expulsões de moradores.
O Município de Morada Nova também foi afetado pela "guerra" entre facções criminosas. No Distrito de Uiraponga, houve um "abandono em massa de famílias inteiras, obrigadas a deixar suas casas após receberem ameaças de morte caso permanecessem", segundo o relatório policial.
A Polícia cearense trata as expulsões de moradores de casas, por facções, com o nome de "deslocamentos forçados".
"Essas facções vêm expandindo sua tentativa de controle sobre áreas urbanas e periféricas com intuito de controlar o tráfico de drogas na região, explorar serviços clandestinos, extorquir moradores e comerciantes e recrutar jovens", resumiu o Departamento de Repressão ao Crime Organizado, no documento.
(Diário do Nordeste)



