
A Justiça determinou o leilão do carro de André Barbosa do Amaral, o `Del`, acusado de ser chefe da facção Comando Vermelho (CV) no bairro Edson Queiroz, em Fortaleza. O veículo foi apreendido pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) no dia 4 de novembro de 2020.
André foi condenado por participação na morte de Wires Henrique Castro de Andrade, o `General`. O caso ocorreu em 1º de setembro de 2020, também no bairro Edson Queiroz.
O veículo, uma Hilux branca blindada, está, atualmente, no pátio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Conforme documentos obtidos pela reportagem, a permanência do carro na DHPP não é mais importante para a investigação policial.
A decisão judicial de mandar o veículo para leilão se deu devido à possibilidade de deterioração e desvalorização do bem e do alto valor que a manutenção do carro custa para o Estado. O leilão deve ocorrer no dia 9 de dezembro deste ano.
Alienação antecipada
A Polícia Civil solicitou a alienação antecipada do veículo, que estava apreendido no pátio de um depósito da PCCE. O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) concordou com o pedido e a Justiça determinou o leilão do veículo.
A 'alienação' é o ato de transferência de um bem móvel ou imóvel a terceiros por meio de venda, doação, transferência de domínio ou cessão de bens. A antecipação é quando isso ocorre antes do fim do processo judicial, caso o bem corra risco de se deterioriar ou caso a manutenção esteja custando muito caro ao Estado.
O valor obtido com a venda do bem é destinado, necessariamente, a um fundo ligado ao estado até o resultado do processo. Se o acusado for condenado, o dinheiro é convertido em renda para a União, os estados ou o Distrito Federal e usado em ações em prol da população. O dinheiro não fica com a polícia. Se o dono do bem for absolvido pela Justiça, o valor da venda volta para ele.
Valor
De início, houve uma confusão relacionada ao valor da caminhonete. Uma oficiala de Justiça avaliou a Hilux como sucata e disse que o veículo só valia R$ 8 mil. Já o leiloeiro avaliou o carro em R$ 38 mil. Após um pedido do MPCE para que fosse realizada uma nova avaliação pela Justiça, estimou-se o valor em R$ 36 mil. No fim das contas, a o lance inicial no leilão da Hilux será de R$ 37 mil.
Homicídio
Por volta das nove e meia da noite de 1º de setembro de 2020, Wires Henrique Castro de Andrade foi vítima de homicídio provocado por disparos de arma de fogo na Travessa Presidente Artur Bernardes Beco, no bairro Edson Queiroz. Henrique tinha 18 anos e era integrante da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE). A morte dele aconteceu durante um confronto entre as facções Comando Vermelho e GDE. Na ocasião, integrantes do CV invadiram a área do GDE.
Quatro dias antes de ser assassinado, em 28 de agosto de 2020, o jovem foi responsável pela morte de Valério Lima da Silva, ligado ao CV. A suspeita de Henrique era de que Valério fornecia informações sobre o GDE para criminosos do CV.
A morte de Wires Henrique foi considerada pela polícia como uma busca por vingança, já que uma testemunha, que preferiu não se identificar, disse ter ouvido e visto pessoas que ela conhecia e que eram ligadas ao CV praticando a violência. As pessoas que ela contou ter reconhecido foram Adilson Loiola de Souza e Thiago Ribeiro dos Santos.
Ainda durante o interrogatório, essa mesma testemunha afirmou que André Barbosa do Amaral é o líder do CV no bairro Edson Queiroz, em Fortaleza. André seria responsável por fornecer as armas, os carros e os meios necessários para os assassinatos na região. Abaixo dele, estaria Humberto Alves da Cruz, conhecido como "Bichinho". A testemunha identificou corretamente as fotos das pessoas citadas no interrogatório.
Também prestaram depoimento a ex-sogra de Wires Henrique, Juliana Barbosa de Souza, e a filha dela e ex-namorada de Henrique, Monike Barbosa da Silva. Juliana ajudou no socorro do jovem quando ele chegou ao hospital. Conforme o depoimento de Juliana, Henrique estava com outras 4 pessoas, aparentemente alcoolizadas, mas ela não conseguiu identificar quem eram. Também foram ouvidos policiais civis.
Segundo os registros da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS), o crime foi cometido por "moradores dos apartamentos do Dendê", tendo sido efetuados por volta de 20 disparos durante um tiroteio no local entre as facções Comando Vermelho e GDE, com participação de cerca de 12 pessoas. Conforme os documentos obtidos pela reportagem, Wires estava no meio do confronto e a morte dele foi intencional, já que foram efetuados múltiplos disparos contra o jovem.
André Barbosa do Amaral foi condenado por homicídio qualificado. Com ele, foram apreendidos 9 bens além da Hilux, entre aparelhos celulares, armas, munições e dinheiro. Uma das armas que estava sob posse de André tinha compatibilidade com a que foi utilizada para matar Henrique. Também foi cumprido um mandado de prisão contra Adilson Loiola de Souza pelos crimes de organização criminosa, posse irregular de arma de fogo, receptação e homicídio.
Defesa
A defesa de André Barbosa do Amaral disse não haver provas suficientes para a condenação, já que as testemunhas não o viram na cena do crime. Além disso, os advogados afirmaram que a identificação dos acusados por meio de fotografias não pode provar autoria de crime. As demais defesas não foram localizadas pela reportagem.
DN


