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O grupo criminoso enfrentou os rivais da facção cearense Guardiões do
Estado (GDE), que até então controlavam a região do porto. Segundo a
Polícia Civil, o CV já domina o entorno do Porto do Pecém, o maior do
Ceará, e busca controlar o do Mucuripe vislumbrando a expansão dos
“negócios ilícitos”.
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O Ceará tem dois grandes portos: o Porto do Pecém, localizado em São
Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, concentra
quase 80% da movimentação portuária do estado; e o Porto do Mucuripe,
localizado em Fortaleza, concentra cerca de 20%
O relatório destaca a localização estratégica dos portos cearenses com a
Europa e os Estados Unidos, tornando o estado um “hub” logístico para o
tráfico internacional de drogas. O Primeiro Comando da Capital (PCC) já
utilizava a posição do Ceará para o tráfico internacional de
entorpecentes, inclusive com o apoio de mafiosos da Sérvia.
Nos últimos anos, a Polícia Federal investigou uma quadrilha com
atuação nacional descoberta após uma apreensão de drogas no Porto do
Pecém, com um esquema montado a partir da Bolívia e atuação em diversos
portos do Brasil.
Porto do Mucuripe, em Fortaleza, é o segundo mais importante do Ceará — Foto: Igor Machado/Companhia Docas do Ceará
Para organizações criminosas como o CV e o PCC, portanto, o controle do
entorno do segundo maior porto do Ceará, como sugere o relatório da
Polícia Civil, é considerado estratégico para facilitar o tráfico
internacional de drogas. Entenda:
Confronto de olho nos portos
Guarda Municipal de Fortaleza em frente a escola que reabriu após
confrontos entre facções na região do Grande Vicente Pizón
Já a partir de 2010, o Comando Vermelho e o Primeiro Comando Capital
(PCC) tinham presença no Ceará, mas sem grandes enfrentamentos. O
cenário mudou com o surgimento de uma facção local, a GDE, que recebeu
apoio do PCC para rivalizar com o CV, levando a uma explosão da
violência entre 2017 e 2018.
Nos últimos anos, quando o confronto pareceu amainar, o CV era
considerado dominante no distrito de Pecém, próximo ao Porto do Pecém,
enquanto a GDE (aliada do PCC) controlava o entorno do Porto do
Mucuripe.
Com a guerra travada contra a GDE entre agosto e setembro de 2025 em
Fortaleza, o CV tentou controlar o entorno do bairro Vicente Pinzón, que
dá acesso ao Porto do Mucuripe. A movimentação dos criminosos foi descrita por um relatório do Núcleo de Inteligência da Polícia Civil ao qual o g1 teve acesso:
“O
Comando Vermelho (CV) já domina a região do Porto do Pecém, em São
Gonçalo do Amarante/CE [o maior do Ceará], e agora quer dominar a área
em que está inserido o Porto do Mucuripe, no grande Vicente Pinzón, em
Fortaleza/CE, vislumbrando não só a expansão dos “negócios” ilícitos dos
integrantes da ORCRIM [organizações criminosas] no Estado, mas também a
nível nacional, devido a localização estratégica dos portos cearenses
com a Europa e os Estados Unidos”, alertou o documento.
Com a perda de territórios da GDE em setembro e absorção do grupo pela facção Terceiro Comando Puro (TCP), não está claro como ficou o balanço de forças no bairro disputado.
O g1 procurou
a Secretaria de Segurança Pública do Ceará para comentar a situação e o
relatório policial, mas até o momento não obteve resposta da pasta.
Apreensão em porto revelou quadrilha com atuação nacional
Conforme a investigação da Polícia Federal, o contêiner em questão
chegou ao porto no dia 13 de agosto, passou por um scanner e estava
limpo. Ele foi colocado em cima de outros contêineres e ficou parado no
terminal aguardando o embarque para a Europa.
Na noite do mesmo dia, porém, o contêiner foi içado pelo operador do
guindaste, e colocado no chão. Ao mesmo tempo, dois homens em um
caminhão de uma empresa transportadora, com acesso ao porto, se
aproximaram da estrutura, abriram-na e puseram lá dentro dez sacos com
329 quilos de cocaína ao todo.
A droga foi descoberta na manhã do dia seguinte, 14 de agosto pela
Receita Federal. Os pacotes foram avaliados em R$ 49 milhões. A
apreensão deu origem a uma investigação que revelou uma organização
criminosa com atuação em vários estados, especializada no tráfico
internacional de cocaína.
Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, é o maior do Ceará
O grupo era comandado pelo casal do Mato Grosso do Sul Marcelo Mendes Ferreira, o “Patrão”, e Karine de Oliveira Campos, a “Patroa”. Eles fundaram o esquema a partir da Bolívia, e no Brasil ele era gerenciado por Antônio Amâncio da Silva, o “Baixinho”.
Conforme documento da Polícia Federal ao qual o g1 teve acesso, a quadrilha é descrita como “estável,
razoavelmente dividida em células, com definição de atribuições e
hierarquia e com utilização de engenharia societária e financeira para
financiamento e operacionalização do tráfico de cocaína, bem como para o
branqueamento e distribuição dos lucros”.
Além do Ceará, a quadrilha atua, pelo menos, em São Paulo, Paraíba, Rio
de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e
Amapá, e também no exterior.
Em 2024, a Polícia Federal deflagrou a Operação Néctar, prendendo 15
pessoas, entre elas Amâncio, o “Baixinho”. Ao longo dos anos de
investigação, a polícia conseguiu apreender mais de 7 toneladas de
drogas que o grupo movimentou pelo Brasil.
g1