As investigações policiais sobre um duplo homicídio, que vitimou uma idosa e a irmã, em Fortaleza, apontam que elas foram mortas a mando da facção carioca Comando Vermelho (CV), em razão das vítimas colaborarem com a Polícia na investigação do assassinato de um familiar delas.
Francisca de Fátima Machado de Sousa, de 65 anos, e Antonieta Machado de Sousa, 56, foram executadas a tiros, na Avenida Presidente Castelo Branco, no bairro Pirambu, na manhã de 4 de setembro deste ano.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou quatro suspeitos por participação no duplo homicídio e por integrar organização criminosa. A Justiça Estadual recebeu a denúncia, e os acusados viraram réus.
Confira quem são os acusados:
- Davi Lucas da Silva;
- Gabriel Lima dos Santos;
- Francisco Teixeira Parente;
- Vanderson da Silva Neves.
As defesas dos acusados não foram localizadas pela reportagem para comentar a denúncia do Ministério Público. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Um dos acusados, Gabriel Lima dos Santos, de 21 anos, foi preso no Pirambu, pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), na última quarta-feira (3).
Executores do duplo homicídio
Conforme a denúncia do MPCE, Gabriel foi um dos executores das mortes das irmãs Fátima e Antonieta. Ele já tinha antecedentes criminais por homicídio, integrar organização criminosa e corrupção de menores, segundo a Polícia Civil.
Em conversas obtidas pela Polícia, com autorização da Justiça, Gabriel disse a Davi Lucas da Silva, pouco antes do duplo homicídio, que "vai ser sal" (o que significa que "vai dar certo).
"Ei, é mesmo essas duas bixa pirangueira é? Bé isso, matar elas mais rápido mah, pra voltar pro corre, matar elas eu volto pro corre, só tá empatando mesmo essas bixa ai", disse Gabriel dos Santos, segundo o MPCE.
Davi Lucas, 20, já tinha sido preso em flagrante, poucas horas depois do crime. As investigações policiais apontam que ele também foi um dos executores do crime, mesmo sendo monitorado pelo Sistema de Justiça do Estado por uma tornozeleira eletrônica.
Gabriel, Davi e um adolescente teriam sido arregimentados para cometer o crime por Vanderson da Silva Neves, conhecido como 'B2' - que está foragido.
Foi Vanderson, conforme o Ministério Público, que avisou aos executores sobre a localização das vítimas.
"Dá atenção viado, tava as duas aqui agora, as duas, aí uma fechou a porta e a outra foi bem comprar o pão, porque acordaram agora, ja á elas voltam, vão ficar na mesma casa, aí eu ligo pra tu aí mah, pra tu acionar os pivete", disse 'B2' a Davi.
Já o adolescente apontado como partícipe do crime morreu em uma intervenção da Polícia Militar do Ceará (PMCE), no dia 6 de outubro deste ano.
Fátima e Antonieta estavam na calçada de uma farmácia, quando foram surpreendidas por quatro criminosos, que atiraram contra elas. A idosa de 65 anos foi alvejada com 9 tiros, e a irmã, com 8. Elas morreram no local.
Mandante morto no Rio de Janeiro
O acusado apontado como mandante do duplo homicídio é uma liderança da facção Comando Vermelho, Francisco Teixeira Parente, conhecido como 'Mongol'.
Apesar da denúncia do MPCE, 'Mongol' foi identificado como um dos suspeitos mortos na megaoperação da Polícia do Rio de Janeiro, contra o CV, nos complexos do Alemão e da Penha, ocorrida em outubro deste ano.
Ele estava escondido naquele Estado, com mandado de prisão em aberto no Ceará. De lá, dava ordens para o cometimento de crimes na região do Grande Pirambu, em Fortaleza.
Conforme as investigações, os assassinatos foram motivados pela informação de que Francisca Fátima e Antonieta Machado de Sousa estariam colaborando com a Polícia Civil na investigação do homicídio que vitimou Antônio Carlos Machado de Sousa, ocorrido no dia 18 de agosto de 2025.
Antônio Carlos era filho de Fátima e sobrinho de Antonieta. "Vai morrer todas duas, meu fi. Tá pensando o quê, elas? Pensando que ia ficar assim, elas, é?", disse 'Mongol' a Davi, segundo a denúncia do MPCE.
"Dei mesmo só um tempo, mesmo, só pra acalmar a morte do safado lá, pra depois nós pegar elas, se ligou? Agora é a vez delas", teria completado Francisco Teixeira.
O Ministério Público concluiu que, "dentro deste contexto, Francisco Teixeira Parente assume a condição de superior hierárquico dos demais, como sendo o responsável em determinar mortes, assim como indicar quais agentes cumprirão as suas ordens. Ao final das ações, os subordinados se reportam a este para confirmar o êxito".
(Diário do Nordeste)