Dois homens foram assassinados a tiros em um bar localizado no bairro Parque das Nações, no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A ação criminosa aconteceu na madrugada deste sábado, 6.
As
vítimas, não identificadas formalmente, estavam no estabelecimento
quando foram surpreendidas pelos disparos. Eles morreram no local do
crime. Equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e Perícia Forense
(Pefoce) colheram indícios para auxiliar na investigação do caso.
A
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que o
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi acionado e
também realizou diligências no local.
Ainda segundo o órgão, o
duplo homicídio é investigado pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE), por
meio da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Caucaia, que busca elucidar as
informações acerca do crime. Nenhum suspeito foi preso.
Lá, cerca de 200 fábricas de combustíveis fósseis e petroquímicas se aglomeram às margens do poderoso rio Mississippi. A região responde por cerca de um quarto da produção petroquímica dos EUA, que abastece a demanda por químicos, fertilizantes e plásticos. Por décadas, estas instalações liberaram diversos poluentes tóxicos no solo, na água e no ar ao redor.
As comunidades locais também sentem que estão pagando um preço alto pelas montanhas de plástico que o mundo produz — volume que deve dobrar ou até triplicar nos próximos 25 anos. Os EUA estão entre os vários países, incluindo China, África do Sul, Brasil, Irã e Arábia Saudita, que expandem sua capacidade petroquímica.
"Eu descreveria isso como uma zona de sacrifício", disse a ativista Lavigne, citando o termo que se refere a áreas geográficas permanentemente prejudicadas por pesadas alterações ambientais. "Nós viramos o cordeiro sacrificial para que o resto do mundo tenha plásticos descartáveis."
Risco ainda subestimado
O Corredor do Câncer ganhou o apelido sombrio por colocar seus moradores sob uma das maiores taxas de risco de câncer nos Estados Unidos. "Há tantas casas em cada rua afetadas pelo câncer", diz Lavigne. Às vezes é uma casa sim, outra não, ela explica — ou até várias casas seguidas onde ao menos um ou dois membros da família adoeceram.
A ativista e sua mãe decidiram agir quando foi anunciada uma nova fábrica de plásticos a poucos quilômetros da casa da família, com investimento de 9,4 bilhões de dólares (R$ 50 bilhões). Por meio de uma organização, elas têm liderado a resistência local contra a poluição industrial.
No Corredor do Câncer, em Louisiana, a indústria petroquímica está por toda parte e gera múltiplos riscos à saúde — Foto: Tiago Lopes Fernandez/Depositphotos/IMAGO
Há cada vez mais evidências de que a população corre risco. Por décadas, a área esteve entre os 5% com maior probabilidade de desenvolver câncer no país. Perto de uma das instalações do Corredor do Câncer, o risco foi estimado em 50 vezes maior do que a média nacional por um relatório especializado.
Pesquisas recentes da Universidade Johns Hopkins sugerem ainda que os riscos foram amplamente subestimados, e a ameaça total de câncer pode ser até 11 vezes maior que as estimativas do governo.
Doenças respiratórias e infertilidade
Há outros perigos à saúde. O Inventário de Liberação Tóxica dos EUA mostra que uma variedade de poluentes nocivos é liberada no ar, na água e no solo no Corredor do Câncer. Eles são associados a problemas respiratórios, reprodutivos, defeitos congênitos e doenças autoimunes.
Na casa de Lavigne, a realidade não é diferente. Ela mesma enfrentou infertilidade e um aborto espontâneo antes de ter a filha, que cresce com sangramentos frequentes no nariz, reações alérgicas e infecções sinusais que às vezes a impedem de ir à escola.
Sua filha de 10 anos limita o tempo ao ar livre para não adoecer. "É realmente de partir o coração", diz a mãe.
O Departamento de Qualidade Ambiental da Louisiana, no entanto, nega que os moradores da área enfrentem cargas desproporcionais de poluição e impactos à saúde.
Racismo ambiental
Apesar de ter crescido no Corredor do Câncer, Joy Banner só entendeu na vida adulta que o problema da poluição "tinha o racismo no centro."
Ao lado de sua irmã gêmea, ela criou o Projeto Os Descendentes (The Descendents Project, em inglês) em 2021, para conscientizar sobre como o Corredor do Câncer se entrelaça com o legado da escravidão. "A poluição industrial e a proliferação que nos cercam hoje começaram há centenas de anos", diz Banner.
Antes de as empresas petroquímicas e de combustíveis fósseis chegarem nos anos 1960, a escravidão alimentava as prósperas plantations de açúcar nesta parte de Louisiana. E até hoje a maioria dos habitantes da área são negros.
As irmãs argumentam que moradores negros, muitos descendentes de pessoas forçadas a trabalhar nestas plantations, são hoje desproporcionalmente afetados pelas empresas petroquímicas do Corredor do Câncer.
A Organização das Nações Unidas (ONU) já classificou o que acontece ali como um caso de racismo ambiental. Vários estudos apontam que moradores negros enfrentam níveis significativamente maiores de exposição à poluição. Onde Lavigne cresceu, a maioria das fábricas construídas desde 1958 está em bairros majoritariamente negros.
Regulamentação frágil
Embora os EUA tenham regulamentações para a poluição, Banner acredita que o Corredor do Câncer chegou ao ponto atual porque as autoridades preferiram fechar os olhos.
"Quando você está ao lado do rio Mississippi e tem um governo que não olha, fica extremamente fácil vir até aqui e poluir", diz Banner.
As empresas precisam reportar emissões à Agência de Proteção Ambiental, mas as exigências não abrangem todos os poluentes. Além disso, dados autodeclarados costumam subestimar a realidade.
Ativistas criticam que empresas que excedem limites normalmente enfrentam pouco mais que multas. Tampouco são obrigadas a instalar monitores de poluição.
Pesquisadores da Universidade John Hopkins afirmam que há apenas um ou dois monitores em um trecho densamente industrializado de Corredor do Câncer, insuficientes para revelar o que as pessoas realmente respiram.
Resistência local
A região se tornou um ponto de resistência à expansão petroquímica. Apesar das chances desiguais, as comunidades têm conquistado algumas vitórias.
Nos últimos anos, a organização de Lavigne atua em conselhos locais e na comunidade, além de pressionar bancos a retirarem seus investimentos na nova fábrica de plásticos e ter iniciado um processo na Justiça.
"Estamos combatendo-os desde 2018. Impedimos que entrassem na nossa área e seguimos lutando para mantê-los fora", ela diz. "Não querer ver minha comunidade morrer prematuramente é uma das coisas que mais me motivam."
Grupos locais conseguiram barrar vários projetos importantes. Mas as irmãs Banner insistem que mais pessoas precisam ainda reconhecer que ninguém deveria sacrificar sua saúde por um emprego, enquanto a indústria petroquímica já não gera a riqueza que gerava antes.
Alguns ativistas temem que as batalhas mais difíceis ainda estejam por vir, já que o governo do presidente Donald Trump promete expandir a produção de combustíveis fósseis e reverter proteções ambientais.
Adolescente de 16 anos é assassinada a tiros à margem de rodovia em
Senador Pompeu, no interior do Ceará — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução
Uma adolescente de 16 anos foi morta a tiros na tarde desta quinta-feira (4) em uma rodovia de Senador Pompeu,
no interior do Ceará. A vítima, Isabella Marques Alves da Silva, era
estudante do curso de enfermagem da Escola Profissional da cidade.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Civil investiga o caso. O g1 apurou que testemunhas relataram aos policiais que um homem chegou ao local em uma motocicleta, abordou a jovem, ordenou que ela se ajoelhasse e efetuou vários disparos de arma de fogo. Em seguida, o suspeito fugiu em direção a Quixeramobim.
Homem é assassinado a tiro enquanto passeava com criança; imagem é forte
Um homem de 33 anos foi assassinado a tiros na tarde deste sábado (6) no bairro Novo Maranguape
II, em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. O crime,
registrado por câmeras de segurança, aconteceu em via pública enquanto a
vítima estava acompanhada por uma criança.
As imagens mostram o momento em que a vítima parou na rua para
conversar com um amigo. Nesse instante, um homem em uma motocicleta
passou pelo local e efetuou vários disparos de arma de fogo contra ele.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a vítima foi
socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade
hospitalar. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio doloso.
Vítima tinha antecedentes
Conforme a Secretaria da Segurança, a vítima já possuía antecedentes
criminais por posse irregular de arma de fogo e homicídio.
Equipes da Polícia Militar, da Perícia Forense e do Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) estiveram no local para colher
informações que serão usadas na apuração. O caso é investigado pela
Delegacia de Polícia Civil de Maranguape.
Um acidente de trânsito envolvendo uma van onde estavam uma
professora e alunos, no Rio Grande do Sul, terminou em uma tragédia. A educadora morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória e alunos ficaram feridos.
O acidente foi registrado no fim da noite dessa sexta-feira (5), conforme o G1. A van que transportava os alunos bateu na traseira de um caminhão na BR-386, em Soledade.
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Pelo menos 14 pessoas ficaram feridas. Dentre elas, cinco adolescentes e outros dois professores tiveram ferimentos graves e foram socorridas ao hospital da região.
Outros seis estudantes e o motorista da van sofreram escoriações. O condutor do caminhão não ficou ferido.
A professora que não resistiu aos ferimentos chegou a ser reanimada e
hospitalizada, conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O nome dela
não foi divulgado.
VÍTIMAS VINHAM DE UM PARQUE
As vítimas retornavam de uma excursão em um parque aquático. De
acordo com a Polícia, a carreta teve uma pane mecânica e ficou parada na
pista.
A via rodoviária chegou a ficar bloqueada por quase duas horas. O fluxo foi normalizado por volta das 5h já neste sábado (6).
Duas mulheres foram atropeladas na madrugada deste sábado (6), na cidade de Várzea Alegre,
na região do Cariri cearense, após o motorista perder o controle do
veículo na BR-230. Depois de atropelar as vítimas, o carro desgovernado
invadiu duas casas que ficam às margens da rodovia, no bairro Alto do
Tenente. Não houve feridos na casas invadidas.
Conforme relatório policial ao qual a TV Verdes Mares teve acesso, o
motorista fugiu e ainda não foi localizado após a realização de rondas
na região.
Maria Eduarda, de 22 anos, e Tamira Pinho, de 26 anos, morreram após atropelamento em Várzea Alegre — Foto: Reprodução
As duas mulheres atropeladas foram identificadas como Maria Eduarda
Neco, de 23 anos, e Tamira Pinho Lima, de 25 anos. As vítimas eram
moradoras de Várzea Alegre e estavam caminhando pela avenida com uma
terceira pessoa quando foram atingidas.
Tamira era funcionária de uma loja de café e conveniências situada nas proximidades do local do acidente.
O prefeito de Várzea Alegre, Flavinho (MDB), publicou nota de pesar pelo caso na manhã deste sábado (6).
"Registramos
com tristeza o falecimento das jovens Tamira Pinho e Maria Eduarda,
vítimas de um acidente de trânsito ocorrido em nossa cidade. Neste
momento difícil, expressamos nossa solidariedade às famílias e amigos,
desejando serenidade e apoio para enfrentarem a perda", diz a nota.
A terceira pessoa não teve ferimentos e relatou à polícia que o carro
estava em alta velocidade. Eduarda e Tamira morreram no local e tiveram o
óbito atestado por uma equipe do SAMU, que compareceu à ocorrência. Os
corpos foram encaminhados à Perícia Forense na cidade de Iguatu.
Ainda de acordo com o relatório da Polícia Militar, o veículo Fiat
Strada ficou preso nos escombros após a invasão da residência. Uma
perícia técnica compareceu ao local.
Segundo informações da Secretaria da Segurança Pública, informações da
Perícia Forense e da Polícia Militar irão basear a investigação a cargo
da Delegacia de Polícia Civil de Várzea Alegre, que busca identificar o
motorista envolvido no caso.
Uma blitz de trânsito em Fortaleza
na madrugada desta sexta-feira (5) flagrou uma situação inusitada: um
jovem desacordado dentro do bagageiro de um carro. O caso, registrado em
vídeo por um dos ocupantes do veículo, viralizou nas redes sociais.
A abordagem foi realizada pela Autarquia Municipal de Trânsito e
Cidadania (AMC) no viaduto da Humberto Monte, próximo à Universidade
Federal do Ceará (UFC). Ao ser abordado, o grupo de amigos que estava no carro abriu o porta-malas e revelou o colega dormindo.
As imagens gravadas mostram o momento em que um dos amigos alerta um
agente: "Tem que tirar o do porta-malas aqui. Tem um cara aqui". Em
seguida, ele se dirige ao homem que estava no compartimento: "Ei,
Eduardo. Nós caímos numa blitz. Acorda". No vídeo, porém, o rapaz
identificado como Eduardo segue dormindo.
De acordo com o relato, os jovens que estavam no interior do veículo
foram submetidos ao teste do bafômetro para atestar se haviam consumido
bebida alcoólica.
O g1
questionou a AMC sobre a abordagem e os procedimentos adotados com o
grupo, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Conduzir um passageiro no porta-malas do veículo põe a pessoa em
risco e é uma infração gravíssima, conforme o artigo 235 do Código de
Trânsito Brasileiro (CTB). Em caso de flagrante, há pena de multa e
retenção do veículo.
Conforme o artigo, é proibido conduzir pessoas, animais ou carga nas
partes externas de um veículo, salvo nos casos devidamente autorizados.
Grupo leva colega dormindo no porta-mala de veículo e para em blitz em Fortaleza
O governador do Ceará, Elmano de Freitas, anunciou neste sábado (6) a
antecipação do pagamento da folha salarial de dezembro. A segunda
parcela do 13º salário será creditada no dia 20 de dezembro. Já o
salário de dezembro será depositado no dia 30 deste mês.
A informação foi dada pelo governador em publicação em suas redes sociais.
"Informo
aos 180 mil servidores e servidoras do Estado que a segunda parcela do
13º salário estará na conta dia 20/12. Além disso, vamos antecipar o
pagamento da folha salarial de dezembro para dia 30 deste mês,
reforçando nosso compromisso com o funcionalismo público estadual",
afirmou Elmano de Freitas no comunicado.
Segundo o governador, a combinação dos pagamentos das folhas de
novembro e dezembro com a parcela do 13º salário representará uma
injeção de cerca de R$ 2,7 bilhões na economia cearense somente em dezembro.
"Com isso, contando as folhas de novembro e dezembro, e a parcela do
13º, estamos injetando cerca de R$ 2,7 bilhões na economia do Ceará
somente neste último mês do ano. É mais dinheiro circulando e ajudando a
criar oportunidades aos cearenses", completou.
A Justiça do Ceará converteu em preventiva a prisão em flagrante do policial militar Joaquim Gomes de Melo Filho, acusado de matar a própria companheira, também policial militar, a tiros. A decisão foi proferida na tarde desta sexta-feira, 5, em Maracanaú.
O crime de feminicídio ocorreu na última quarta-feira, 3, no município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Na decisão, a juíza Ana Celia Pinho Carneiro negou o pedido da defesa
para que o militar respondesse em liberdade e acatou o parecer do
Ministério Público. A magistrada justificou a manutenção da prisão
citando a "gravidade concreta da conduta" e a necessidade de garantir a
ordem pública e a instrução criminal.
"Depreende-se dos autos o
perigo do estado de liberdade do autuado (...) que agiu com violência
letal contra sua companheira, mesmo sendo agente da lei, demonstrando
descontrole e potencial para novas agressões", apontou a juíza.
A
decisão também ressaltou que, por ser integrante da corporação militar, a
liberdade de Joaquim poderia oferecer risco às investigações, com
possibilidade de "influenciar testemunhas ou obstruir a coleta de
provas".
Segundo os autos do processo, a Polícia Militar foi
acionada para uma ocorrência na avenida Santa Cecília, no Eusébio, onde o
casal teria sido baleado. O soldado Joaquim dirigiu o próprio carro até
a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município.
Ao chegarem à unidade de saúde, os policiais encontraram o carro do
suspeito. Joaquim apresentava uma perfuração de bala na coxa. A
companheira dele, no entanto, já havia falecido.
Dentro do veículo
do casal, a perícia encontrou duas armas de fogo, sendo uma sobre o
banco do passageiro e outra atrás do banco do motorista.
Soldado alega que agiu em legitima defesa
Em
interrogatório, Joaquim Gomes alegou que agiu em legítima defesa. Ele
afirmou que estava no carro com a companheira quando, durante uma
discussão, ela teria sacado a arma para atingi-lo. O soldado disse que
reagiu sacando sua própria arma e disparando contra ela.
A juíza determinou ainda que o processo tramite em segredo de justiça e declinou a competência para a Vara Criminal da Comarca de Eusébio, onde o caso será julgado pelo Tribunal do Júri.
O policial deve ser transferido para o Presídio Militar, onde permanecerá à disposição da Justiça.
“Os últimos dias foram muito angustiantes. O
nível de ansiedade das pessoas na fábrica era muito grande, por conta da
incerteza que se tinha”. A afirmação é de um técnico eletricista da
planta da fábrica da Heineken, em Pacatuba, que encerrou as atividades nessa terça-feira (2). Ele conversou com a reportagem do Diário do Nordeste, mas solicitou para não ser identificado por medo de represálias.
O trabalhador tinha 15 anos de empresa, tendo sido desligado juntamente com 97 colegas, contratados diretos do grupo cervejeiro. Além deles, é estimado que cerca de 250 trabalhadores terceirizados também perderam seus empregos. Ao todo, teriam sido demitidos cerca de 350 pessoas.
O número de empregos diretos foi confirmado pelo Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias de Águas Minerais, Cervejas e Bebidas em
Geral do Estado do Ceará (Sindibebidas).
“Ao todo, 98 trabalhadores serão atingidos. O sindicato já realizou a
negociação de benefícios para esses empregados. A empresa também
apresentará propostas de transferência para Pernambuco e São Paulo”, diz
Fernando Matos, representante do sindicato.
A Heineken não informou à reportagem quantos trabalhadores diretos e
terceirizados mantinha na fábrica do Ceará. A Prefeitura de Pacatuba
afirmou que não tem o número oficial. Além disso, a empresa não deu mais
detalhes sobre o processo de demissão dos trabalhadores.
Matos lembra que na última reforma das leis trabalhistas a
homologação de rescisão não é mais obrigatória. “Os trabalhadores vão
ter essa oportunidade de transferência e, por terem uma boa
qualificação, é bem provável que o mercado absorva todos, rapidamente”,
completa Matos.
Desmobilização silenciosa
O sinal de alerta para os colaboradores soou com o fim da linha de
garrafas em julho deste ano. Com o encerramento, na planta de Pacatuba
só funcionava a linha de latas.
Antes do fim da linha de garrafas, o Grupo Heineken só engarrafava as
marcas Kaiser, Tiger, Skin, Amstel e Devassa em cascos de vidro de 600
ml e 300 ml.
“A gente estava na indecisão de saber como seria o futuro da fábrica.
Estávamos esperando que a linha (de garrafas) reabrisse, talvez em
setembro, mas isso não veio”, lembra o colaborador demitido.
Ele relata que em outubro foi iniciado o processo de “esvaziamento de
insumos”. “Não veio mais malte de cevada, para fabricar cerveja, outros
insumos foram cessando e alguns fornecedores foram deixando de fornecer
serviços”.
O técnico eletricista revela, ainda, que a “última pá de cal” na
produção ocorreu no mês passado, com o esvaziamento dos tanques. “Os
tanques começaram a ser esvaziados e, mesmo assim, a gente não
acreditava que a fábrica fosse de fato fechar”, comenta.
“Os esperançosos acreditavam que esvaziaria e recomeçaria.
Esperávamos até umas férias coletivas, mesmo que nunca tivessem feito
isso. Logicamente, já tinha colegas com convicção de que a fábrica
fecharia. Mas eu, particularmente, não queria acreditar”, reforça o
colaborador que se dedicou 15 anos à empresa.
O dia do encerramento das atividades
A Heineken comunicou o encerramento das atividades para os
colaboradores na última terça-feira (2). No dia anterior, os
trabalhadores ainda foram reunidos para um treinamento e dinâmica em
grupo, conforme relato do colaborador demitido.
“Quando entramos na planta, já tinha muita gente de fora, gente do RH
de fora, gente de outras unidades fabris. Aí, veio o comunicado do
gerente que a cervejaria de Pacatuba estava encerrando as operações”,
conta.
Depois disso, uma parte dos trabalhadores já teria sido encaminhada
para fazer os exames demissionais, na fábrica mesmo, e a outra parte, em
menor quantidade, foi separada para fazer o descomissionamento
(conjunto de atividades associadas à interrupção definitiva das
operações de um sistema de produção).
“Eles farão a desmobilização da fábrica em si, que vai desde o
maquinário até outras coisas, como gás, produtos químicos que continuam
na fábrica, e serão transferidos para outras unidades. Além da
destinação de produtos acabados que ainda existem na fábrica, no caso,
cerveja enlatada”, explica o demitido.
Ele ainda recorda que estão sendo oferecidas cartas de recomendação
aos colaboradores e a extensão do plano de saúde, para aqueles que
necessitam.
Questionada sobre o suporte oferecido aos colaboradores, a Heineken,
por meio da sua assessoria de comunicação, afirma que "além dos esforços
de realocação interna, que permitiram preservar 25 postos de trabalho
ao direcionar colaboradores para outras operações, estruturamos um
pacote de suporte ampliado para os profissionais desligados". Porém, o
pacote não foi especificado.
“Eu amava trabalhar nessa fábrica. Morava ali perto, vou deixar
amigos e sonhos que plantei. É uma tristeza para a cidade. No dia,
quando a ficha caiu que tudo tinha acabado, minha pressão até subiu”,
relata o ex-funcionário com tristeza.
Planta de Pacatuba estaria defasada
Ainda conforme o ex-colaborador, no dia do anúncio, a Heineken
informou que a ação faz parte da “estratégia da companhia”. Teriam ainda
citado sobre a recente modernização da planta em Igarassu (Pernambuco),
com investimento de R$ 1,2 bilhão.
Em Minas Gerais, o grupo também inaugurou, em novembro deste ano, a
primeira planta construída do zero em território brasileiro. O local,
que teve investimento de R$ 2,5 bilhões, é a primeira cervejaria
inaugurada globalmente pelo Grupo Heineken nos últimos cinco anos.
“Lá eles vão diversificar o portfólio. Além da Heineken, terão as
marcas premium. Talvez a Heineken zero álcool também, outras marcas de long neck (cerca
de 300ml). Então é uma produção mais diversificada e (a planta de)
Pacatuba estava um pouco atrasada nesse aspecto de modernização”, revela
ainda o ex-colaborador.
Município foi pego de surpresa
A Prefeitura de Pacatuba foi comunicada oficialmente do encerramento
das atividades produtivas da cervejaria também na terça-feira (2). No
ofício, a empresa diz que a decisão está “em linha com a estratégia de
transformação, eficiência operacional e crescimento sustentável”.
Legenda: Empresa se tornou planta da Heineken há 8 anos, com fusão com o grupo Brasil Kirin.
Foto: Paloma Vargas
O texto também cita os investimentos em Minas Gerais e Pernambuco
como reflexo da “visão de crescimento sustentável e eficiência
operacional”. “Dentro dessa visão de crescimento e eficiência, a unidade
de Pacatuba deixa de exercer um papel estratégico”.
O documento ainda afirma que a empresa reconhece “a contribuição de
cada colaborador”. “Estamos oferecendo suporte, seja por meio de
realocação profissional ou pacotes específicos, para que a transição
ocorra com todo o respeito e cuidado”.
A nota encerra com o Grupo Heineken agradecendo a parceria do
município ao longo dos anos e se colocando à disposição “para
esclarecimentos e para garantir que esta transição ocorra de forma
transparente, responsável e com toda atenção às pessoas”.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pacatuba, João
José Pinto, desde que ficou sabendo, o município tem buscado
alternativas para essa perda. “A prefeita, inclusive, já esteve reunida
com o governador Elmano para falar sobre isso. É uma grande perda para a
cidade”, diz.
Ele comenta também que a gestão municipal entende que essa é uma
decisão estratégica do Grupo Heineken, mas que precisa ser revertida
rapidamente, com a articulação de uma nova fábrica que assuma o espaço e
os postos de trabalho.
Arrecadação de impostos e incentivos
Questionada, a Prefeitura de Pacatuba não informou sobre o percentual
de arrecadação que a planta da cervejaria representava ao orçamento do
município e lembrou que “o quadro de funcionários não era em sua
totalidade de Pacatuba”. “Como se trata de uma multinacional, muitos
funcionários de outras cidades e estados eram designados à unidade”.
Ainda sobre incentivos, a reportagem demandou a Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a Secretaria da Fazenda do Ceará
(Sefaz). A primeira informou que a “unidade da Heineken em Pacatuba, na
Grande Fortaleza, não contava com incentivos fiscais da Sudene, de
acordo com a coordenação-geral de Incentivos e Benefícios Fiscais e
Financeiros”.
A Sefaz não retornou a demanda até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.
Força-tarefa para atração de novo investimento
A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) afirmou em
nota que não foi comunicada previamente sobre o encerramento das
atividades da Heineken no Ceará, mas “iniciará uma força-tarefa a fim de
atrair uma nova indústria para ocupar a área”.
Em reunião realizada na manhã desta sexta-feira (5) com o Governo do
Ceará, executivos da empresa teriam afirmado que a decisão não teve como
base “qualquer insatisfação com o Estado, mas exclusivamente as
mudanças no mercado de cervejas do Brasil e avaliação técnica
relacionada a investimentos”.
Por ser uma área de propriedade da Heineken, a Adece diz que, tanto a
Agência quanto a empresa devem fazer o trabalho de atração de nova
indústria para ocupar o local. A empresa, porém, afirma que estão sendo
estudadas "oportunidades para a utilização e ainda não há definição
sobre o futuro uso".
No encontro, ainda foi reforçado que o Grupo Heineken deve manter as
atividades de logística, centros de distribuição e presença comercial no
Ceará. Já em resposta à reportagem, a empresa destaca que "o Ceará
segue sendo um mercado consumidor importante no Nordeste e continuaremos
atuando para atender clientes, consumidores e parceiros locais".
Sobre a indústria de bebidas do Ceará, a Adece afirma registrar
crescimento em 2025, com mais de 7,6 mil pessoas empregadas atualmente.
Sindicatos não foram informados de descontinuação das atividades
A reportagem procurou o Sindicato das Indústrias de Águas Minerais,
Cervejas e Bebidas em Geral do Estado do Ceará (Sindbebidas-CE), mas foi
informada que o grupo não comunicou e não era associado à entidade
regional.
Já o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), por meio
de sua assessoria de imprensa, afirmou que não foi informado sobre o
assunto e esclarece que “não há obrigatoriedade ou protocolo que
determine a comunicação prévia ao sindicato nacional em decisões
estratégicas de operação tomadas individualmente pelas empresas”.