O juiz William Fabian, da 3ª Vara de Família de Goiânia, concedeu uma decisão liminar para que todas as
imagens do corpo do cantor Cristiano Araújo, que mostrem a preparação
antes do enterro, sejam retiradas das páginas do Google e Facebook. De
acordo com o magistrado, assim que as empresas forem notificadas, devem
seguir a determinação imediatamente. Em caso de descumprimento, a multa
diária é de R$ 10 mil.
“O que fizeram foi um desrespeito muito grande, é extremamente revoltante. Por isso, se as companhias não retirarem essas fotos e vídeos do ar, os responsáveis legais por cada uma poderão até ser presos, pois a manutenção e divulgação configura o crime de vilipendiar cadáver [desrespeito ao corpo]”, afirmou o juiz ao G1.
Em nota, o Google informou que "ainda não foi formalmente intimado, razão pela qual não pode se pronunciar". Já o Facebook ainda não enviou um parecer sobre o caso.
“O que fizeram foi um desrespeito muito grande, é extremamente revoltante. Por isso, se as companhias não retirarem essas fotos e vídeos do ar, os responsáveis legais por cada uma poderão até ser presos, pois a manutenção e divulgação configura o crime de vilipendiar cadáver [desrespeito ao corpo]”, afirmou o juiz ao G1.
Em nota, o Google informou que "ainda não foi formalmente intimado, razão pela qual não pode se pronunciar". Já o Facebook ainda não enviou um parecer sobre o caso.
Em uma das fotos divulgadas, o cantor aparece com hematomas no rosto e,
na outra, ele está com o terno que vestia quando foi sepultado. Já o
vídeo mostra o processo de preparação do corpo.
A ação que pede a retirada das fotos é movida pelo escritório do
cantor, o CA Produções Artísticas. A decisão liminar, publicada na noite
de quinta-feira (25), destaca que todas as providências cabíveis sejam
tomadas “para cessar, imediatamente, a disseminação das imagens
degradantes na rede mundial de computadores”.
Uma das advogadas que representam o escritório, Amelina Moraes do Prado
disse que a ação foi proposta visando preservar tanto a imagem do
cantor quanto da namorada dele, Allana Moraes, de 19 anos, que morreu no mesmo acidente que o músico.
"Não respondemos legalmente por ela, mas, quando pedimos que todas as
fotos do corpo do Cristiano antes do enterro, assim como as tiradas
ainda no local do acidente, sejam bloqueadas, o objetivo também foi o de
preservar a imagem da Allana, indiretamente", explicou.
Ainda segundo a advogada, qualquer pessoa identificada disseminando as
fotos e vídeos será processada. "Se houver essa identificação de alguém
que segue divulgando, fazendo comentários jocosos, vamos tomar as
medidas legais cabíveis para que responda pelo ato. Os familiares e a
equipe do Cristiano ficaram consternados com essas imagens", destacou.
O diretor de comunicação do cantor, Rafael Vannucci, afirmou ao G1
que a decisão judicial foi recebida pelos familiares e amigos do cantor
“com alívio”. “Assim que soubemos dessas imagens já acionamos os nossos
advogados, pois elas são revoltantes. Não por se tratar do Cristiano,
que era famoso, mas é um desrespeito com o ser humano. Foi muita falta
de amor ao próximo”, disse.
Investigação
A Polícia Civil indiciou duas pessoas pelo vazamento de fotos e vídeos em redes sociais.
De acordo com o delegado Eli José de Oliveira, do 4º Distrito Policial
de Goiânia, elas vão responder pelo crime de vilipendiar cadáver
(desrespeito ao corpo), com pena que vai de um a três anos de prisão.
"São os dois funcionários da Clínica Oeste, onde o corpo foi preparado.
Além disso, uma terceira pessoa, que foi quem divulgou as imagens,
também poderá ser indiciada pelo mesmo crime", disse Oliveira.
Os indiciados são os técnicos em tanatopraxia (procedimento de retirada
dos fluídos do corpo para o enterro) Marco Antônio Ramos, de 41 anos, e
Márcia Valéria dos Santos, de 39, que já foram ouvidos e liberados. O
terceiro envolvido ainda vai prestar depoimento. Ele é colega de Márcia
em um curso de enfermagem e apontado como o responsável por divulgar as
imagens.
"A Márcia disse que o Marco só percebeu que ela estava gravando quando
já estava no meio da filmagem, mas não a impediu. Depois, ela mandou
esse vídeo para o colega, que estuda com ela, e foi ele quem postou nas
redes sociais", explicou Oliveira.
"Nos depoimentos, tanto o Marco quanto a Márcia assumiram que sabiam do
regimento interno da clínica que impede o registro de imagens dos
cadáveres. Ela afirmou que já trabalhava no local há quatro anos e que o
ato foi impensado. Por isso, a clínica não deve ser responsabilizada. A
não ser que os familiares entrem com ação na Justiça", destacou o
delegado.
Oliveira ressaltou que inquérito sobre o caso já está em fase final de
conclusão. A sócia-proprietária da clínica, Laurinete Menezes Oliveira,
também foi ouvida. "Ela ressaltou que todos os funcionários assinam o
termo, que os responsabiliza pelos atos. Sendo assim, a clínica fica
passível de uma ação cível, mas não criminal".
Na manhã desta sexta-feira (26), a assessoria de imprensa da Clínica Oeste confirmou ao G1 que os funcionários já foram demitidos.
Em nota, o estabelecimento afirmou que repudia a ação dos empregados.
"A Clínica Oeste existe há quatro anos e reitera seu compromisso com a
ética, a transparência, o zelo pela prestação do serviço e o respeito às
famílias, e se solidariza com todos os que, como ela, repudiam tal
ato", destacou o texto.
A advogada do escritório do cantor disse que a clínica será acionada
judicialmente. "Vamos processá-los pedindo indenização por danos morais.
A clínica foi contratada para os serviços e tem responsabilidade pelos
atos dos seus funcionários", afirmou Amelina Moraes do Prado.
O delegado destacou, ainda, que qualquer pessoa que divulgar as imagens
fica passível de ser indiciada pelo crime de vilipendiar cadáver. "A
gente não vai atrás de casos isolados, mas se houver denúncia, ela será
apurada", concluiu Oliveira.
Ao G1, o médico legista Peterson Freitas Moreira,
diretor clínico do Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia, disse que os
registros não foram feitos dentro do órgão. Ele, inclusive, disse estar
"indignado" com a situação.
"Isso é um absurdo. Ficamos sabendo do vazamento há poucas horas. O
vídeo não foi feito aqui. Os dois funcionários que aparecem não
trabalham no IML. Além disso, no caso das fotos, não somos nós quem
vestimos os corpos", enfatizou.
O médico explicou ainda que, no caso do sertanejo, foi necessário
analisar o corpo, mas nenhum órgão foi retirado. Ele revela que
participou da necropsia de Cristiano com mais dois profissionais e que
nenhum estava com celulares. Além disso, um policial fazia a segurança
da sala.
Segundo Peterson, em alguns casos, é preciso fotografar o corpo como
forma de comprovar laudos e documentos. Porém, isso é feito de forma
profissional e somente para interesse do IML. "Se um servidor age desta
forma, ele tem que responder um processo administrativo, podendo até ser
expulso do órgão", informa.
Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração
Penitenciária já havia informado que a Polícia Civil já concluiu que as
imagens não foram feitas no IML e aponta que o local onde o vídeo foi
feito pode ser a sala de um estabelecimento de preparação de corpos para
velório e sepultamento.
Já o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego)
destacou que repudia a divulgação das imagens do corpo do cantor e que a
clínica está regularmente inscrita no órgão. “Vamos apurar a divulgação
das imagens nas redes sociais. Esclarecemos que a gravação do preparo
do corpo só é permitida se necessária para registro interno e técnico
deste ato médico. Ressaltamos que a divulgação do procedimento pode
configurar infração ético-profissional”.
Morte
Cristiano Araújo morreu
em um acidente de carro na BR-153, entre Morrinhos e Pontalina, na
quarta-feira (24) quando voltava de um show em Itumbiara, no sul do
estado. No veículo também estava a namorada do cantor, a estudante
Allana Coelho, de 19 anos, que morreu no local, além do motorista do
músico, Ronaldo Miranda, e do empresário Victor Leonardo – os dois se
feriram, mas já receberam alta do Instituto Ortopédico de Goiânia (IOG).
O corpo do cantor foi enterrado
por volta das 12h de quinta-feira (25), no Cemitério Jardim das
Palmeiras, em Goiânia. Mais de 1,5 mil pessoas, entre familiares, amigos
e fãs, acompanharam a cerimônia, segundo estimativas da Polícia
Militar. Eles deram uma salva de palmas e cantaram vários sucessos do
artista durante a despedida.
O sepultamento do cantor ocorreu após um cortejo de 15 km
em um carro dos bombeiros, que partiu do Centro Cultural Oscar
Niemeyer, onde o corpo foi velado por mais de 15 horas, até o local. O
caixão estava coberto por uma bandeira do Brasil e outra do Vila Nova, time do coração do sertanejo.
O pai de Cristiano Araújo, João Reis de Araújo, estava muito emocionado
durante o enterro. Outros parentes do músico e colegas de banda também
estavam presentes. A mãe dele, Zenaide Melo, passou mal durante o
velório e muito abalada, não compareceu ao sepultamento, assim como os
filhos do artista, João Gabriel, de 7 anos, e Bernardo, de 2.
Diferente do previsto inicialmente, o corpo da namorada do músico,
Allana, não foi enterrado ao mesmo tempo que o de Cristiano. O
sepultamento dela ocorreu antes, por volta das 10h30, no mesmo local.
O velório começou na tarde de quarta-feira (24). Durante toda a noite, familiares, amigos e fãs estiveram no local para prestar a última homenagem.
Famosos,
como os cantores Leonardo, Henrique e Juliano, Guilherme (da dupla com
Santiago), Mariano (da dupla com Munhoz) e Bruno (da dupla com Marrone),
foram se despedir do artista. "É um cara que passou muitas mensagens
nas suas músicas, sua energia e positividade”, disse Mariano. "Coração
está dilacerado. A tristeza é muito grande”, afirmou o cantor Eduardo
Melo.
Por volta das 8h30 de quinta-feira, uma missa foi celebrada pelo padre
Marcos Rogério, da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, igreja que o
sertanejo frequentava.
Milhares de fãs enfrentaram mais de duas horas na fila para prestar
homenagens ao ídolo. Alguns chegaram a dirigir mais de 11h para
acompanhar a cerimônia. Segundo a Polícia Militar, cerca de 50 mil
pessoas estiveram no velório.
G1