A declaração da presidente afastada Dilma Rousseff de que apoia uma
consulta popular para a realização de novas eleições como saída para a
crise política causou reação no Congresso, no Palácio do Planalto e no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por um eventual novo
pleito. Aliados do presidente em exercício Michel Temer avaliaram que se
trata de uma "tentativa desesperada de sobrevivência" ou um "último
suspiro" dos petistas.
"Este assunto não existe aqui. Eles só esqueceram de combinar com os
russos, neste caso, com o presidente Temer", ironizou um ministro. O
governo assegura que a chance de Temer renunciar é "zero" e que ele tem
mais do que os 54 votos necessários para aprovar o afastamento
definitivo de Dilma.
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a proposta é vista com ceticismo. A
Corte avalia que não seria possível viabilizar o plebiscito,
considerando que a tramitação no Legislativo seria demorada e os custos
somados às eleições seriam muito altos. A visão do Tribunal é de o
debate poderia acabar concluído só no ano que vem, o que abriria a
possibilidade para que as eleições fossem indiretas.
Lideranças petistas no Senado, contudo, utilizam a proposta para
negociar o apoio ao impeachment com parlamentares insatisfeitos com a
gestão Temer. Só o Congresso pode convocar um plebiscito. A proposta
precisaria ser apresentada por no mínimo um terço dos senadores ou
deputados e aprovada nas duas Casas por maioria simples. Há um grupo de
30 senadores que diz simpatizar com a proposta, porém, muitos
parlamentares da base aliada e da oposição avaliam que a sinalização de
Dilma "chegou tarde". O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE),
disse que se a proposta tivesse sido feita antes do impeachment, até
poderia ser considerada, mas agora só ia gerar mais instabilidade no
País.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), divergiu do líder do
partido na Câmara, Afonso Florence (BA), e disse acreditar que uma
consulta pública sobre novas eleições pode ser benéfica para todos em
meio à crise política.
Outro petista que defendeu a ideia, foi o líder da Minoria na Câmara,
deputado José Guimarães (CE). Ele disse que a realização de uma consulta
popular sobre novas eleições poderia ser a saída da crise. "Agora é a
hora, o assunto está maduro. Esse movimento tende a ganhar corpo dentro e
fora do PT, os democratas do País não podem se recusar a discutir uma
saída, pois todo mundo percebeu que esse governo não dá, é fraco, é
frágil e sem corpo", criticou.
O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi (SP), afirmou que a
proposta não possui viabilidade. Para ele, a ideia é um "factoide
criado pelo PT para tumultuar" o processo de impeachment e prejudicar o
governo Temer.
Diário do Nordeste