A Internet agilizou o comércio e ampliou as possibilidades de
negociação, com a venda de todos os tipos de produtos, sejam novos ou
usados. O meio é "aberto", como define o titular da Delegacia de
Defraudações e Falsificações (DDF), da Polícia Civil, Jaime Paula Pessoa
Linhares. Aproveitando-se dessa característica, golpistas estão
utilizando as redes sociais para comercializar cartões de crédito
fraudulentos e dinheiro falso, com o endereço de Fortaleza.
A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a três postagens em que
os criminosos oferecem as mercadorias ilegais em grupos da rede social
Facebook. Em uma publicação, um suspeito, que não será identificado,
coloca à venda o que denomina como 'cartão estouro', o que para o
delegado Jaime Paula é um cartão de crédito fraudulento em nome de um
terceiro.
O golpista oferece diversas opções aos interessados: cartão de crédito
com R$ 6 mil de limite pelo preço de R$ 1,2 mil; cartão com R$ 4 mil de
limite à venda por R$ 800; e cartão com R$ 2 mil de limite por R$ 600.
De acordo com o homem, o cartão, desbloqueado e com a senha, é entregue
em um prazo de 24h, pelo serviço Sedex 10, dos Correios, após o
pagamento de 50% do valor. Como garantia, ele afirma que possui
referências de pessoas que já compraram o produto e que envia os dados
necessários para o comprador acompanhar a entrega pelo serviço de
rastreamento dos Correios, na Internet.
As reações dos outros membros do grupo são opostas. Um jovem e uma
mulher alertam que a venda é ilegal. "Saiba que isso é crime e dá
reclusão. Só um aviso. Ainda mais fazendo isso na net. Cuidado", comenta
o rapaz. "Sabe por que as pessoas são enganadas? Porque sempre querem
tirar proveito em algo embora que seja ilícito. Meu povo, acorde, isso é
crime", completa a mulher. Já outra mulher manifesta interesse no
produto: "E o nome tem que tar limpo?".
No fim do ano de 2016, o perfil de uma mulher no Facebook, que também
não será identificada, ofereceu o 'cartão estouro' com opções e valores
iguais aos postados pelo homem. No texto, ela ainda tenta seduzir os
usuários do Facebook com a mensagem "garanta seu final de ano longe das
crises" e avisa: "Só chamar se tiver realmente a fim de comprar e com
dinheiro... Não gosto de curiosos".
Outra semelhança entre as duas ofertas iguais é que o telefone
divulgado para os interessados entrarem em contato é o mesmo, com DDD 85
(Fortaleza, Região Metropolitana e outros municípios próximos). A
reportagem ligou para o número, que não chama. Os dois perfis não estão
mais visíveis no Facebook.
O titular da DDF afirma que o alvo do golpe pode ser dois: a pessoa que
teve o nome utilizado no 'cartão estouro', que é vendido para outra
pessoa fazer compras e dívidas no nome dessa primeira; ou o comprador do
cartão de crédito fraudulento, que pode pagar pelo produto e não
recebê-lo ou mesmo recebê-lo sem o limite prometido.
Segundo Jaime Paula, a principal forma de os golpistas obterem esses
cartões é a solicitação em estabelecimentos como supermercados e lojas
de departamento, informando poucos dados pessoais de um terceiro. Mas
existem outros meios recorridos pelos criminosos: roubo ou furto de
cartões de crédito; suborno a funcionários das lojas ou do banco para
obter as informações; e captação de dados durante uma negociação no
mercado.
A possibilidade de clonagem (duplicação) de um cartão é praticamente
descartada pelo delegado. "As fraudes relativas a cartão hoje não são
tão sofisticadas. Elas estão facilitadas em razão da oferta do produto
que tem hoje no mercado. Hoje eu peço um cartão até pelo telefone. Por
que clonar, se existe isso?", indaga Jaime.
A venda de cartões fraudulentos na Internet é um crime raro, revela o
titular da DDF. Mas o uso de nomes de terceiros para fazer compras com
cartões de créditos é comum. Por mês, a Especializada chega a registrar
cerca de 15 Boletins de Ocorrência (B.Os.).
O golpista que for preso por vender cartão de crédito de um terceiro
será autuado pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica e, caso
ele tenha apresentado algum documento falsificado na emissão do cartão,
também por falsificação de documento público ou particular. O comprador
do produto também não passa impune, podendo ser autuado por estelionato e
falsidade ideológica.
Cédulas
Outro usuário do Facebook está sendo investigado pela DDF por uma
postagem, em um grupo, oferecendo dinheiro falso. O perfil de um jovem
anuncia "notas fakes em promoção de Carnaval" e coloca R$ 2,5 mil
falsificados à venda por apenas R$ 150 e R$ 1 mil por R$ 100. Como
garantia, ele afirma que "são as melhores notas do Brasil", que "temos
fotos, vídeos e referências" e posta imagens de cédulas de dinheiro.
A reportagem também tentou entrar em contato com o telefone oferecido
na postagem pelo falsificador, mas uma gravação de voz diz que "o
telefone está programado para não receber chamadas". O perfil não está
mais visível na rede social. Apesar de o alvo do golpe parecer se tratar
do comércio, que pode receber o dinheiro falso, o delegado Jaime Paula
Pessoa Linhares alerta que o interessado em comprar as cédulas também
pode ser enganado, não recebendo o produto ilegal. O vendedor e o
comprador podem ser autuados pelos crimes de estelionato e falsificação
de cédulas.
Dificuldade
Informações oferecidas pelos criminosos, tanto na venda do 'cartão
estouro', quanto na venda do dinheiro falso, dão indícios de que as
postagens podem ter sido feitas em Fortaleza. Entretanto, outros dados
apontam para outros Estados do País.
De acordo com o delegado Jaime Paula, a estratégia é utilizada pelos
golpistas para ludibriar a Polícia. "É um percurso mais longo, tem que
ter paciência. Eu costumo dizer que o braço da Polícia se torna curto em
razão dessa rede. Se fosse tudo daqui, seria mais fácil. Mas não é
impossível prendê-los", afirma.
Os três suspeitos abordados na reportagem postaram que preferem que a
negociação dos produtos seja feita pelo aplicativo WhatsApp. Linhares
afirma que é outra estratégia para dificultar a identificação, mas que
se torna ineficaz quando a Polícia pode tentar rastrear a localização do
chip do celular.
Diário do Nordeste
(Colaborou Emanoela Campelo)
Mais informações:Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) da Polícia Civil. Endereço: Rua Professor Guilhon, 606, Bloco A - Aeroporto.