A quadrilha que roubou mais de R$ 7,5 milhões de clientes de internet banking de quatro bancos do país levava uma vida de luxo ostentando veículos, joias, viagens e imóveis adquiridos com dinheiro ganho ilicitamente, segundo a Polícia Federal. Um dos presos pela Polícia Federal morava em um apartamento de luxo na Avenida Beira-Mar, em Fortaleza, e exibia joias, relógios e carros caros nas redes sociais como mostra reportagem do Fantástico deste domingo (16). Ele foi o principal alvo da 'Operação Valentina', deflagrada no dia 11 de abril pela Polícia Federal no Ceará.
“A quadrilha é formada basicamente por jovens entre 25 e 30 anos. Eles
utilizavam esse dinheiro em farras, viagens, ostentação”, explica o
delegado Madson Henrique Tenório, chefe da Delegacia de Repressão a
Crimes Fazendários da Polícia Federal no Ceará. Na chegada ao
apartamento do suspeito, os policiais foram ''recepcionados'' pela
cadela da raça golden retriever chamada Valentina, que acabou nomeando a
operação.
Treze pessoas foram presas e 25 mandados de busca e apreensão contra os
investigados foram cumpridos na capital cearense e no estado de São
Paulo. As investigações apontam que o grupo coletava dados bancários das
vítimas por meio de mensagens de celular contendo softwares maliciosos.
As fraudes, confirmadas pela investigação e pelas instituições
financeiras, fizeram vítimas em todo território brasileiro e eram
realizadas até mesmo no exterior.
As investigações começaram a partir de informações prestadas pelos
bancos, segundo o delegado Madson Tenório. "O próprio banco nos
repassava informações de invasões, de acessos indevidos, de tentativas
de fraude e nós íamos registrando esses fatos e tentando mapear a
quadrilha". Segundo ele, 99% das fraudes ocorreram em contas de clientes
de fora do Ceará, o que dificultaria a identificação das vítimas, na
avaliação da quadrilha.
Uma das vítimas, que prefere não se identificar, conta como se dava o
golpe. Segundo ela, em janeiro recebeu uma mensagem no aplicativo do
banco que havia sido 'hackeado'. “E era justamente pedindo o número do
meu telefone. Eu fui, alterei. Quando eu fui confirmar me pediram a
senha de seis dígitos e coloquei a senha”. Perdeu R$ 12 mil. “Fizeram
empréstimos em meu nome, saques na minha conta. Pagaram IPVA e
transferiram dinheiro pra Fortaleza”, conta, ainda assustada.
“Funcionários das operadoras recebiam uma determinada quantia do grupo
para bloquear o número de contato da vítima e habilitar esse número em
um chip virgem do fraudador. De posse do número clonado o fraudador
acessava a conta bancária, porque ele já tinha conseguido – através de
um software malicioso – ter um acesso credencial bancário. Ele fazia
esse acesso através do número de celular que já estava cadastrado no
internet banking da instituição financeira”, explica o delegado.
Outro método usado pela quadrilha era enviar mensagens de texto com
links maliciosos que roubavam as informações das vítimas. “O líder do
grupo é quem disseminava os softwares maliciosos. Ele cooptava as
pessoas para fazer o trabalho para ele”.
“O banco não manda e-mail para os seus clientes pedindo para atualizar
seus dados cadastrais. Ele não te manda uma mensagem de texto no celular
dizendo que há um problema com um cheque seu que foi devolvido.
Normalmente, há um contato formal do seu gerente para fazer esse tipo de
atualização” alerta Nelson Barbosa Júnior, especialista em segurança
digital.
Em menos de um ano, o ressarcimento aos clientes já custou aos bancos
R$ 7,5 milhões. “Mas esse montante é muito inferior ao que a gente está
imaginando que vá apurar ao final da investigação”, acredita o delegado
Madson Henrique Tenório.
O especialista em segurança digital dá uma dica. Tão importante quanto
ter ferramentas para navegar na internet é tomar um cuidado básico: para
e pensar antes de sair clicando em qualquer link. “A gente pode ter a
melhor solução de segurança instalada, com as melhores configurações,
bloqueando praticamente toda a comunicação, mas se a gente não tirar
essa compulsão, não diminuir a velocidade desse clique, desse toque, a
gente vai ser vítima de qualquer tipo de ataque”, alerta.
Os investigados, na medida de suas participações, responderão pelos
crimes de furto qualificado, lavagem de dinheiro e organização
criminosa.
Veja a transcrição de uma das conversas:
Membro da quadrilha: Sim, sou eu. Pode falar.
Operador do banco: Eu estou entrando em contato com a senhora pra confirmar a liberação de uma "mobile" que foi realizada hoje às 18h44.
Membro da quadrilha (imitando voz de mulher): Sim, correto. Sou eu sim.
Operador do banco: Eu estou entrando em contato com a senhora pra confirmar a liberação de uma "mobile" que foi realizada hoje às 18h44.
Membro da quadrilha (imitando voz de mulher): Sim, correto. Sou eu sim.
G1



