Apesar do combate à disseminação de dinheiro falso, os criminosos que
atuam nesse ramo continuam investindo na emissão de notas sem valor.
Segundo a Polícia Federal (PF), há reiterados registros de crimes deste
tipo, em 2017. Agora, um novo desafio é imposto aos órgãos
fiscalizadores: a internet está sendo utilizada para a comercialização
das cédulas e as entregas estão sendo efetivadas pelos Correios. Existem
até grupos em redes sociais, nos quais são realizadas compras e vendas
do material.
janeiro a maio deste ano foram apreendidos R$ 25.250, em moeda falsa,
no Ceará. As cédulas mais reproduzidas são as de R$ 20, seguidas pelas
de R$ 50 e de R$ 100. De acordo com o delegado Madson Henrique Tenório,
da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (Delefaz) da PF, os
registros de comercialização de moeda falsa, em âmbito regional e
nacional são frequentes. "As ocorrências relacionadas à moeda falsa
estão pululando, quase que diariamente ocorrendo. Tanto a negociação
pela internet, quanto o envio desse material pelos Correios de um Estado
para outro, de uma Cidade para outra".
O delegado equipara o modelo de negócios com o tráfico, no que diz
respeito à importância de identificar os responsáveis pela produção
inicial. "É como no tráfico de drogas: se você não prende a pessoa que é
capitalizada, que financia e dá os meios para que a logística seja
feita do produtor até o consumidor, você vai ficar enxugando gelo",
afirma Tenório.
Para coibir as ações ilícitas, a PF mantém parcerias com outras
Instituições, como o Banco Central (BC). Através da assessoria de
imprensa, o BC disse que "recebe cédulas suspeitas de serem falsas,
retidas pela rede bancária e disponibiliza essas informações para a PF, a
qual realiza trabalho de investigação, para combate aos criminosos".
A parceria também é mantida com os Correios, devido a empresa ser,
segundo o delegado Madson Tenório, a primeira a receber o material. A
união já rendeu resultados concretos. Em 23 junho, um homem de 24 anos,
suspeito de receptar cédulas falsas foi preso, em Fortaleza.
De acordo com Madson Tenório, os Correios avisaram quando desconfiaram
da procedência do dinheiro, ao realizarem um monitoramento de Raio X em
uma encomenda. Foram destacadas equipes da PF para acompanhar o carteiro
responsável por realizar a entrega da encomenda ao destinatário.
Assim que o suspeito assinou o recebimento do pacote, os agentes
fizeram a abordagem. O homem assumiu que a mercadoria era para ele. No
total, a encomenda continha cerca de R$ 20 mil em cédulas falsas. O
destinatário foi autuado em flagrante e irá responder pelo crime de
falsificação de moeda.
O delegado explica que após qualquer apreensão, a PF submete o material
à perícia, para tentar identificar a partir de que matrizes as notas
foram fabricadas e a qualidade da adulteração. Após a análise, as
cédulas são encaminhadas ao BC.
Entretanto, nem mesmo os relatos de punições para quem pratica o ato
ilícito, têm sido suficientes para frear as ações de alguns criminosos.
Em outro caso, no dia 19 de junho último, a reportagem teve acesso a
imagens de uma publicação na rede social Facebook, onde um usuário
supostamente está comercializando dinheiro falso.
A venda
O falsificador anuncia a venda de 'notas fakes' e oferece duas
propostas de compra: R$ 70 para adquirir R$ 300 em cédulas falsas, ou R$
120 para adquirir R$ 450. Na mesma publicação, o suspeito diz que as
notas "passam em tudo", referindo-se à aparente capacidade do material
de resistir aos testes com os detectores de dinheiro falso.
Em casos de negociações, tanto o vendedor quanto os possíveis
compradores, podem ser autuados. No caso da análise pericial apontar que
a cédula negociada é grosseiramente falsificada, ou seja, não enganam
nem pessoas leigas, o suspeito poderá responder pelo crime de
estelionato. No caso da nota ter alto nível de falsificação, o suspeito é
responsabilizado por falsificação de moeda.
Quem der continuidade à circulação de uma cédula falsa sabendo da
irregularidade, mesmo tendo recebido por engano, também pode ser
responsabilizado criminalmente.
Festas
O delegado Madson Tenório revela que os principais períodos de
circulação de moeda falsa são as datas comemorativas. "Geralmente, esses
movimentos ocorrem em períodos festivos. No Carnaval, agora nos
festejos de São João, por exemplo, por que existe grande movimentação de
pessoas, que estão viajando pelo País inteiro. Nestas festas, há muita
comercialização de produtos que você dá o dinheiro e sai. As pessoas não
se conhecem e não têm trato diário, então fica mais fácil circular a
moeda falsa", explica Tenório.
Em um evento, a estudante Victória Santana, 20, foi vítima de uma
situação como a narrada pelo delegado. A jovem estava sob a
responsabilidade da parte financeira de uma festa realizada por
universitários, em Fortaleza. O dinheiro arrecadado seria utilizado para
custear atividades de um projeto de extensão.
Durante o evento, Victória recebeu, na venda de bebidas, uma cédula de
R$ 100 que depois descobriu que era falsa. A estudante ressalta que se
sentiu prejudicada, mas não deu continuidade à circulação da nota. "O
grande problema é que não dá para saber se a pessoa que repassou a nota
também foi vítima de um golpe e não tinha ciência, ou se está fazendo de
propósito", disse a estudante.
Uma cartilha do BC ressalta que se uma pessoa recebe uma cédula
suspeita de falsificação, deve procurar uma agência bancária e entregar o
dinheiro. O material é enviado para análise. Se ficar comprovado que a
cédula é legítima, o cidadão é ressarcido. Se comprovado que a cédula é
falsa, não haverá reembolso.
Diário do Nordeste



