A Região Metropolitana de Fortaleza é a segunda região metropolitana que apresentou mais piora no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), entre 2011 e 2015, conforme dados do relatório lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
na última quarta-feira, 23. A RMF teve queda de 3,9% no índice, ficando
atrás apenas de Recife, 16,3% mais vulnerável no período.
Também
tiveram índice de vulnerabilidade piores as regiões metropolitanas de
São Paulo (-2,4%) e Porto Alegre (-0,4%). O índice dessa nova série
destoa do observado entre 2000 e 2010, quando Fortaleza reduziu a
vulnerabilidade social em 28%. A Região Metropolitana de Salvador foi a
que mais melhorou o índice em 15,5% .
O índice de vulnerabilidade
social é composto pela média aritmética de 16 indicadores, divididos
nas dimensões Infraestrutura Urbana, Capital Humano e Renda e Trabalho.
De acordo como o pesquisador do projeto Atlas da Vulnerabilidade
Social, Carlos Vinícius da Silva Pinto, infraestrutura foi o piores
indicador da Região Metropolitana de Fortaleza.

"Infraestrutura
foi a dimensão que mais contribuiu para esse aumento de vulnerabilidade
social na RMF. A Renda e Trabalho também piorou um pouco, 2,3%, mas
teve contraponto, porque o trabalho infanil reduziu bastante", explica o
pesquisador. No período, houve aumento de 66% de desemprego na RMF,
mas compensado pela queda do trabalho infantil, no número de pessoas
vulneráveis e de vulneráveis que dependem de idosos.
A única
dimensão que melhorou foi Capital Humano (7,4%), com destaque para
redução da porcentagem de crianças de 6 a 14 anos fora da escola (23%),
de mulheres chefes de família sem fundamental e com filho menor (22%) e
crianças em domicílio em que ninguém possui fundamental completo (20%).
Foi registrado aumento, no entanto, aumento em 12% mulheres de 10 a 17
anos com filho.
Dentro da dimensão Infraestrutura, apesar da
grande redução no número de pessoas sem água e esgotamento sanitário
inadequado (50%), o número de pessoas vulneráveis que levam mais de uma
hora no deslocamento casa-trabalho aumentou 30,5%. "Esse indicador foi o
que mais influenciou a redução no IVS. Ele avalia as pessoas
vulneráveis, que usam transporte público, chegam de outro município",
explica Carlos Vinícius.
O arquiteto e professor da Universidade
Federal do Ceará (UFC), José Almir Farias, aponta a ocupação de áreas
cada vez mais distantes na RMF, em expansão horizontal. "O modelo
lançado em Fortaleza é muito favorável ao mercado, tem consumo de espaço
muito grande. Quem não pode morar mais próximo de Fortaleza vai morar
um pouco mais distante. É um desenho ruim, a gente advoga que haja maior
densidade próxima à área de empregos para diminuir deslocamentos",
avalia.
Outra questão levantada por José Almir é a hiper
concentração de empregos em centro metropolitanos, principalmente nos
bairros mais nobres da cidade, onde há absorção dos serviços de baixa
renda. "Essa concentração, aliada ao fato de que tem que morar mais
distante por conta dos preços da habitação, gera fluxos cada vez
maiores, e o sistema de transporte não ajuda muito. A política tarifária
de transporte é de mercado", diz.
Embora o congestionamento da
capital cearense não se iguale ao do Rio de Janeiro e São Paulo, já
chega a um nível em torno de três horas e meia de viagens por dia,
conforme o professor. "É um tempo exorbitante que afeta a qualidade de
vida, a saúde dos usuários. Uma questão complexa e de difícil
solução,precisamos de políticas integradas não só em Fortaleza, mas a
nível intermunicipal, metropolitano", frisa.
Vulnerabilidade
O Atlas de Vulnerabilidade Social é um projeto da Organização das Nações Unidas com a Fundação João Pinheiro. "Desse projeto, surgiu a ideia de mapear a vulnerabilidade, porque o IDHM só da uma noção básica a partir da renda, a gente quis ir além, usar novos indicadores para criar um índice", relata o pesquisador Carlos Vinícius.
Os indicadores de
desenvolvimento humano do Brasil são compilados a partir dos dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Abrimos mais a
pesquisa para entender onde está a vulnerabilidade das pessoas. Exemplos
que a gente usa, educação, trabalho infantil, dependência da família
da renda de idosos, mostram a continuidade dessas pessoas na
vulnerabilidade. Mais do que o desenvolvimento apenas pela renda e
saúde", indica ele.



