Com mais de 3 milhões de veículos circulando e 2 milhões de condutores
habilitados, conforme os dados mais recentes do Departamento Estadual de
Trânsito (Detran-CE), o tráfego nas cidades cearenses pulsa, das vias
livres na madrugada aos extensos congestionamentos matutinos. Porém, nem
todos os motoristas seguem as normas ao volante ou ao guidão e, quando
são abordados pelos agentes fiscalizadores, surgem as mais variadas
desculpas para a condução indevida dos veículos.
Das quase 28 mil infrações registradas pelo Detran no primeiro
trimestre de 2017, 5,9 mil foram por condução de motocicleta sem
capacete; 4,3 mil por estacionamento irregular; 3,2 mil por condução de
veículos não licenciados; 1,8 mil por condução sem habilitação; 915 por
não uso do cinto de segurança e 748 por direção sob influência do
álcool. No período, o órgão realizou 2 mil blitze e identificou 21,5 mil
veículos irregulares.
Segundo o major Rubens Pereira, da Polícia Rodoviária Estadual (PRE),
"é muito difícil abordar alguém numa blitz e essa pessoa ser sincera e
honesta", nem mesmo quando os fiscais puxam informações do sistema de
penalidades do Detran ou da Coordenadoria Integrada de Operações de
Segurança (Ciops). Para os transgressores, o erro sempre "está no
sistema".
Dos não-licenciados, escutam: "Eu ia regularizar amanhã" ou "Não estou
em condições de pagar agora". De quem não usa o cinto de segurança:
"Acabei de sair do posto/farmácia e esqueci de colocar". De quem dirige
veículos clonados: "Eu não sabia" ou "O carro é emprestado". O pior para
o agente, porém, é quem tenta minimizar a ingestão de álcool. "Dizem
que não tomaram, ou que tomaram só um pouquinho", conta. O chefe de
policiamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF-CE), Ricardo Araújo,
afirma que, além dos problemas financeiros, os motivos mais ouvidos
pelos agentes são o desconhecimento dos defeitos em equipamentos.
"Eles têm conhecimento da lei, mas não sabem respeitá-la. Quando se faz
uma regulamentação e se limita o direito de transitar, é pensando na
segurança deles. Alguns não usam o cinto dizendo que é incômodo, mas a
possibilidade de sair ileso de um acidente é muito alta. Já atendi a
algumas ocorrências em que o carro estava acabado, mas o condutor não
tinha um arranhão", salienta.
Acidentes
Araújo acredita que falta conscientização da maioria dos condutores no
engajamento por um trânsito mais seguro, defendido pelas campanhas
nacionais de trânsito todos os anos. Segundo levantamento do Detran, em
todo o ano passado, foram registrados quase 28 mil acidentes de trânsito
no Estado, com 2.207 vítimas fatais. Outras 10.777 pessoas ficaram
feridas.
Divulgada na última segunda (25), uma pesquisa nacional realizada pela
empresa Arteris avaliou as principais desculpas de 2.686 motoristas, das
cinco regiões do País, ao assumirem comportamentos de risco no
trânsito. A infração mais recorrente foi o uso do celular: 51,9% dos
brasileiros já utilizaram o aparelho ao dirigir. Nesse caso, as
desculpas foram o uso de aplicativos de localização ou música (37,7%) e a
realização ou recebimento de ligações importantes ou urgentes (36,1%).
Segundo a pesquisa, dos 8,9% de brasileiros que nem sempre utilizam o
cinto de segurança, 35,5% usaram a desculpa da falta de atenção e,
12,8%, da baixa necessidade de uso do cinto em trajetos curtos.
Quanto ao excesso de velocidade, 40,7% dos motoristas admitiram abusar
dos limites em determinadas ocasiões. Desses, as principais desculpas
foram a pressa (28,7%), os limites baixos (13,4%) e a falta de atenção
(11,3%).
Diário do Nordeste