Com duas horas e dez minutos de duração, o interrogatório do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao fim às 16h26
desta quarta-feira (13). Foi o segundo encontro presencial entre o
petista e o juiz federal Sergio Moro, que comanda os processos da
Operação Lava Jato na primeira instância --a primeira audiência, em 10
de maio, levou quase cinco horas.
Ao final de seu depoimento, o ex-presidente perguntou a Moro se "seria
julgado por um juiz imparcial". Em resposta, segundo apurou o UOL com
pessoas que acompanharam a audiência na 13ª Vara Federal de Curitiba,
Moro afirmou: "Eu nem precisava responder a essa pergunta, mas a
resposta é sim".
Lula também falou sobre o ex-ministro Palocci --"Eu não tenho raiva do
Palocci. Eu tenho pena dele"-- e, em determinado momento, houve uma
discussão porque se referiu como "querida" à procuradora da República
Isabel Groba Vieira, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Segundo a Justiça Federal, Lula não respondeu algumas das perguntas que
lhe foram feitas.
Aos procuradores, o ex-presidente afirmou que o objetivo do MPF
(Ministério Público Federal) é incriminá-lo. Lula voltou a referir-se à
apresentação de PowerPoint apresentada pela força-tarefa, na qual ele
aparece como chefe do esquema de corrupção investigado pela Lava Jato.
Ele perguntou ainda por que o procurador Deltan Dallagnol estava
ausente. "Aquele PowerPoint é uma mentira."
A audiência desta quarta está ligada a suspeitas da participação de Lula
em um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a
empreiteira Odebrecht e a Petrobras.
Lula chegou às 13h50 ao prédio da Justiça Federal em Curitiba, passando
de carro em um corredor formado por militantes do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra) que o esperavam desde as 10h30. Ele
desceu do automóvel, onde encontrou lideranças do PT como a senadora
Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional da sigla, e caminhou poucos
metros segurando uma bandeira do Brasil. Ao som de "Lula, guerreiro do
povo brasileiro", "fora, Temer" e batucadas, o ex-presidente interagiu
com militantes. Depois, seguiu de carro à sede da Justiça Federal, onde a
audiência marcada para 14h teve início às 14h16.
Moro chegou ao local por volta das 10h, em uma caminhonete escoltada por
seguranças da Justiça Federal. O entorno do prédio, com forte esquema
de segurança que incluiu um helicóptero, foi bloqueado pela polícia às
9h20. A previsão era de que o bloqueio começasse às 6h30, mas a
Secretaria de Segurança Pública do Paraná avaliou que o clima será mais
tranquilo do que em maio.
Além de Lula e Moro, estavam na sala de audiências 2 os procuradores que
integram a força-tarefa da Lava Jato, advogados da Petrobras, que
exercem o papel de assistentes de acusação, defensores de Lula e dos
outros sete réus, além de uma servidora pública que atua como assistente
de audiência.
O processoUm representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) também
está na sala para "garantir as prerrogativas dos advogados que atuam no
caso", disse a instituição em nota ao UOL. O conteúdo do depoimento,
que está sendo gravado em vídeo, só será divulgado pela Justiça Federal
depois do seu término.
No suposto esquema de corrupção, foram firmados oito contratos, de 2004 a 2012, entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras.
Com desvios que chegaram a R$ 75,4 milhões, segundo denúncia do MPF,
Lula teria sido beneficiado com a compra de um terreno em São Paulo que
seria sede do Instituto Lula e com a aquisição do apartamento vizinho ao
em que ele vive, em São Bernardo do Campo (SP). Lula é acusado ter
cometido o crime de corrupção passiva por nove vezes, e o de lavagem de
ativos por 94.
Além de Lula, também são réus neste processo:
Roberto Teixeira, advogado de Lula
Antonio Palocci, ex-ministro dos governos de Lula e de Dilma
Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci
Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht
Paulo Melo, ex-diretor da Odebrecht
Demerval Gusmão, proprietário da DAG Construtora
Glaucos da Costamarques, empresário
Teixeira será o último réu interrogado. Ele deveria ter sido ouvido em
Curitiba na semana passada, em 6 de setembro. Porém, na noite do dia
anterior, ele foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do
Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Diagnosticado com insuficiência cardíaca aguda, o advogado teve alta na
sexta-feira passada (8) e passou a repousar em casa por ordens médicas.
Na última segunda-feira (11), atendendo pedido da defesa, Moro remarcou o
interrogatório de Teixeira, que deveria ser nesta quarta, para as 13h30
de 20 de setembro.
Passado e futuro
No primeiro interrogatório, em maio, Lula prestou esclarecimentos a
respeito da acusação de que estaria envolvido no esquema de corrupção
envolvendo três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras. Com
quase cinco horas, foi um dos mais longos da Lava Jato.
Moro decidiu sentenciá-lo a nove anos e seis meses de prisão por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele concluiu que Lula "tinha um
papel relevante no esquema criminoso que vitimou a Petrobras e que
envolvia ajustes fraudulentos de licitação e o pagamento de vantagem
indevida a agentes da empresa, a agentes políticos e a partidos
políticos".
O petista recorre em liberdade da decisão no TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª região, a segunda instância da Lava Jato.
Lula e Moro ainda terão um novo encontro previsto para o primeiro
semestre do ano que vem. Em agosto, o juiz tornou o ex-presidente réu
pela terceira vez na Lava Jato, agora em um processo sobre um esquema de
corrupção envolvendo um sítio em Atibaia (SP), que seria uma vantagem
indevida paga a Lula.
A defesa do petista nega as acusações em todos os processos e diz que há uma perseguição política contra Lula.
UOL



