A situação mais grave é enfrentada pela cidade de Quixeré e pelo
distrito de Lagoinha, que já ficam no fim do trecho de 100Km de extensão
a partir do Castanhão, no leito do Rio Jaguaribe. A água é barrada pelo
Açude Sucurujuba, ponto de captação para o sistema de abastecimento.
Outros centros urbanos atendidos são Limoeiro do Norte, São João do
Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Russas e a própria Jaguaribara, no
entorno do reservatório.
A SRH e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (SRH) consideravam
urgente a liberação de mais água. Na terça-feira passada (14), a Cogerh
enviou uma nota técnica solicitando ao Dnocs ampliar a vazão de 4,6m³
para 5,2m³ para o Rio Jaguaribe. O coordenador do reservatório,
administrado pelo Dnocs, Fernando Pimentel, considerou estranha a
solicitação e decidiu por não ampliar a vazão. "Só vou ampliar a vazão
se vier ordem da direção", frisou. A direção do Dnocs exigia uma
justificativa técnica da Cogerh.
Na manhã desta quinta-feira o titular da SRH apresentou a justificativa
técnica e os dois órgãos entraram em entendimento. Segundo o presidente
da Cogerh, João Lúcio Farias, a ampliação da vazão já começou na tarde
de ontem. "Houve um entendimento e tudo ficou esclarecido, pois não
estamos liberando mais do que foi acordado na reunião de alocação dos
comitês de bacia, em junho passado, na cidade de Iguatu. Não usamos toda
a água autorizada, havia um saldo, e agora precisamos com urgência
dessa água", explicou.
João Lúcio esclareceu que a Cogerh faz um esforço para utilizar menor
quantidade de água do que foi autorizado. "A gente sempre tenta deixar
um saldo para um momento de maior dificuldade ou para usar no período
seguinte. A situação agora é de necessidade urgente porque havia o risco
de colapso no abastecimento de várias cidades do Baixo Jaguaribe",
frisou.
Para João Lúcio Farias, houve um mal entendido por parte do operador
local do Dnocs e água liberada não se destina a Fortaleza, mas ao Baixo
Jaguaribe. A operação segue até o fim deste ano, quando deverá ocorrer
reunião com a comissão de usuários para reavaliar a situação.
O Castanhão libera ainda 2,85 m³/s pelo Eixão das Águas (por
bombeamento) para atender a demanda de outras cidades da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF). "A prioridade do uso da água é para o
consumo humano", pontuou João Lúcio Farias. "Vamos intensificar a
fiscalização ao longo do trecho do rio, com apoio da Polícia Ambiental,
da SRH e já ampliamos o número de fiscais, lacramos e retiramos bombas
irregulares. O produtor, quando vê uma água passando, quer usar,
produzir". João Lúcio observou.
Nos últimos meses, a Cogerh passou a usar máquinas (retroescavadeiras e
pá mecânicas) para desobstruir barreiras artificiais feitas por
produtores rurais e corrigir o leito, com o objetivo de facilitar o
escoamento da água até o açude Sucurujuba, em Quixeré. "Já usamos drone
para estudar melhor os pontos de captação, os obstáculos na calha do
Jaguaribe", disse João Lúcio.
O presidente do Sub-Comitê de Bacia do Baixo Jaguaribe, Aridiano Belk
de Oliveira, reforçou o argumento da Cogerh sobre a necessidade de
ampliar a vazão na válvula dispersora do Castanhão. "Na verdade, não é
mais água porque na reunião de alocação decidida pelos comitês em Iguatu
ficou autorizado o uso médio de 4,5m³ e só foram utilizados 4,3m³.
Havia um saldo na operação", disse.
Aridiano Belk disse que os moradores das cidades do Baixo Jaguaribe
precisam com urgência do recurso hídrico. "A situação vem se agravando e
essa água é muito necessária", frisou. Além do consumo humano, ainda se
utiliza água para a produção nos perímetros irrigados Tabuleiro de
Russas e Jaguaribe Apodi. "Houve uma redução de mais de 70% de água para
irrigação em relação ao consumo de 2014. De forma precária, estamos
tentando manter uma produção de culturas perenes", explicou. Graças ao
uso de tecnologia, irrigação localizada por microaspersão e gotejamento
ainda há produção de fruteiras nos perímetros (uva, banana, goiaba).
A água está ficando escassa no Vale do Jaguaribe. No alto, os usuários
reclamam da falta de medidas compensatórias. "Os produtores ficaram sem
condições de trabalhar porque a água foi liberada para o Castanhão",
questionou Paulo Landim, integrante do Comitê da Sub-Bacia do Alto
Jaguaribe. "Até poços profundos não foram ainda instalados e as
comunidades sofrem com a falta de água".
Diário do Nordeste



