A questão mais difícil de
História da edição de 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) exigiu a compreensão e interpretação de dois textos
relativamente curtos, mas que, por serem técnicos de historiadores, eram
difíceis de entender. O desafio era ler os trechos de escritos do
americano Moses Finley e do brasileiro Pedro Paulo Funari e responder, a partir
das cinco alternativas, qual era o “ponto de convergência entre as realidades
sociopolíticas representadas por eles”.
O professor Gianpaolo Dorigo,
supervisor de História do Anglo Vestibulares, avalia que esta foi a
questão mais difícil da disciplina porque “as alternativas tratam de aspectos
muito específicos de textos que não são fáceis”. “As outras alternativas são
muito próximas da correta, todas as opções oferecidas são muito cheias de
nuances”, aponta Dorigo.
Questão 62 – Prova Amarela
Texto I
Sólon é o primeiro nome grego que
nos vem à mente quando terra e dívida são mencionadas juntas. Logo depois de
600 a.e., ele foi designado “legislador” em Atenas, com poderes sem
precedentes, porque a exigência de redistribuição de terras e o cancelamento das
dívidas, não podiam continuar bloqueados pela oligarquia dos proprietários de
terra por meio da força ou de pequenas concessões.
FINLEY, M. Economia e sociedade
na Grécia antiga. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013 (adaptado).
Texto II
A “Lei das Doze Tábuas” se tornou
um dos textos fundamentais do direito romano, uma das principais heranças
romanas que chegaram até nós. A publicação dessas leis, por volta de 450
a.e., foi importante, pois o conhecimento das “regras do jogo” da vida em
sociedade é um instrumento favorável ao homem comum e potencialmente limitador
da hegemonia e arbítrio dos poderosos.
FUNARI, P. P. Grécia e Roma. São
Paulo: Contexto, 2011 (adaptado).
O ponto de convergência entre
as realidades sociopolíticas indicadas nos textos consiste na ideia
de que a
a) discussão de preceitos formais
estabeleceu a democracia.
b) invenção de códigos jurídicos
desarticulou as aristocracias.
c) formulação de regulamentos
oficiais instituiu as sociedades.
d) definição de princípios morais
encerrou os conflitos de interesses.
e) criação de normas coletivas
diminuiu as desigualdades de tratamento.
Qual a resposta?
O professor Gianpaolo Dorigo
esclarece que a alternativa correta seria a de letra “E”. Caberia ao aluno
entender que tanto a redistribuição de terras pelas leis de Sólon quanto a “Lei
das Doze Tábuas”, ao limitar o “arbítrio dos poderosos” tinham como mote a
mudança da desigualdade de tratamento de indivíduos perante o estado, mesmo que
se tratassem de especificidades e contextos muito diferentes.
Dorigo explicou que existe uma
tendência para o estudante que não estiver preparado de relacionar diretamente
às menções sobre “oligarquia dos proprietários de terra” e “poderosos” ao termo
“aristocracias”, que aparece na alternativa de letra “B”. O segredo para evitar
a confusão seria conhecer que a elaboração de legislações pontuais não
significa a “invenção de códigos jurídicos”. A questão demanda bagagem cultural
dos estudantes e atenção aos detalhes.
As outras três alternativas tem,
na visão do professor, elementos que “entregam” mais facilmente que estas estão
erradas. Na “A”, a fala em “democracia”, que não está em pauta nos textos; na
“C”, a mesma coisa, a respeito da instituição de sociedades; e na “D”, o
entendimento que eventuais mudanças no panorama social não são o fim dos
“conflitos de interesse”. Em síntese, o estudante precisava estar preparado e
atento à leitura dos textos.
Prova equilibrada
O supervisor de História do Anglo
considerou que os elaboradores das questões cobradas pelo Ministério da
Educação (MEC) no Enem acertaram na mão da cobrança aos estudantes. Para
Gianpaolo Dorigo, o conhecimento da disciplina foi pedido em uma “prova
equilibrada”, com boa proporção de questões fáceis, médias e difíceis.
O docente vê evolução na prova,
que é a porta de acesso para todas as universidades federais brasileiras, assim
como para programas públicos de concessão de bolsas e financiamentos. “Em anos
anteriores, nós víamos questões de História com alternativas ambíguas. Não que
as provas, como um todo, fossem ruins. Era uma questão ou outra ruim nesse
ponto, o que não se verificou nesse ano”, concluiu o docente.
Neste domingo, os estudantes
responderam a 90 questões de múltipla escolha nas áreas de Linguagens e Códigos
e de Ciências Humanas, além de elaborarem uma redação com o tema “Os desafios
para a formação educacional de surdos no Brasil”. No próximo final de semana,
será a vez das provas de Ciências da Natureza e de Matemática.
Revista Veja



