"Estamos nos encaminhando para o sétimo ano de aportes poucos
significativos para os açudes. No mês de fevereiro choveu 50% acima da
média, mas em março estamos com mais de 70% abaixo até agora. Os aportes
nos reservatórios pararam. É uma preocupação grande para o segundo
semestre, pois não temos um aporte mínimo para garantir o abastecimento
de cidades do Interior e da Região Metropolitana de Fortaleza", revelou o
secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, na tarde de ontem,
ao repórter José Maria Melo, momentos antes de embarcar para o Fórum
Mundial de Água 2018, em Brasília.
Sobre as precipitações de março, Teixeira frisou que "não é chuva que
cai e gera escoamento para chegar aos reservatórios. O sistema
metropolitano praticamente não teve recarga esse ano. As chuvas estão
tão fracas que o Maciço de Baturité, mesmo após as chuvas de fevereiro,
ainda não gerou aporte d'água nos reservatórios que abastecem Fortaleza"
O secretário ressaltou que "devemos aguardar pelas chuvas do fim de
março e de abril para ver se melhoram, se caem com mais regularidade,
mas a situação nos preocupa. A seca preocupa, mas se entrarmos no sétimo
ano é mais preocupante. Com isso, a nossa dependência da transposição
do Rio São Francisco se torna definitiva, eu diria, inexorável. Mais do
que nunca, o projeto tem que ficar pronto até agosto, setembro. Se for
possível, em julho, porque a água chega com mais facilidade aqui".
Teixeira explicou que as obras da transposição não pararam mas estão
num ritmo lento. Agora não tem jeito. A transposição, eu diria, é a
única forma de garantir água para o abastecimento das populações do
Ceará e, em especialmente, da RMF, no caso de mais um ano de seca".
Segundo Francisco Teixeira, a transposição falta apenas 4% para sua
conclusão. No seu entender, qualquer outra alternativa, como a
dessalinização ou ir buscar água no Rio Parnaíba, seria muito mais caro e
demorado. Nada mais fácil de ser implementado do que a transposição. "O
problema é que um pequeno trecho do eixo norte, na divisa entre Ceará e
Pernambuco, não fica pronto. Mas isso tem que ser resolvido. Não
podemos esperar para sempre a obra ficar pronta", conclui.
De acordo com dados parciais da Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme), apenas 36 municípios receberam chuvas até o
início da tarde de ontem. A maior precipitação foi em Santa Quitéria,
com 40.1 mm.
Até ontem, segundo ainda os dados parciais da Fundação, no mês de
março, choveu apenas 47 milímetros. A média para o período é de 203.4
mm. O desvio negativo é de 76,9%. Os números devem mudar, já que faltam
ainda 11 dias para o fim do mês.
Previsão
A Funceme prevê para hoje nebulosidade variável com possibilidade de
chuva na faixa litorânea, Serra da Ibiapaba e Região Jaguaribana. Nas
demais áreas, céu parcialmente nublado. Em relação aos 155 açudes
monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), a
média de água acumulada é de 8,4% . Apenas 11 mananciais estão
sangrando.
A imagem do satélite GOES-16, canal Visível, das 8h local de ontem,
publicada no site da Funceme, mostra nebulosidade sobre o Ceará. No
leste do Nordeste Brasileiro (NEB), observa-se a presença de um Cavado
de Altos Níveis (CAN), sistema de baixa pressão com circulação horária a
aproximadamente 12 km de altura, e a Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT), banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo
terrestre, formada pela confluência dos ventos alísios do hemisfério
norte com os ventos alísios do hemisfério sul, ao norte do NEB. A ZCIT é
o principal sistema indutor de chuvas durante a quadra chuvosa no
Ceará.
Diário do Nordeste