Três moradoras da cidade de Uruburetama (distante 127Km de Fortaleza) relataram
terem sido abusadas sexualmente pelo médico ginecologista e prefeito do
Município, José Hilson Paiva, conhecido como Doutor Hilson. Em
depoimentos a reportagem do Diário do Nordeste, as mulheres pediram
Justiça, disseram que estão sofrendo ameaças de morte e pedem que o
homem seja punido.
A defesa do médico, patrocinada pelo advogado Kaio
Castro, negou as acusações e disse que está processando quem está por
trás das denúncias caluniosas.
A reportagem foi até Uruburetama, ontem e encontrou três das quatro
mulheres que relatam terem sido violentadas sexualmente pelo Doutor
Hilson. Elas afirmam que o número de vítimas ultrapassa 50, e que o
médico e político comete crimes sexuais desde a década de 1980.
A agricultora Maria Elioneida Monteiro contou que foi se consultar pela
primeira vez com o ginecologista José Hilson Paiva em outubro de 2015,
no consultório particular dele (que fica ao lado da residência do
médico) e estranhou a conduta do profissional desde o início de um exame
que foi requisitado: "Mandou eu me deitar na cama e pediu para eu
relaxar. Ele ficou pegando nos meus p... E perguntou se eu estava me
sentindo bem. Eu fiquei pensando: esse exame está errado". "Então, ele
disse: 'Maria, tu relaxa e abre as pernas'. Ele começou a cutucar (sic)
minha v... E ficou esfregando minhas partes íntimas. Quando eu quis me
levantar, ele gritou: 'Não, Maria, não se preocupa não'. Eu senti que
ele estava nu e com o p... Ereto (sic). Na minha saída, ele falou:
'Maria, se tu disser pra alguém isso, tu acha que o juiz ou o delegado
vão acreditar em ti?! Pensa, Maria. Olha pra ti. O que aconteceu aqui
vai ficar aqui'", relatou a agricultora.
A dona de casa Francisca das Chagas Rodrigues de Sousa, conhecida como
Branca, trouxe à tona a denúncia do abuso sexual que ela afirma ter
sofrido, em 1993, somente agora, após a ampla divulgação do vídeo em que
o prefeito aparece fazendo sexo. "Na época, falei só pra minha mãe e
pra algumas pessoas. Fiquei com medo, porque as outras duas (vítimas)
que denunciaram sofreram ameaças de morte. A gente ia ser era linchada,
porque ele (acusado) era idolatrado".
Ameaças
As mulheres dizem estar sofrendo ameaças de morte. "Eu ainda tenho
medo, mas não vou me calar de jeito nenhum. Eu quero Justiça, nem que
custe a minha vida. Eu espero que ele seja preso", definiu Branca.
A cabeleireira Edivânia Teixeira Félix corrobora para as denúncias. "Em
1986, eu tinha 13 anos, houve um estupro comigo. Ele (Hilson)
trabalhava como médico no Sindicato Rural. Eu cheguei lá, ele pediu para
eu ficar com as pernas abertas. Quando eu senti, ele estava colocando o
p... Na minha v.... Eu fiz um escândalo. Ele chamou minha mãe e disse
que eu não estava bem. Não contei para minha mãe", relatou.
A reportagem foi até a Prefeitura de Uruburetama, mas um servidor
afirmou que o prefeito havia acabado de sair e não voltaria mais ontem; e
até a residência do Doutor Hilson, onde familiares disseram que ele
também não estava. O advogado do prefeito, Kaio Castro, afirmou que tem
absoluta certeza que as denúncias por crime sexual não procedem e são
motivadas por disputa política. "Essas mulheres nunca fizeram B.O.
(Boletim de Ocorrência) ou denúncia à Polícia. Isso foi porque pessoas
da oposição foram atrás dessas mulheres para contarem essas histórias. A
mulher que aparece no vídeo é amante do prefeito, eles gravavam para o
prazer deles. E o local da filmagem é um imóvel particular", alegou o
advogado, rebatendo as denúncias que seu cliente praticou atos
libidinosos no posto de saúde e no hospital público da Cidade.
Kaio Castro afirmou que não existe nenhum procedimento investigativo no
Ministério Público contra o político; e que o Conselho Regional de
Medicina (CRM) não abriu sindicância contra o médico. José Hilson foi
denunciado ao CRM pelo estudante de Direito, Luiz Felipe Barroso da
Cunha. No documento, ele alega que o médico violou o Código de Ética
Médica, devido aos crimes sexuais, e pede que o registro do representado
seja cassado. O estudante ainda pede que, até que terminem as
investigações, o Doutor Hilson seja suspenso imediatamente do exercício
da Medicina.
A assessoria de comunicação do Conselho informou apenas que o caso deve
permanecer em sigilo até que o Plenário ou as instâncias responsáveis
se pronunciem sobre a veracidade dos fatos. O órgão afirma não ter tempo
determinado para a análise do documento.
O prefeito de Uruburetama reagiu também denunciando aqueles que elegeu
como criadores de um boato. O político, acompanhado do seu advogado,
foram até o 13° DP (Cidade dos Funcionários), em Fortaleza, para abrirem
um procedimento contra um vereador da oposição e um empresário por
extorsão.
Segundo Castro, a dupla tentou forçar o pedido de renúncia do prefeito
Doutor Hilson, com as ameaças de difundir os vídeos com conteúdo sexual.
O político também já procurou a Polícia Civil para fazer uma
queixa-crime por calúnia e difamação contra quatro mulheres que dizem
ter sofrido abuso sexual praticado pelo médico.
Investigação
As autoridades investigativas optaram pelo silêncio. Procurada, a
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), através da
assessoria de comunicação, respondeu que não poderia informar se um
inquérito policial foi instaurado para investigar as denúncias contra o
prefeito, pois o caso corre sob sigilo de Justiça. A reportagem esteve
na Delegacia Municipal, da Polícia Civil de Uruburetama - que funciona
sem delegado -, foi informada por policiais que as denúncias contra o
Doutor Hilson são investigadas na Regional de Itapipoca. Nessa Unidade,
por sua vez, a delegada que substitui o titular (de férias) afirmou que
não falaria sobre o assunto para não atrapalhar o trabalho do colega.
O promotor de Justiça de Uruburetama também foi procurado, mas a sua
assessora informou que ele também estava de férias e que, somente nos
próximos dias, a representante do Ministério Público do Ceará (MPCE) de
Umirim irá assumir os trabalhos do Município vizinho, durante este mês.
Diário do Nordeste