O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou em entrevista ao
Estadão/Broadcast estar convicto de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, condenado e preso na Lava Jato, não conseguirá disputar a
Presidência nas eleições deste ano. Caso este cenário seja confirmado,
Santana defendeu que seu partido apoie a candidatura presidencial do
ex-ministro Ciro Gomes (PDT), seu padrinho político, e indique o
ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) como vice. Segundo ele, o
PT “não pode apostar no isolamento suicida”. A seguir, leia os
principais trechos da entrevista:
Estadão – Como avalia a estratégia de setores do PT de insistir na candidatura do ex-presidente Lula?
Camilo Santana -Respeito a posição do partido. Sempre tenho colocado que
Lula é vítima de uma grande injustiça, mas acho que o momento não é de
radicalismo. Sei que o desejo de todos nós era o Lula poder ser
candidato. Mas entre querer que ele seja candidato e a realidade atual
existe uma ponte muito grande.
E – Defende, então, o apoio do PT a outro candidato?
CS – Parto do princípio de que o PT, sem dúvida nenhuma, é hoje o maior
partido deste País. Agora, não acredito que vão deixar o Lula ser
candidato. Isso é um fato. Não adianta a gente se enganar. Acho que ele
poderá contribuir muito nesse processo eleitoral, mas não como
candidato. Não permitirão isso. E penso que o Ciro é hoje, sem dúvida
nenhuma, o principal nome para unir as esquerdas e garantir as
conquistas sociais alcançadas durante os 12 anos do PT no poder. Ciro
sempre foi um aliado fiel. Negar isso acho que seria injusto. Acho que o
PT tem uma grande oportunidade de fazer esse debate. Não podemos nos
isolar. O momento é de união, não de isolamento. O momento não é de
radicalismos, isso não vai levar a nada. O momento é de reflexão,
serenidade, desprendimento. Acho que quem pensa de verdade no partido,
na sua história de luta, de conquista, não pode apostar no isolamento
suicida.
E – O que o sr. chama de isolamento suicida?
CS – Exatamente isso. Claro que o desejo, a vontade nossa, e da grande
maioria do povo brasileiro, é o Lula presidente. Desejar é uma coisa, a
realidade é outra. A realidade, e estou convicto disso, é que não
acredito que vão deixar o Lula ser candidato. E nós vamos estender isso
até quando? Vamos prorrogar isso até quando? A partir do momento que
isso acontecer, acaba o PT, talvez, ficando isolado. Essa é minha
preocupação.
E – E quando esse debate deve ser feito?
CS – Agora, já preparando, pavimentando aí. Independente do que vai
acontecer, acho que precisa ter essa clareza. Pode ser que a decisão dos
partidos de esquerda seja cada um lançar um candidato no primeiro turno
e apostar no segundo turno. Mas acredito que isso seja um risco de
insucesso de uma candidatura que possa representar uma visão
progressista do País.
E – Setores do PT defendem outro nome do partido?
CS – Há quase dois anos defendia que (ex-prefeito de São Paulo Fernando)
Haddad fosse vice do Ciro ou vice-versa. Só acho que Ciro é uma pessoa
preparada, que defende princípios e políticas de esquerda desse País. É
inteligente, pensa o País e se credenciou para se colocar como uma das
opções.
E – O sr. apoiará Ciro, independentemente da decisão do PT?
CS – Estamos aguardando esse diálogo. O próprio partido sabe da minha
relação com o Ciro, com o Cid, uma parceria, uma relação política muito
forte. É uma pessoa em quem acredito. Estou na perspectiva de construir
uma aliança ainda no primeiro turno. E vou trabalhar para isso,
independente de ser o PT na cabeça e o PDT na vice, ou vice-versa. Mas
acho que o único nome que o PT teria para construir uma candidatura
viável é o nome do Lula. Não sendo Lula, defendo que o nome seja o do
Ciro e que o PT indique o vice já no primeiro turno, para que a gente
possa construir e ter tempo para pavimentar, para consolidar uma
candidatura forte nessas eleições de 2018.
E – Já levou esse debate para o partido?
CS – Conversei com Jaques Wagner, com governador Rui (Costa, da Bahia),
com Wellington Dias (governador do Piauí), conversei também com alguns
governadores que não são do PT.
O POVO Online