O Ceará passou de segundo maior produtor de tilápia do Brasil para a
20ª colocação, entre 2013 e 2017. O setor já movimentou a economia
regional, gerando milhares de empregos, em particular nos dois maiores
polos, os açudes Castanhão e Orós. Hoje, o desafio é retomar a atividade
a partir da utilização de novas tecnologias de reúso de água e de
produção em tanques bioflocos (BFT).
Os dois maiores açudes do Estado do Ceará e principais polos de
produção de tilápia, Castanhão e Orós, acumulam menos de 10% do volume
máximo. A produção de tilápia estimada em 2013 foi de 30 toneladas/ano
no Ceará. Em 2015, caiu para 19 mil t/ano. Em 2017, segundo dados da
Associação dos Piscicultores do Ceará chegou a 7 mil t/ano. Nos dois
reservatórios, mais de 700 famílias foram afetadas.
A estiagem verificada a partir do ano de 2012 e a permanente perda de
reserva hídrica nos grandes açudes provocaram uma queda assustadora da
produção regional. Os cultivadores de base familiar foram os mais
afetados e o desafio é encontrar alternativas para a retomada dos
criatórios.
O panorama da atividade econômica, os desafios, o quadro atual dos
pequenos produtores, a falta de organização da cadeia produtiva no
Estado foram abordados em uma pesquisa que começou a ser feita em 2015,
pela Embrapa Pesca e Aquicultura, com sede em Palmas, Tocantins, e que
resultou em quatro publicações que traçam um diagnóstico sobre a cultura
da tilápia no Brasil. O Instituto Centro de Ensino Tecnológico
(Centec), por meio de cooperação técnica, participou da pesquisa com
outras instituições. No Ceará, os levantamentos foram realizados em dois
polos: Castanhão e Orós, os maiores produtores do Estado.
A coordenadora da área de pós-graduação e pesquisa do Centec, Elda
Tahim, engenheira de pesca e doutora em Economia, foi a responsável pelo
acompanhamento e colaboração na pesquisa de campo e elaboração do
diagnóstico da tilapicultura cearense. A pesquisa resultou em dois
livros e dois documentos. Os livros estão disponíveis no site do Centec:
"Dimensão socioeconômica da tilapicultura no Brasil" e "Diagnóstico da
cadeia de valor da tilapicultura no Brasil". Os documentos, finalizados
em 2015, apresentam as temáticas: "Gerenciamento genético da tilápia nos
cultivos comerciais" e "A importância da organização da cadeia de valor
da tilápia na gestão da crise hídrica".
A pesquisadora destacou a importância do estudo para a área a partir de
um amplo trabalho de campo. "Os estudos mostram a realidade da produção
de tilápia no Brasil", pontuou.
Desafios
A Elda Tahim pontuou que o desafio passa pela necessidade de
organização da cadeia produtiva e da utilização de novas tecnologias
para a criação de tilápia. "Existem os sistemas fechados de reúso de
água e de cultivo em bioflocos, mas que são mais caros e, por isso, os
pequenos produtores precisam de apoio, de área e de acesso à água. Essa
será a saída e não vejo, no momento, possibilidade de retomada dos
criatórios nos açudes. Não dá para ficar sempre na dependência de
chuva", pontuou.
Sem orientação técnica, financiamento, a atividade permanece
comprometida no Ceará. O modelo de criação em gaiolas submersas nos
açudes está inviável diante do baixo volume. "Jaguaribara foi a que mais
sentiu, pois a economia local dependia da tilápia no Castanhão",
observou Elda Tahim. "A cidade está parada, os representantes de rações,
de equipamentos, toda a cadeia produtiva foi afetada e veio o
desemprego".
Ainda segundo a pesquisadora do Centec, a renda média do produtor de
base familiar era de 1,5 salários mínimos mensais. "Houve uma mudança
significativa nessas áreas de produção com reforma das casas, aquisição
de eletrodomésticos e de veículos. Apesar das dificuldades, creio que,
em dois anos, novos sistemas de produção devem estar consolidados",
acredita.
Diário do Nordeste