Candidatos ao Governo do Estado, que fazem campanha em áreas vulneráveis
de Fortaleza, Juazeiro do Norte, Sobral, Maracanaú e Caucaia, aprovam a
decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de solicitar auxílio de
forças federais para garantir a segurança ao pleito deste ano nesses
municípios. Alguns postulantes revelam dificuldades que tiveram nos
primeiros dias da campanha, que, inclusive, influenciaram mudanças de
agendas para que evitassem determinadas áreas comandadas por facções
criminosas.
Na última quarta-feira (22), os juízes do TRE decidiram encaminhar ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) requisição de reforço para garantir a
segurança das eleições nesses municípios com mais de 100 mil eleitores.
Hoje, a desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira, comunicará ao
governador Camilo Santana da decisão da Corte Eleitoral. A requisição da
força, em Brasília, é feita pela presidente do TSE, ministra Rosa
Weber.
Sobre dificuldades que tenham enfrentado nos primeiros dias de campanha
em áreas vulneráveis, candidatos ao Governo do Estado relataram,
inclusive, que tiveram que mudar agendas, visto o perigo para militância
e candidatos.
O governador Camilo Santana (PT) afirmou que a questão da
violência tem sido tratada por tribunais eleitorais de todo o País, e
não apenas no Ceará. "Tanto é que o Tribunal Superior Eleitoral já
autorizou, até agora, a solicitação de tropas federais para ajudar nas
eleições em, pelo menos, quatro estados: Piauí, Maranhão, Acre e Rio de
Janeiro". Candidato à reeleição, ele disse que dialoga com o TRE para
discutir necessidades, de modo a garantir apoio por meio de forças de
segurança locais.
"Temos no Ceará um efetivo de mais de vinte mil policiais, que tem feito
um grande trabalho, e que confio muito. A ideia é que haja um trabalho
colaborativo com órgãos federais que já atuam no Ceará, como a PF e PRF,
por exemplo", detalhou. O chefe do Executivo relatou que tem feito
campanha dentro do cronograma planejado, conversando com a população.
"Assim continuaremos fazendo durante todo o período", disse.
Temor
General Theophilo, do PSDB, já tem experiência na chamada
GVA (Garantia da Votação e Apuração), que são as operações em que o
Exército participa das eleições. Segundo ele, "a presença do verde-oliva
nas ruas dá muita paz e calma nesses casos".
O candidato disse que esteve no bairro Cajazeiras, palco de chacina que
vitimou 14 pessoas neste ano, e percebeu o quanto a população está
"amedrontada", evitando participar da campanha. "Ainda não visitei
alguns bairros, como Vicente Pinzón ou Barra do Ceará, mas sei que,
quando for, vou perceber algum tipo de resistência".
Hélio Góis, do PSL, opinou que a sensação de insegurança é
generalizada no Estado e, como candidato, "é impossível saber a
realidade de perto de algumas localidades já tomadas pelo crime". Ele
também lamentou que a pauta da Segurança Pública deixe outros temas,
também urgentes, em segundo plano. "Isso é um indício veemente de que as
facções estão interferindo diretamente ou mesmo determinando os rumos
do nosso Estado".
Para Ailton Lopes (PSOL), a convocação de Forças Federais se deve
ao atual quadro de insegurança instalado por uma política "equivocada"
dos últimos governos, o que, para ele, vem "alimentando as organizações
criminosas". "A gente reconhece que essa lógica das facções alterou o
próprio modo de vida da sociedade. A pessoa não pode ir ao posto de
saúde ou outra escola porque corre risco de vida", lamentou.
Mikaelton Carantino, do PCO, afirmou que, nas comunidades
em que tem andado, ouve das pessoas relatos de que a violência é fruto
principalmente da falta de emprego e dos baixos salários. Ele, porém,
afirmou que, como morador da periferia, não teve problemas em entrar e
sair de comunidades em áreas de vulnerabilidade. "O debate sobre a
violência está na nossa campanha, e ninguém melhor do que as verdadeiras
vítimas para tratar sobre o assunto".
Francisco Gonzaga (PSTU), por sua vez, disse que não adianta
convocar tropas federias para garantir eleições "e, no dia seguinte,
voltar à realidade que vivem os pobres de nossas cidades, todo dia no
meio dessa guerra". Segundo informou, todos os postulantes de seu
partido moram na periferia e "vivem essa violência desenfreada".
Diário do Nordeste