Pesquisadores do Museu Nacional nutrem a esperança de que parte do
acervo, justamente peças mais raras e valiosas, possa ter sido salva do
fogo dentro de cofres e armários de aço especiais. Entre essas, está o
crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, com
mais de 12 mil anos.
Eles reconhecem que o trabalho não será fácil, pois o interior do prédio
ainda está muito quente e os dois andares superiores desabaram sobre o
térreo, formando uma grossa camada de cinzas, carvão, ferros retorcidos e
tijolos.
A vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, estima que serão
necessários, pelo menos, R$ 15 milhões para iniciar a restauração do
prédio.
“As pessoas foram de manhã tentar achar a Luzia, mas parece que ela
estava em uma caixa e tem muito escombro. A gente não sabe se dentro
dessa caixa ela possa ter resistido. Tem que haver a perícia, para
liberar o prédio e os pesquisadores entrarem de fato e retirar os
escombros. A parte lá de trás, do departamento de geologia e
paleontologia, parece que sobrou alguma coisa”, disse a vice-diretora do
museu, Cristiana Serejo.
Segundo ela, alguns departamentos guardavam peças mais valiosas dentro
de cofres que podem ter resistido às altas temperaturas. “Existe [esta
possibilidade]. A gente vai ter que aguardar. Mas a coleção de
entomologia, de insetos, que ficava no terceiro andar, não resistiu.
Isto foi uma perda gravíssima. Estava em armários compactadores, mas
como desabaram, foi um impacto muito grande”, afirmou Cristiana.
Dinossauros
Os esqueletos de dinossauros que estavam em exposição eram, em sua
maioria, réplicas, segundo o pesquisador Helder de Paula Silva, um dos
responsáveis pela coleção de paleontologia. Grande parte, com maior
valor científico, ficava dentro de um armário de aço compactador, que é
fechado e pode resistir a impactos e a altas temperaturas, desde que não
sejam extremos.
“Nós ainda temos esperança de que a coleção tenha se salvado, pois uma
boa parte desse material não estava na parte que foi mais atingida, que
era a da exposição, e sim na reserva técnica, dentro de armários
compactadores. A maioria desses armários estava fechada, no térreo, e
foi atingida por material que caiu dos andares superiores. Então não dá
para saber o estado do material que estava lá dentro. Mas temos
esperança de que alguma coisa tenha sido preservada em condições de
ainda ser aproveitada”, disse Helder.
Biólogo, Helder foi um dos primeiros a chegar ao museu, cerca de meia
hora depois do incêndio começar, por volta das 19h30 de domingo (3). Ele
ajudou a guiar os bombeiros a entrarem no prédio e ficou no local até
as 3h, quando foi para casa. Com apenas duas horas de sono, ele retornou
ao prédio do museu às 6h.
“O crânio de Luzia estava em uma região que foi bem atacada pelo fogo,
difícil de ser acessada, e não conseguimos localizar”, contou Hélder. Já
sobre as múmias egípcias, ele considerou que foram totalmente perdidas,
com exceção de uma, que estava em uma sala e que talvez esteja ainda
preservada.
O pesquisador e professor Renato Cabral Ramos também tem esperanças de
encontrar algumas peças intactas, que ficaram guardadas dentro de cofres
nos departamentos.
“Eu estive no departamento junto com um bombeiro para vermos a situação.
Estava muito quente, com muita fumaça, o chão ainda fumegando. Eu vi
que os armários compactadores, de aço, ainda estão em pé, com muito
entulho em cima. A gente tem esperança de que os fósseis ali dentro
possam ser salvos, assim como os materiais que estavam dentro dos
cofres”, disse o pesquisador.
Agência Brasil