O diretor do Museu Dom José Tupinambá de
Sobral (CE), o arquiteto Antenor Coelho, alerta que o risco de incêndio
no equipamento "é o risco de quase todo museu histórico no Brasil, já
que o prédio é muito antigo". O gestor avalia que o recurso do poder
público garante a manutenção do dia a dia. Porém, uma reforma ideal,
levando em conta a estrutura antiga, como a preservação dos pisos de
madeira, por exemplo, custaria bem mais cara. O equipamento cultural é
um dos maiores museus de arte sacra do País.
"Tem a manutenção da coberta, e seria necessário trocar todo o madeiramento. O Iphan(Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que tombou o prédio) aprovou um projeto de reforma pelo PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento). Mas as verbas foram cortadas quando o
(Michel) Temer assumiu (a presidência)", pondera o diretor.
O Museu Dom José Tupinambá pertence a Diocese de Sobral e é mantido, hoje, pela Universidade do Vale do Acaraú (UVA),
do Governo do Estado, com apoio da prefeitura do município. "Os poderes
que existem em Sobral apoiam o museu. Mas pela idade e estrutura do
prédio, as reformas exigiriam um cuidado maior. O madeiramento e a
fiação são antigas. A gente só tem recurso pra fazer obras preventivas e
manter minimamente o que vem dando problema", detalha Antenor Coelho.
Museu não tem plano de contenção aos domingos
Enquanto o museu é gerido nessas condições, o diretor coloca que, para a prevenção de incêndio, o equipamento tem à disposição extintores de incêndio. Aos domingos, quando o museu está fechado e os funcionários estão de folga, não existe plano de contenção.
Antenor conta que o Corpo de
Bombeiros fiscaliza as condições de funcionamento do equipamento, mas
isso não garante "um plano de incêndio que nos dê segurança". O gestor
detalha que assina, a cada ano, um contrato de manutenção do expediente
do Museu Dom José Tupinambá junto a Prefeitura Municipal de Sobral, a
fim de garantir uma verba de R$ 3 mil por mês.
O gestor acredita que, com a
tragédia que destruiu o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro (RJ),
a sociedade e a própria comunidade museológica devem olhar com mais
atenção para a segurança dos equipamentos.
"Um acidente grave desses serve para
isso também, para se abrir os olhos. O Museu da Língua Portuguesa (SP)
foi incendiado há três anos. O próprio Instituto Brasileiro dos Museus
(Ibram) fala em inclusão digital, em educação, mas quando vão falar da
segurança dos museus?", questiona Antenor Coelho.
Material exposto no museu sobralense é "muito inflamável
O diretor detalha que, além de
exigir um cuidado distinto na manutenção, a estrutura física do prédio
do museu sobralense e do material exposto é "muito inflamável".
"A grande maioria dos expositores e o
piso são de madeira. As pinturas são inflamáveis, com materiais mais
inflamáveis ainda. Na parte mais antiga, no casarão que dá para a
Avenida Dom José, é teto de madeira antiga, o mobiliário europeu
também", alerta.
Para Antenor, a sociedade brasileira
não tem a dimensão de como o acidente com o Museu Nacional "é grave
para toda a humanidade. É a história virando pó. É triste o desinteresse
pelos museus nesse País", lamenta.
Felipe Gurgel