Após quase duas semanas de combate ao fogo em dois assentamentos na
zona rural deste Município, os brigadistas de Emprego Prevfogo, do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) conseguiram eliminar mais riscos de incêndio em cerca de cinco
mil hectares de mata nativa dessas duas áreas federais. Pelos cálculos
preliminares, 30 hectares da Caatinga preservada foram devastados pelas
chamas. Entretanto, os levantamentos reais dos danos ao meio ambiente
ainda estão sendo realizados.
Na avaliação do chefe de Brigada de Pronto Emprego do Ceará, Talys
Anderson Silva, a devastação da flora e da fauna nos assentamentos
Jacurutu e Lagoa Verde, a cerca de 25Km da sede, não foi maior porque o
Grupamento do Corpo de Bombeiros no Município, com o auxílio de 60
moradores, agiu quando as chamas começaram a se alastrar pela região.
Apesar de não conhecerem as técnicas de controle de incêndios
florestais, a contribuição foi significativa.
Tanto os brigadistas quanto os assentados lamentaram a demora da
chegada do Prevfogo no local dos focos. O presidente do Assentamento
Jacurutu, Antônio Francisco Bernardino, conhecido como "Antônio Mota",
admitiu o atraso em acionar a única equipe do Ibama no Estado. Ele
desconhecia o serviço. Só ficou aliviado quando eles isolaram os riscos,
já que os pontos de fogo se multiplicaram.
Desde a fundação do Assentamento, em 1995, nunca havia ocorrido um
incêndio dessas proporções. Parte dos moradores até produz carvão, mas
por meio de plano de manejo, garante. Como o período de estiagem
começou, também estavam cortando lenha, de forma sustentável, segundo
suas informações. Tudo virou cinzas nos últimos dias, lamentou,
destacando o esforço dos bombeiros militares no primeiro combate. Mas
havia lugares aonde o caminhão-tanque não chegava. Apesar de seca, a
mata é muito fechada, principalmente quando se aproxima dos serrotes.
Dificuldades
Esse foi o principal obstáculo encontrado pelos 15 brigadistas do
Prevfogo. Eles se dividiram em equipes e, desde quarta-feira (29), após
montarem acampamento no Jacurutu, passaram a se reservar no isolamento
dos focos. Trabalharam das 5h ao meio-dia e das 15h seguindo noite
adentro, quando é melhor de identificar os pontos de risco. Nos
caminhos, muita fumaça e árvores caídas nas estradas abertas por um
trator disponibilizado pela Secretaria de Infraestrutura de Canindé.
No início dos trabalhos foi feito o mapeamento da região e o
planejamento dos acessos até os pontos mais difíceis e perigosos. Para
chegar lá é preciso utilizar os equipamentos de proteção individual
(EPIs) e também estar em boa forma. Apitos e GPS auxiliam os batedores
na orientação do restante da equipe. Falta um drone para avaliar e
nortear o caminho mais rápido aos focos, quando não houver acesso.
Enquanto os brigadistas trabalhavam, alguns moradores conheceram
técnicas de eliminação de focos de incêndio. Os principais equipamentos
são sopradores costais. Uma máquina dessas pode realizar o serviço de
cinco combatentes. Com ela, é possível abrir as linhas de defesa, como
são chamados os isolamentos de solo para evitar a continuidade da
combustão da mata. Outra opção é abrir valas.
Sobre o início do incêndio, o líder comunitário informou ter sido
provocado provavelmente por alguém, ao fazer fumaça para espantar
abelhas e colher mel mata adentro. Garantiu se tratar de invasores. Como
a propriedade é muito extensa, não há como controlar a entrada de
estranhos, ressaltou, lamentando o prejuízo causado a muitos moradores,
apesar de as casas de mais de 150 famílias não terem sido atingidas.
Muitos ficaram assustados. Agora, sabem como agir se outra situação
dessa natureza se iniciar.
Criado em abril de 1989, o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos
Incêndios Florestais (Prevfogo) passou a coordenar as ações necessárias à
organização, implementação e operacionalização das atividades
relacionadas com a educação, pesquisa, prevenção, e controle e combate
aos incêndios florestais e queimadas em Unidades de Conservação (UCs) da
União. No ano seguinte, o Prevfogo definiu como objetivo primordial
estabelecer mecanismos emergenciais de proteção contra incêndios nas UCs
mais sujeitas a esse tipo de ocorrência. Para tanto procurou dotá-las
de infraestrutura e meios para prevenção e combate aos incêndios
florestais, bem como de recursos humanos capacitados.
No Ceará, a equipe de campo é formada por 30 brigadistas, 29 homens e
uma mulher. Eles são profissionais treinados, contratados
temporariamente, por seis meses, época da estiagem na região. A base
fica localizada em Quixeramobim, no Sertão Central. É acionada por meio
do Núcleo de Operações do Prevfogo, em Fortaleza.
Crime ambiental
Os ventos fortes e a vegetação seca desta época são os principais
fatores do alastramento do fogo causado pelo ser humano. Por isso é
importante ter cuidado e atenção, mesmo nos casos de queimadas, quando o
fogo é controlado, geralmente por trabalhadores rurais, em áreas de
cultivo. Qualquer descuido pode provocar um incêndio de grandes
proporções, explica Talys Silva. "Vale lembrar que causar incêndio em
mata ou floresta é crime ambiental. Está previsto pela Lei Nº 9.605/98. A
pena, nesses casos, é de reclusão de dois a quatro anos e multa",
acrescenta.
Diário do Nordeste