Na primeira entrevista que concede depois do primeiro turno das
eleições, o emedebista afirma que pretende contribuir com o governador
Camilo Santana (PT), de quem se reaproximou meses antes da corrida
eleitoral. Questionado se descarta concorrer a nova eleição, o
parlamentar filosofou: "Alguém disse que a política é a única forma que
você tem de nascer e morrer várias vezes".
Confira a entrevista concedida ao jornal O POVO
O POVO - O senhor manteve uma agenda intensa em Brasília com o
governador Camilo Santana (PT) nesta semana. Como foram esses dias?
Eunício Oliveira - Temos várias pendências em relação a recursos para o
Ceará. Eu disse para o governador que, até o último dia, e enquanto
tiver forças, vou continuar trabalhando para agradecer ao povo do Ceará.
Dois dias depois das eleições, estava liberando 50 milhões de dólares
para Sobral. O governador tinha preocupação com recursos para custeio
para a saúde. Fizemos reunião com o ministro (da Saúde), e ficou tudo
bem, resolvemos tudo. Depois tinha preocupação com estradas federais,
que estão no Ceará. Acertamos algumas, como a 230, que passa em Lavras.
São várias estradas que serão recuperadas a partir de novembro. Havia
também a preocupação com recursos para o Anel Viário. O governador tinha
uma preocupação com a questão de um terreno na Praia de Iracema, que é
dos Correios. O governo tem interesse nele por causa de uma área que
pega o Acquario.
OP - É terreno para cessão?
Eunício - Sim, para cessão. E o Governo Federal concordou. O ministro
Kassab (das Cidades) concordou. Camilo tinha preocupação com o Minha
casa, minha vida. Também queria amarrar recursos para o metrô de
Fortaleza. Então fizemos R$ 1 bilhão de empréstimo e os R$ 675 mil, que
seriam a contrapartida do Ceará no contrato, entraram como parte do
Orçamento da União. Havia pendência também para o Cinturão das águas,
pequenas adutoras, várias obras e outras coisas menores. Tudo isso soma
R$ 54 milhões. São coisas nas quais eu venho ajudando o Estado. Tem dois
outros empréstimos grandes, que estão na Fazenda (ministério). Estão
bem encaminhados. Tem uma área da aeronáutica. Discutimos ainda questões
orçamentárias para os recursos do Estado, como, por exemplo, mais 200
areninhas para o Ceará.
OP - Quando são liberados os recursos para o Centro de Inteligência no Estado?
Eunício - Eu aprovei a MP (Medida Provisória) que regulamentou a criação
e a estrutura do Ministério da Segurança ontem (quarta-feira). Com isso
garantimos recursos para construção de dois novos presídios no Ceará e a
instalação do Centro Integrado de Segurança Pública.
OP - Mas quando o dinheiro sai?
Eunício - Os recursos estão garantidos, a partir de 2 ou 3 de novembro.
Durante esse mês, há garantia de que esses recursos serão liberados.
OP - Esse périplo por Brasília com o governador sinaliza que o senhor pode vir a fazer parte do governo Camilo em 2019?
Eunício - Eu quero contribuir com o governo Camilo. Como o orçamento
será feito por mim, quero deixar tudo com recursos garantidos. Pra
ajudar. Esse é o melhor. É como disse o Raul Jungmann, que me abraçou,
chorou literalmente comigo quando soube da derrota (de Eunício para o
Senado)... Meu compromisso é com o Estado. É como eu disse naquele dia.
Vou me recolher à vida privada, mas vou continuar contribuindo.
OP - Mas o governador sugeriu em coletiva que o senhor tem muito a fazer pelo Estado ano que vem.
Eunício - Mas aí é uma gentileza do governador. Minha preocupação é
ajudar de lá pra cá. Nenhum estado do Brasil recebeu tantos recursos do
Governo Federal como o Ceará nesses últimos meses. E acho que temos um
impasse porque não temos um nome consensual para dirigir a Casa. Estou
ainda avaliando como vai ser a nossa sucessão. Eu teria mais dois anos
de presidência (do Senado). Vamos ver como reorganizamos.
OP - O senhor não conseguiu se reeleger. Como o senhor avalia o resultado da eleição?
Eunício - Resultado é resultado de eleição. Democracia é assim. A população é assim. É democrática. É a regra da democracia.
OP - Camilo disse que tinha ficado surpreso com a sua derrota.
Eunício - Honestamente, até agora, não só o Camilo, mas todas as pessoas
que acompanharam a campanha ficaram surpresas, porque as pesquisas
internas apontavam noutra direção. A própria Rede Globo, na noite
anterior à eleição, publicou pesquisa que confirmava todas as outras
feitas de campo e de tracking. E elas me davam vantagem. Mas, no
domingo, fomos todos surpreendidos pelo resultado. Todos vocês, mais bem
informados do que eu, sabem o que aconteceu.
OP - O senhor descarta então assumir algum cargo público no Governo do Estado?
Eunício - Eu saí das empresas em 1998, quando me tornei parlamentar. Não
quero mais essa rotina. Eu sou da direção nacional do partido (MDB).
Vou fazer política partidária a partir do ano que vem. Quero acompanhar
todo o trabalho do Congresso. O que me deixa muito tranquilo é que todas
as pessoas, todos os senadores que estão no exercício, e até alguns
novatos que chegaram, estão surpresos (com a derrota). E agora, quem
concilia a Casa? Eu distribuía relatoria com todos os senadores. Como
isso será regido? E por quem será regido? Espero que por alguém melhor
que eu. E assim: me perdoe a falta de modéstia, mas isso me dá a
sensação de dever cumprido.
OP - O senhor descarta voltar a disputar uma eleição?
Eunício - Alguém disse que a política é a única forma que você tem de
nascer e morrer várias vezes. Não posso dizer que não vou mais disputar.
Neste momento, vou me recolher. Vivi 20 anos dedicados à causa pública.
Ate o final do mandato. Não é uma despedida, mas é uma obrigação que
tenho com o mandato. Dediquei 20 anos de minha vida a isso. Vou fazer um
misto, olhar um pouco mais pra família. Comemorar os aniversários, os
casamentos. Vou continuar a contribuir com meu Estado. Vou mesclar minha
vida.
OP - Durante evento pró-Haddad no Ceará na última segunda-feira, o
senador eleito Cid Gomes (PDT) disse ter convidado a ex-presidente Dilma
Rousseff (PT) para concorrer ao Senado pelo Ceará, mas o convite foi
barrado por Lula, que desejava reeleger o senhor no Estado. O senhor
tomou conhecimento disso?
Eunício - Eu tive conhecimento, sim. O presidente Lula mandou até um
emissário na minha casa em Brasília para afirmar isso. Um foi o senador
Lindbergh (Farias, do PT). E o outro foi o Walfrido dos Mares Guia
(empresário e educador).
OP - Que outro cargo público o senhor gostaria de ocupar na vida?
Eunício - Eu acabei de disputar uma eleição que eu queria, o Senado. É
uma Casa boa. Sempre gostei muito da vida parlamentar, que é um lugar
onde você dialoga buscando a convergência. Eu me considero um democrata.
Tenho pavor dos extremos, tanto de direita quanto de esquerda. Ditadura
de esquerda não presta nem da direita.
OP - Como o senhor projeta este segundo turno entre Jair Bolsonaro
(PSL) e Fernando Haddad (PT)? Mantém apoio ao petista? Acredita numa
virada?
Eunício - Eu sou exemplo disso. Tinha 43% no Ibope contra 16% do
adversário no sábado à noite. E, no domingo, perdi a eleição. Ninguém
tem eleição ganha. E nem eleição perdida. E a população resolveu fazer
uma troca de nomes. Vamos aguardar. Não sou de oportunismos. Sou de
manutenção de posicionamento. Tinha dito antes que iria votar no
presidente Lula e que votaria no candidato que o Lula indicasse. Vou
manter minha coerência. E depois vou tentar fazer a convergência e lutar
para que o Brasil continue democrático.
OP - O MDB seria oposição a um governo Bolsonaro?
Eunício - Eu defendo que o MDB se reinvente. Para isso, tem que sair
desse governismo. Não precisa ir para uma oposição radicalizada. Eu acho
que tem que ter posição de independência (em relação ao futuro
governo), de apoiar o Brasil, de ter a liberdade de votar contra aquilo
que não seja de interesse do País.
O POVO