Polêmica ordenação de homens
casados volta a ser levantada em sínodo com 300 bispos; investigação
apresentada no evento estima perda de 60 mil sacerdotes nas últimas décadas
O assunto não é novo. Mas voltou
a ser lembrado esta semana entre as paredes do Vaticano, graças à intervenção
do episcopado belga. Com mil “deserções” por ano para o casamento, não seria a
hora de a Igreja Católica rever a ordenação de homens casados?
O tema acabou não avançando, mas pode até ser retomado no ano que vem, quando
haverá um sínodo específico sobre a Amazônia.
O tema, polêmico, foi lançado
pelo auxiliar de Bruxelas, d. Jean Kockerols, a seus cerca de 300 colegas de
episcopado que participaram até sábado, 27, do encontro voltado para discussão
de vocações juvenis. “Estou convencido de que os jovens que decidiram casar-se
também podem ser chamados pela Igreja a servir, especialmente no ministério
sacerdotal”, disse, sob aplausos.
Em entrevistas posteriores,
Kockerols alegou também ter recebido apoio de outros prelados. “Disseram: Deves
continuar nesta direção, mas no café (nos intervalos).” Nos debates
públicos, o tema não avançou. “Estou decepcionado com a falta de reações
públicas. Um bispo chegou a comparar o tema com as estalactites (formações
rochosas sedimentares que se originam no teto de uma gruta), que demoram
muito tempo a crescer.”
A diminuição do número de
sacerdotes em todo o mundo é um dos fenômenos que mais afeta a Igreja Católica
no mundo – há crescimento apenas na África e na Ásia. Indagado em várias
ocasiões, o papa Francisco recordou que a proibição de ordenar padres não faz
parte da doutrina inicial da Igreja – que permitiu o casamento até o século 11.
O primeiro papa, Pedro, apóstolo de Jesus, era casado. Além disso, ritos
católicos orientais e ortodoxos já admitem a ordenação de sacerdotes casados.
Uma investigação independente,
apresentada no Vaticano em pleno Sínodo, aponta para a perda de 60 mil
sacerdotes nas últimas décadas – pessoas que deixaram a batina para casar. O
estudo corrobora outro levantamento, de 2007, que apontava para a perda de 69
mil padres, com essa motivação, entre 1964 e 2004. Em 2016, havia 414 mil
sacerdotes católicos em todo o mundo. Segundo o vaticanista italiano Enzo
Romeo, autor de um livro sobre o tema, são mil abandonos por ano – e vale
considerar que a Itália só tem 8 mil sacerdotes.
O tema pode voltar com força no
ano que vem. Um documento preparatório para o Sínodo da Amazônia, publicado em
junho, observou que “o clamor de milhares de comunidades privadas da Eucaristia
de domingo por longos períodos de tempo (pela falta de padres)” precisa ser
ouvido. E sugere o ordenamento “viri probati” – de homens idosos, casados, mas
com caráter e reconhecimento da comunidade (uma ideia que teria aval do papa
Francisco, segundo jornais alemães). Outra ideia é dar às mulheres atuantes na
região um “ministério oficial”. Uma polêmica, aliás, ainda maior.
Agências Internacionais