Até 2025, na região metropolitana
de SP, são estimadas 51.367 mortes e 31.812 internações públicas por doenças
respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão
Pelo menos 633 crianças menores
de 5 anos morrem por ano no Brasil vítimas de complicações relacionadas à
poluição, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira, 29, pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), com dados de 2016. Em todo o mundo, o
número de crianças dessa faixa etária vítimas do problema chega a 543 mil.
De acordo com a OMS, 93% das
crianças e adolescentes do mundo (o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas)
respiram diariamente ar com nível de poluição capaz de colocar a saúde em
risco. As partículas tóxicas provocam ou agravam problemas respiratórios que,
em alguns casos, podem ser fatais.
Segundo especialistas, o impacto
do ar de má qualidade tem início já na gestação, com o aumento da probabilidade
de mulheres darem à luz prematuramente.
"Desde o desenvolvimento
fetal, a criança já sofre os efeitos da poluição. O poluente é muito nocivo
para a saúde, porque o efeito não é só respiratório, é sistêmico, entra na
árvore respiratória, chega ao alvéolo, onde tem a troca gasosa, e entra na
circulação, causando efeitos nas artérias e no coração, principalmente. Na
gestação, leva a enfartes na parte circulatória da placenta, o que diminui o
aporte do oxigênio, podendo causar partos prematuros e até morte fetal",
explica a patologista clínica Evangelina de Araújo Vormittag, que é diretora de
responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina e diretora do
Instituto Saúde e Sustentabilidade.
Outro aspecto que prejudica nessa
fase da vida, especialmente entre as crianças mais novas, é o fato de o sistema
imunológico ainda estar em formação. "Com isso, tem menos chances de se
defender contra esse mal tóxico", afirma a médica.
Doenças como alergias, asma,
pneumonia e câncer infantil estão entre os problemas de saúde citados pela
entidade que podem ter como causa o contato com os poluentes.
Com 1 ano e 10 meses, Arthur já
sente os efeitos nocivos da poluição. Diagnosticado com rinite alérgica, o
menino, morador da zona leste da capital paulista, tem crises no período de
clima seco, quando os poluentes ficam mais concentrados. "Na última crise,
o problema evoluiu para infecção na garganta e no ouvido. Ele teve de tomar
antibiótico 15 dias", conta a mãe do menino, a advogada Monyse Tesser, de
32 anos.
Independentemente do clima, a mãe
estabeleceu uma rotina de cuidados para evitar complicações na saúde do filho.
"Faço lavagem nasal duas vezes por dia nele. Temos inalador, vaporizador,
tiramos tapetes de casa e não deixamos bichos de pelúcia no quarto dele."
Outros riscos
A exposição aos altos níveis de
poluição também aumenta os riscos de doenças crônicas, como as
cardiovasculares, e pode afetar o neurodesenvolvimento e as habilidades
cognitivas.
Segundo a OMS, peculiaridades das
crianças fazem com que elas se tornem mais vulneráveis aos efeitos da poluição,
como respirar mais rápido do que os adultos, fazendo com que a absorção de
poluentes seja maior, e viver mais perto do chão, onde essas partículas se
concentram. Isso em um momento em que seus cérebros e corpos estão em
desenvolvimento.
O contato com a poluição dentro
de casa, por meio de fogões a lenha e equipamentos de aquecimento e iluminação
que utilizam combustíveis poluentes, como o querosene, foi lembrado pela
entidade, que defende que sejam criadas políticas para que a população utilize
tecnologias livres de poluentes para cozinhar, iluminar e aquecer suas casas.
"Claramente precisamos
acelerar a mudança para fontes de energia mais limpas. Precisamos fazer com que
a população tenha acesso a combustíveis limpos. Provavelmente o mundo precisa
reduzir drasticamente a grande dependência de combustíveis fósseis",
declarou nesta segunda-feira a diretora do Departamento de Saúde Pública da
organização, Maria Neira.
Para proteger os filhos dos
efeitos da poluição, as recomendações para os pais são evitar andar em casa com
calçados usados na rua, umidificar o ambiente e hidratar as vias aéreas das
crianças, segundo Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico do Hospital
Infantil Darcy Vargas, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
"E o aleitamento materno é
fundamental. É um dos grandes mecanismos de defesa na primeira infância, porque
melhora a imunidade e ajuda no desenvolvimento da criança. Os pais também devem
garantir uma dieta saudável, com alimentos de boa procedência e evitar os
produtos industrializados." A OMS orienta que escolas e playgrounds sejam
instalados longe de locais como vias movimentadas e fábricas.
Manifesto
Na semana passada, cerca de 30
mil médicos da Associação Paulista de Medicina lançaram o manifesto Um Minuto
de Ar Limpo para abordar a necessidade de reduzir a poluição no ar para frear o
aumento de doenças ligadas ao problema em São Paulo. Os médicos demonstram
preocupação com a saúde da população, pois, de acordo com uma projeção do
Instituto Saúde e Sustentabilidade, se a poluição se mantiver a mesma deste ano
até 2025, na região metropolitana de São Paulo, são estimadas 51.367 mortes e
31.812 internações públicas por doenças respiratórias, cardiovasculares e
câncer de pulmão.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo