“Além de trabalhar pelas pessoas,
ela amava os animais. Em casa tínhamos araras, cães, marrecos, pavões… um
bezerro. Todos ficavam soltos. Para ela, eram como filhos”, lembra o engenheiro
geólogo Edson Albanez, marido da professora e secretária de Desenvolvimento
Social de Brumadinho, Sirlei Brito Ribeiro. E foi justamente por causa desse
amor pelos animais que Sirlei, provavelmente, abandonou a caminhonete para
salvar uma cachorrinha, a Bibi. A professora é um dos 134 mortos da tragédia da
Vale, que ainda é responsável por 199 desaparecidos.
O Corpo de Bombeiros acredita,
pelo cenário encontrado, que Sirlei já estava dentro da caminhonete da família,
quando decidiu voltar para resgatar a Bibi, uma Lhasa Apso de nove anos. A
posição em que a chave do carro estava indica que ele foi deixado ligado. Não
houve tempo. A professora acabou sendo localizada já sem vida, em meio à lama,
abraçada à cachorrinha. Os demais bichos da família conseguiram fugir,
inclusive a outra cadela, Lisbela, uma rottweiler de dois anos. Eles estão em
abrigos, montados em Brumadinho, especialmente para acolher animais afetados
pela tragédia.
No momento em que a barragem se rompeu, Sirlei estava em casa com uma funcionária e com o jardineiro que trabalhava há uma década com a família. Ele contou aos bombeiros que ela perguntou que barulho era aquele, após o estrondo do rompimento da barragem. Percebendo que era algo grande, o jardineiro relata que saiu correndo, gritando para elas fugirem também. A funcionária doméstica estava dentro da casa e também correu gritando para Sirlei fugir com ela. A professora ficou e não foi mais vista viva. A equipe de resgate acredita que ela chegou até a caminhonete, mas voltou para salvar o animalzinho.
Arquivo pessoal |
O marido, Edson, havia saído para
uma reunião de trabalho em Belo Horizonte. Ele convidou a esposa, já que ela
estava de férias, mas Sirlei decidiu ficar. “Parece que fui rejeitado por Deus.
Saí às 11h para uma reunião às 12h. Reuniões são comuns às 10h, em outros
horários, mas na hora do almoço, não. Eu fui tirado de lá. Sinto como se Ele
tivesse dito pra mim ‘você ainda tem que ficar aí, tem muito a fazer. Ela já
está com o exercício de vida resolvido'”, afirma ao BHAZ. “E eu acredito nisso
pela pessoa especial, generosa que ela sempre foi. É uma solidão imensa, uma
dor profunda por ficar sem ela. Mas eu agradeço pela oportunidade de amá-la”.
Sirlei era muito querida onde
morava. O marido conta que ela sempre trabalhou em prol da comunidade. “A
Sirlei criou a associação comunitária, construiu um centro comunitário,
trabalhou para a instalação de poste de iluminação, era advogada e fazia
trabalhos sem cobrar. Todo mundo a conhecia. Resolvia tudo o que podia. Queria
salvar o mundo ao redor dela”.
Arquivo pessoal |
Sirlei tinha 48 anos, dos quais
13 anos vividos com Edson. Ele morava na casa há 27 anos, e ela se mudou para o
local quando se casaram. Edson pretende adotar outro estilo de vida e seguir no
ativismo social ao qual a esposa se dedicava. “Tudo o que eu construí em 40
anos de trabalho eu perdi. Tinha uma casa super luxuosa. Gastei uma fortuna na
construção e nos artigos dentro dela. Fiquei com a roupa do corpo. Essas coisas
todas não têm o menor significado. Vou viver uma vida simples, servindo às
pessoas. Eu recebo uma mensagem que é pra eu começar de novo de outra forma”.
BHAZ