Há exatamente quatro anos, o então ministro da Educação, Cid Gomes,
apontava o dedo para o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (MDB-RJ), reafirmando declaração que deu na mesma época e que
culminou numa das primeiras crises do segundo governo Dilma Rousseff
(PT).
"Eu fui, senhoras e senhores deputados, acusado de mal educado. 'O
ministro da educação é mal educado'. Pois muito bem, eu prefiro ser
acusado por ele (Cunha) de mal educado do que ser como ele acusado de
achaque, que é o que diz a manchete da Folha de São Paulo", declarou Cid
do plenário da Casa.
O cearense havia sido convocado pelos deputados federais a se
explicar no parlamento sobre a declaração dada em um evento que
participou na Universidade Federal do Pará. Cid teria dito que na Câmara
tem "uns 400 deputados, 300 deputados" que "achacam" o governo Dilma.
Na visita à Câmara, Cid foi acompanhado por deputados cearenses, que
aplaudiram o episódio das arquibancadas. "O plenário da Câmara dos
deputados não é lugar de claque", respondeu Cunha ao mandar retirarem os
apoiadores do ex-governador.
O então deputado federal Mendonça Filho (DEM-PE), parlamentar de
oposição à Dilma, subiu no púlpito e sugeriu que o MDB pedisse a
"cabeça" de Cid. "Ou o ministro se demite do cargo, ou a presidente
demite o ministro, ou os 400 deputados da base do governo assumem que
são achacadores. Não há outra opção. E aí o ministro fica no cargo",
defendeu.
O deputado federal Sérgio Zveiter (PSD-RJ) foi mais longe a provocou o
ministro que ouvia pacientemente todas as falas contrárias. "Esse
cidadão está aqui fazendo papel de palhaço. Eu poderia dizer que era
melhor esse cidadão pendurar uma melancia no pescoço", declarou. Após a
fala, Cid deixou o plenário.
A confusão gerada acabou culminando no pedido de demissão de Cid da
pasta da Educação, cargo que ocupou por menos de três meses.
Quatro anos depois
Passados quatro anos, Cid elegeu-se senador pelo Ceará e integra o
grupo de oposição ao Governo Federal, agora representado por Jair
Bolsonaro (PSL).
Eduardo Cunha está preso por consequência do desenrolar das
investigações da Operação Lava Jato. O emedebista recebeu pelo menos
duas condenações. A primeira é de 15 anos e quatro meses por corrupção,
lavagem de dinheiro e evasão de divisas, de março de 2017.
A segunda, de junho de 2018, é de 24 anos e dez meses. Os crimes são
corrupção ativa, lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional.
Diário do Nordeste