Parede danificada expõe risco de rompimento do Açude Luiz Carlos


Mais de oito mil pessoas, residentes no bairro Coaçu, em Pacajus, temem que a parede do Açude Luiz Carlos se rompa a qualquer momento. Construído há cerca de 40 anos, com recursos particulares, o reservatório só passou por três reformas ao longo das últimas quatro décadas. A parede do sangradouro está deteriorada, apresentando infiltrações e diversas rachaduras.

"Isso aqui pode romper a qualquer instante. Está muito perigoso, ninguém consegue mais viver com tranquilidade", desabafa a doméstica Claudiane Lima, que mora a poucos metros da barragem. É justamente essa aproximação do açude com os imóveis que causa temor às famílias da comunidade. "Se isso aqui estourar, não vai sobrar nada. É muita água, ela vai sair arrastando tudo pela frente", detalha a dona de casa Marilene Araripe da Silva. Ela mora no bairro há 34 anos.

Preocupação
Se, por um lado, as chuvas das últimas semanas trazem alívio aos produtores locais, por outro, é motivo de preocupação para quem mora próximo ao açude. "Está chovendo bastante. Há uma semana, a água estava bem mais baixa, hoje já está sangrando. A pressão está aumentando, já estamos esperando o pior", confessa Isabel Cristina Cavalcante Fialho.

O temor da comunidade pode ser explicado em números. Em janeiro deste ano, o volume pluviométrico observado em Pacajus ficou 115% acima da média para o mês (86.9 mm), de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). No mês seguinte, o órgão observou o acumulado de 234.6 milímetros, o que sinaliza 95% acima da média para fevereiro, que é de 120.1 mm. Nos primeiros dez dias de março, a Funceme já registrou 87.4 mm na cidade.
À medida que a água cai do céu, parte da população perde o sono. "Não lembro um só dia que eu consegui dormir neste mês. Não tem como. A casa chega a tremer. As noites de sono foram substituídas por noites de choro e pavor", conta Claudiane.

Paliativo

O secretário de Infraestrutura do Município, Rodrigo Nogueira, disse que, na tarde da última terça-feira (12), "engenheiros civis visitaram o açude para avaliar os riscos". O titular da Pasta reconhece o perigo iminente de rompimento, mas adianta que, por ora, só medidas paliativas podem ser adotadas. "Esse açude é antigo. A parede tem que ser completamente refeita, o que se torna inviável agora devido ao nível do reservatório", disse.

A primeira ação que a Prefeitura adotou, explica Nogueira, foi notificar as residências que estão próximas à barragem. "O local onde essas casas foram construídas era área verde, mas a outra gestão permitiu que as casas fossem construídas. De imediato, iremos fazer um reforço com pedras e britas, para fortalecer a parede e aumentar a pressão contrária", detalha o titular da Pasta.

As obras, segundo garantiu, devem começar ainda hoje e terão prazo de 15 dias para conclusão. "Quando o inverno acabar, vamos reduzir a parede do açude para, consequentemente, diminuir a capacidade do reservatório. Hoje, há muita pressão, e a estrutura física é antiga. Vamos refazê-lo", completa.

Responsabilidade

Atualmente, 155 reservatórios cearenses são monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). O Açude Luiz Carlos não integra esta lista por se tratar de um açude particular. A incumbência fiscalizadora, neste caso, fica a cargo da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado Ceará (SRH). No entanto, para um açude, com capacidade acima dos 3 milhões de m³, ser construído, deve existir uma solicitação à SRH que é a responsável por conceder as licenças.



(Diário do Nordeste)

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