Pais e mães angustiados debateram
intensamente, no fim de semana passado, vídeos infantis que teriam sido
"invadidos" pela temida personagem Momo, que supostamente ensina as
crianças a buscar objetos cortantes em casa e a praticar atos suicidas.
Grupos de pais e de escolas no
WhatsApp foram inundados por vídeos de conteúdo infantil (como os que ensinam a
fazer slime e da canção Baby Shark) em versões editadas, com interrupções de
alguns segundos, em que a personagem Momo, com dublagens em inglês e em
espanhol e imagens gráficas, estimula as crianças a cortarem os próprios
pulsos.
Embora os vídeos circulem
amplamente no WhatsApp, até hoje não havia nenhuma evidência concreta de que
tenha circulado na plataforma YouTube Kids, como diziam os rumores divulgados
por WhatsApp - nem o Ministério Público, nem ONGs de segurança na web nem o
próprio YouTube encontraram qualquer indício disso.
O que não significa que não haja
motivos para pais se preocuparem: há, de fato, riscos reais em crianças serem
expostas a conteúdos amedrontadores, indutores do suicídio e impróprios para
sua idade.
No entanto, especialistas sugerem
aos pais que parem de compartilhar o vídeo com a personagem Momo, mesmo que a
intenção por trás disso seja a de alertar amigos. Também recomendam que
aproveitem a oportunidade para ensinar navegação segura às crianças.
O assunto já chegou ao Ministério
Público: o Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos (Nucciber), do MP da Bahia,
instaurou investigação sobre o caso e notificou YouTube e WhatsApp, para pedir
que eventuais vídeos sejam removidos das redes ou tenham seu compartilhamento
restringido.
A seguir, veja o que se sabe
sobre os vídeos até o momento, como proteger as crianças e como falar com seus
filhos sobre conteúdo impróprio na internet, segundo especialistas consultados
pela reportagem da BBC News Brasil.
O que é a Momo?
A imagem usada para ilustrar Momo
é de uma escultura japonesa, de uma mulher-pássaro, que foi exposta em 2016
numa galeria de arte em Ginza. A personagem com olhos esbugalhados e sorriso
sinistro teve sua imagem disseminada pelo WhatsApp, como um desafio viral que
começou no México e se espalhou pelo mundo no ano passado, no qual os
participantes eram estimulados a se comunicar com um número desconhecido.
Nessas conversas, autoridades
identificaram que os participantes eram expostos a mensagens de conteúdo
violento e de estímulo ao suicídio. Também havia temores de que participantes
tivessem seus dados pessoais roubados.
Depois, versões da Momo
estimulando o suicídio de crianças foram inseridas no meio de vídeos
tradicionais infantis - especialistas acreditam que pessoas mal-intencionadas
baixem esses vídeos originais (como os da canção Baby Shark e da massinha
slime), editem com inserções de alguns segundos da Momo e compartilhem-nos
online. Há diferentes versões, mas elas giram, basicamente, em torno de uma voz
distorcida que pede a crianças que busquem objetos afiados e se cortem com eles
Por que tanta gente está falando
sobre a Momo agora?
O caso chegou aos trending topics
do Twitter no Brasil e ganhou repercussão depois de o relato de uma mãe a um
site de notícias viralizar. Na reportagem, ela conta que a filha viu aparições
da Momo ao menos três vezes - quando a mãe mostrou o vídeo à criança, a menina
ficou muito abalada.
O relato gerou a suspeita de que
houvesse "invasões" da Momo em vídeos da plataforma YouTube Kids -
voltada para crianças de até 13 anos e com restrições em tese mais rígidas do
que as do YouTube tradicional.
A BBC News Brasil conversou com o
Ministério Público da Bahia, com o YouTube e com as ONGs de monitoramento da
web Safernet e DimiCuida. Até esta segunda-feira, nenhum deles havia encontrado
nenhuma URL que confirmasse a presença do vídeo na plataforma Kids.
"Ao contrário dos relatos
apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou
promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas
políticas e seria removido imediatamente", afirmou o YouTube em nota. A plataforma
não esclareceu, porém, detalhes da política de segurança para quem tenta subir
vídeos na plataforma Kids.
"Pode ser também que tenha
havido algum vídeo que já tenha sido tirado do ar (da plataforma) após
denúncias. O que vemos é que esse tipo de conteúdo não vem de uma fonte única,
já que essas plataformas são abertas para todos (publicarem)", diz à BBC
News Brasil Fabiana Vasconcellos, psicóloga da ONG cearense DimiCuida, de
prevenção a jogos de asfixia online e monitoramento de conteúdo impróprio para
crianças.
A BBC News Brasil também
monitorou grupos de discussão nas redes sociais nesta segunda-feira e, até o
momento, só encontrou versões do vídeo circulando no WhatsApp. Qualquer pessoa
que veja conteúdo do tipo em plataformas deve denunciá-lo imediatamente, para
que seja removido.
Por enquanto, o Núcleo de Combate
a Crimes Cibernéticos do MP-BA diz que não identificou nenhum vídeo da Momo em
português - a reportagem só encontrou versões em espanhol e inglês.
"Até agora, parece haver um grande
pânico, e ao compartilhar o conteúdo as pessoas aumentam (o alcance) do
tema", adverte Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de educação da ONG
Safernet. "O que não tira a relevância de os pais terem cautela em relação
ao que os filhos estão assistindo.”
O que dizer aos meus filhos sobre
a Momo?
Especialistas recomendam que os
pais não mostrem o vídeo a crianças, embora possam aproveitar a oportunidade
para discutir o tema - principalmente se eles já o tiverem assistido. "Não
é o caso de se ignorar, mas tampouco de ter uma abordagem alarmista",
sugere Nejm.
"Jamais deve-se mostrar esse
tipo de vídeo às crianças. Mas pode-se falar francamente que a internet tem
coisas horríveis. Os pais podem contar que a Momo não é um fantasma ou monstro,
e sim uma escultura, algo concreto, e que todo perfil na internet tem por trás
uma pessoa real, que pode tentar assustar as crianças ou ter alguma má
intenção. É por isso que elas jamais devem conversar com quem não conheçam, em
jogos online ou redes sociais, nem dar número de telefone ou fazer check-in em
redes abertas.”
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