O centésimo dia de Camilo Santana (PT) à frente do Palácio da Abolição, completados hoje, são, na verdade, parte dos 1.560 dias em que é governador do Ceará. Eleito para o segundo mandato com 3.455.141 votos, o equivalente a 79,95% da preferência do eleitor cearense, o petista de pronto anunciou reformulações administrativas.
Desde a posse, foram extintos 997 cargos comissionados da estrutura
estadual. Além disso, via junções e extinções, reduziu sua equipe: as
até então 27 secretarias são, agora, 21. O motivo das medidas, disse o
próprio Camilo, foi a preparação para "o pior cenário".
Ele enfrentou ainda crise de Segurança Pública, quando o Ceará foi
submetido à onda de ataques, em reação à nomeação de Mauro Albuquerque
para a secretaria de Administração Penitenciária (SAP).
Segundo o cientista político e professor universitário Clésio Arruda, a
sintonia com o Palácio do Planalto, a exemplo de como se deu durante a
crise, será importante para a captação de recursos financeiros.
Determinará, portanto, o sucesso ou não do segundo mandato.
Arruda entende que isso está sendo difícil, dado o antagonismo político
entre os dois. Assim, ele ressalta que o que de fato será posto à prova é
a capacidade de gerenciamento do governador. Nas palavras do cientista,
isso significa o potencial de "atrair investimentos com menos
dinheiro".
"Se você volta até o governo Tasso (1987-1990, 1995-1998 e 1999-2002),
de lá pra cá, a gente basicamente definiu uma estratégia de governo que
tem como prioridade investimento em infraestrutura e a parte de
racionalização dos gastos", resgata o professor.
Parte dessas atribuições recaem sobre um dos membros da equipe econômica
de Camilo, o titular de Desenvolvimento Econômico (SDE), Maia Junior.
Sem se esforçar, ele diz que o grande desafio que se impõe ao governo
petista é o emprego.
"Temos 420 mil desempregados. No primeiro mês do ano geramos 2 mil
empregos, o que é muito pouco. Nós não podemos gerar apenas 24 mil
empregos ao longo de doze meses", admite o secretário, ponderando que o
cenário nacional contribui para isso.
Conforme números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
referentes a janeiro, o Ceará apresentou o quinto pior saldo de emprego
do Brasil, fechando 4.982 postos de trabalho.
A equipe econômica do Executivo estadual dispõe ainda da secretária da
Fazenda, Fernanda Pacobahyba, e do ex-chefe da Controladoria e Ouvidoria
Geral do Estado, Flávio Jucá, que ocupa a pastya destinada a Mauro
Filho (PDT), que se mantém no exercício de mandato na Câmara Federal. O
pedetista foi dos nomes mais propagados do secretariado, mas aguarda fim
da tramitação da reforma da Previdência para retornar ao Estado.
A oposição faz um balanço menos otimista dos 100 dias da nova gestão
Camilo. Segundo o Capitão Wagner, deputado federal pelo PR, falta maior
transparência. Segundo ele o governo deveria prestar contas dos gastos
feitos com obras públicas que permanecem paradas no Ceará.
Presidente da Assembleia, José Sarto (PDT) diz que mesmo com limitações,
é uma gestão que ainda constrói escolas profissionalizantes e de tempo
integral, além de promover a inclusão social.
No olhar da equipe, um quadro de avanços e ajustes administrativos
Braço direito de Camilo, o chefe da Casa Civil, Élcio Batista, afirma
que a crise de Segurança Pública pela qual passou o Ceará, com onda de
ataques reivindicados por facções criminosas, não foi o momento mais
difícil para Camilo.
"Quando a crise se instalou", diz, "já havia protocolo de crise a ser
seguido, facilitando a gestão". Este conjunto de ações preestabelecidas,
segundo o secretário, guiou as ações de integração do Governo tanto com
a União quanto com os municípios.
"Serenidade, diálogo, compromisso e transparência fez com que
conseguimos atravessar a inclusive de segurança pública, de forma, eu
diria, com muitos resultados", adicionou o secretário.
Segundo ele, inclusive, a nova política de administração penitenciária,
mais rigorosa, foi acerto da gestão reeleita. Após o início do segundo
mandato, Élcio elogia outros pontos, como manutenção do rigor fiscal,
"enquanto outros estados passam por dificuldades", e o foco na relação
entre economia e educação.
"Governador avançou na Educação com o compromisso da escola em tempo
integral, e Saúde, onde há toda reestruturação sendo feita sob
orientação do novo secretário (Carlos Roberto Martins Sobrinho, o
Cabeto)", elogia.
O responsável pelas Relações Institucionais do Governo, Nelson Martins,
lembra que nesses 100 dias o governador tem se articulado com
governadores do Nordeste para defender pautas da Região, a exemplo da
divisão dos valores da venda do excedente do pré-sal com estados e
municípios, a intitulada cessão onerosa.
Ajustes internos, contudo, ainda precisam ser feitos. Maia Júnior diz
que a pasta de Desenvolvimento Econômico, sob sua responsabilidade,
ainda não está estruturada. "Quero terminar esse trabalho no restante de
mês de maio., definindo pessoas e custos". Para isso, diz, ainda fará
dois seminários com pessoas de dentro e fora do Governo.
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