O presidente Jair Bolsonaro voltou atrás nesta quinta-feira (16) de sua
primeira versão e disse que não houve nenhum acordo com o ministro da
Justiça, Sergio Moro, para que ele assumisse uma vaga no STF (Supremo
Tribunal Federal) após cumprir um período como titular no governo.
"Quem me acompanhou ao longo de quatro anos, sabe que eu falava que
precisamos de alguém no Supremo com o perfil de Moro. Não teve nenhum
acordo, nada, ninguém nunca me viu com Moro [antes da eleição]", afirmou
o presidente durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.
Bolsonaro, que estava em Dallas (EUA) para encontro com políticos e
empresários americanos, disse que a primeira vez que falou com o ex-juiz
foi, via telefone, durante a campanha eleitoral.
No último domingo (12), porém, Bolsonaro afirmou que assumiu o compromisso de indicar Moro para uma vaga no Supremo.
"Eu fiz um compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de
magistratura. Eu falei: 'a primeira vaga que tiver lá [no STF], está à
sua disposição'", disse o presidente em entrevista à rádio Bandeirantes.
Em seguida, Moro foi a público dizer que não existia nenhum acordo
prévio entre ele e Bolsonaro para uma cadeira na corte. "Não vou receber
um convite para ser ministro estabelecendo condição sobre
circunstâncias do futuro que não se pode controlar."
O jogo de versões despertou o mundo político e, na avaliação de
parlamentares, expôs o ex-juiz a um desgaste antecipado no Congresso - a
indicação do presidente para o STF precisa ser aprovada pelo Senado.
Moro tem trabalhado para aprovar um pacote anticrime, que está parado na
Câmara, e perdeu a batalha para manter o Coaf sob o guarda-chuva da
Justiça. O órgão migrou para o Ministério da Economia, de Paulo Guedes.
O primeiro ministro do Supremo que deve deixar a corte é o decano Celso
de Mello, que completa 75 anos - a idade de aposentadoria obrigatória -
em novembro de 2020. A segunda vaga no STF deve ficar disponível com a
aposentadoria de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.
Na entrevista à rádio Bandeirantes, Bolsonaro foi questionado sobre uma
fala recente do ex-juiz da Lava Jato, que no final de abril disse ao
jornal português Expresso que ir para o STF seria "como ganhar na
loteria".
"Eu vou honrar esse compromisso. Caso ele [Moro] queira ir pra lá [STF],
será um grande aliado. Não do governo, mas dos interesses do nosso
Brasil dentro do STF", disse o mandatário.
Moro foi anunciado ministro da Justiça em 1º de novembro do ano passado,
poucos dias depois da vitória do atual presidente no segundo turno das
eleições presidenciais.
Quando comunicou seu embarque no governo, Moro disse ter aceitado o
convite de Bolsonaro "com certo pesar" por ter de "abandonar 22 anos de
magistratura".
"No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção
e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos
direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa
consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e
afastar riscos de retrocessos por um bem maior", disse à época o
ex-juiz.
Diário do Nordeste