Desastres nas ruas que têm efeitos diretos em milhares de vidas. Entre
2009 e 2018, as internações hospitalares em decorrência de acidentes de
trânsito chegaram à média de 27 ocorrências por dia no Ceará, um total
de 106.029 na década. Isto faz do Estado o terceiro no Brasil que mais
hospitalizou pacientes devido a acidentes. A quantidade de pessoas
internadas, nesses anos, no Ceará, equivale, por exemplo, ao contingente
populacional de um município considerado de grande porte no Brasil -
aqueles com 100 mil habitantes ou mais.
Embora, segundo evidenciado pela pesquisa, os números no Estado venham
em queda desde 2014, os casos ainda são considerados bastante altos. Em
2018, no Ceará, 10.075 pacientes deram entrada em hospitais e precisaram
ficar internados devido a ocorrências no trânsito. Apenas São Paulo e
Minas superam esse índice negativo.
Os dados foram sistematizados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)
com base em informações do Ministério da Saúde. Divulgados ontem, os
índices, alerta o CFM, evidenciam um problema que atinge proporções
epidêmicas. No Brasil, entre 2009 e 2018, foram contabilizadas 1.636.878
internações. Esse quantitativo inclui dados de pedestres, ciclistas,
motociclistas e motoristas.
Nesse intervalo de 10 anos, 2012 foi o que registrou o maior número de
internações devido a acidentes no Ceará, com a hospitalização de 12.078
pessoas.
As internações no Ceará, nesses 10 anos, consumiram R$ 152.999.473,58 do
Sistema Único de Saúde (SUS), em valores atualizados pela inflação do
período. Os gastos no Estado só foram inferiores aos de São Paulo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. Somente no ano
passado, as hospitalizações de vítimas de acidentes de trânsito custaram
ao SUS no Ceará R$ 14.216.776,68. A pesquisa do CFM também considerou
os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do
Ministério da Saúde. O levantamento apontou que entre 2009 e 2016 (ano
mais recente com dados disponíveis), 19.057 pessoas morreram no Ceará em
acidentes de trânsito.
Iniciativa
Desde setembro de 2018, o "Projeto Municipaliza" do Ministério Público
do Estado do Ceará tem, junto a diversas instituições, buscado discutir e
operacionalizar ações de municipalização do trânsito, na tentativa,
explica o promotor de Justiça Hugo Porto, de auxiliar na redução das
estatísticas e mortes de acidentes no trânsito, de assegurar
fiscalização e de combater a sobrecarga dos recursos de saúde nos gastos
com acidentes.
Segundo o promotor, hoje, dos 184 municípios do Ceará, 69 têm o trânsito
municipalizado formalmente, no entanto, na prática "plenamente
funcionando, é possível falar em pouco mais de duas dezenas de cidades",
relata ele.
O promotor informou, ainda, que a iniciativa deverá recolher dados para
compreender questões como frota, sobrecarga no sistema de saúde e
gastos. "Ao fim deste ano, teremos esse levantamento sobre o que se
integrou e o que está pendente", afirma.
Procurado ontem, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) informou
que não teria como responder às demandas até o fechamento desta edição.
Diário do Nordeste



