No início de cada ano, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) faz uma estimativa da colheita dos grãos ao fim da quadra chuvosa. Em 2019, o resultado verificado ao fim do período de chuvas ficou aquém da expectativa, que era de atingir 653 mil toneladas, um dos melhores índices já ansiados no Ceará.
A irregularidade das precipitações, de forma espacial e temporal entre
fevereiro e maio, resultou em perda para a safra de grãos. Os fatores
que ocasionaram esse cenário estão relacionados com a chuva. Na região
Norte (Ibiapaba, Sobral e Baixo Acaraú) os prejuízos foram causados por
excesso de precipitações. No Sertão Central, Inhamuns, Centro-Sul e
Cariri, por escassez de água.
Frustração
"Se não fossem os veranicos, teríamos uma das maiores safras da história
do Ceará", pontua o titular da SDA, De Assis Diniz. A agrônoma da
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce),
Gecilda Correia Nunes, que faz o relatório sobre a situação de produção
da safra de grãos de sequeiros, descreve a frustração no plantio. "Neste
ano, tivemos perda média, até o momento, de 25,84% em relação ao
esperado no início do ano", pontuou. Esse indicador pode chegar, após a
finalização do relatório, à marca de 30% de perda, se comparado ao
prognóstico do início do ano.
A região do Cariri foi uma das que registraram maior índice de perda. Em
Brejo Santo, por exemplo, a frustração da safra de milho chega a 87% e
de feijão de corda, 65%. Já em Jardim, no extremo Sul do Ceará a média
de perda é de 90%. "Tivemos uma perda significativa", observou o gerente
regional da Ematerce, José Dias Ferreira. "Foi um desastre".
No Cariri, as chuvas chegaram tarde, a partir da segunda quinzena de
março. O agricultor Francisco Lima plantou três hectares de milho e
feijão na localidade de São Felipe.
O presidente da Ematerce, Antônio Amorim, destacou o prejuízo econômico
para a região. "No Cariri, que historicamente tem larga produção de
grãos, as perdas foram muito elevadas e isso vai impactar a economia
local, com menos dinheiro circulando nas cidades", avaliou.
No Médio Jaguaribe, a perda média estimada de grãos é de 10%. Em Alto
Santo, chega a 23% a frustração de safra. "A cultura do milho foi a mais
afetada", disse João Alves de Menezes, coordenador regional da Ematerce
em Jaguaribe.
Nas regiões Jaguaribana e no Centro-Sul cearenses, a maior dificuldade é
a escassez de água nos açudes. "Não tivemos recarga nenhuma", disse
Menezes. Em Iguatu, a perda média de milho é de 27% e a de feijão 22%,
mas em Quixelô é mais elevada: milho chega a 35% e feijão, 27%. "Os
técnicos estão em campo avaliando a situação após a quadra invernosa,
por isso que os dados ainda são parciais", explicou o gerente local da
Ematerce, Erivaldo Barbosa. "As chuvas foram muito irregulares e há
distritos com perdas muito elevadas, como a região de Riacho Vermelho".
Outros municípios da região, como Quixeramobim, Quixadá, Solonópole,
Piquet Carneiro e Mombaça, apresentaram perda média de 20% nas duas
principais culturas: milho e feijão-de-corda. "Tivemos dois grandes
veranicos que impediram o crescimento do plantio", observou o gerente
regional da Ematerce, Francisco Albany Rolim. "E a situação mais
complicada é a falta de água nos açudes".
Excesso de água
Gecilda explica que o excesso de chuva provoca queda das flores e
apodrece os grãos, contribuindo para a perda da lavoura. "Em pelo menos
nove das 18 regiões do Estado, tivemos veranicos e isso afetou o
desenvolvimento do plantio", explicou. "Na região do Baixo Acaraú houve
perda porque choveu muito".
O gerente local da Ematerce em Tianguá e em Viçosa do Ceará, na região
da Ibiapaba (Serra Grande), Anselmo da Cruz Filgueira, explicou que não
haverá perda para o milho. Mas, para o cultivo de feijão, a safra
prevista inicialmente deve cair em torno de 30%.
Em Tianguá, por exemplo, a média pluviométrica é de 1.200 milímetros,
mas foram observados, durante a quadra chuvosa, 1.500mm. O mesmo ocorreu
nas regiões de Acaraú e Coreaú: frustração de safra em decorrência do
excesso de umidade no solo. "As plantas ficam apodrecidas", frisou
Filgueira. Em Apuiarés, os agricultores reduziram as suas áreas, pois
ficaram temerosos de que o feijão viesse apodrecer devido ao excesso de
chuvas. "Poderíamos ter uma safra bem melhor, mas houve irregularidade,
veranicos e até perda por excesso de água", pontuou Amorim.
Diário do Nordeste