‘Dono da cadeia’ acumulou R$ 4 milhões com golpes e promoveu festas em presídio cearense



Cláudio Aritana promoveu festas com uísque e cerveja, realizou uma exposição de arte e passava os dias ao celular coordenando esquemas que movimentaram R$ 4 milhões. Tudo isso de dentro de um presídio no Ceará, a Casa de Privação Provisória de Liberdade.

Ele recebeu liberdade condicional após fingir bom comportamento e participar de um programa de desenvolvimento de arte na unidade prisional. Outra farsa de Aritana. Conforme o Ministério Público, ele fraudava a presença nas aulas.

De volta às ruas, o “dono da cadeia”, como Aritana foi apelidado pelas autoridades que o investigaram nos últimos anos, voltou a praticar golpes, e ainda mais ousados.

Em São Paulo, Aritana fingiu ser gerente de um shopping, planejou uma falsa exposição com os lojistas e teve acesso a joias de um dos estabelecimentos. Um furto sem ameaça ou violência.

49 anos de prisão

O Ministério Público afirma que Aritana é o chefe de um esquema criminoso que aplica golpes em todo o país. Ele foi condenado por extorsão, estelionato e ainda dois estupros. A pena total é de 49 anos.

Ele foi preso no Ceará em 2012, na prisão de Itaitinga, na Grande Fortaleza, de onde comandava farsas pelo celular, como o golpe do falso sequestro e de premiações que nunca existiram.
“Dentro de uma cela, com 12 ou 14 internos, todos eles, cada um com um celular, aplicavam golpes”, afirma o promotor Nelson Gesteira.
Com a sequência de golpes, Aritana ganhou status e poder entre os presos. Ele tinha influência até sobre agentes penitenciários, conforme o Ministério Público. Alguns agentes chegaram a participar de um churrasco promovido pelo detento.

Dono de lotérica

As investigações apontam que em 18 meses Aritana conseguiu um patrimônio de criminoso estimado em R$ 4 milhões. Comparsas do lado de fora da cadeia ajudavam a cuidar do dinheiro.
Entre os bens adquiridos no esquema investigado pelo Ministério Público, um foi estratégico para ampliar os golpes e o dinheiro arrecadado por ele: uma lotérica, na Região Metropolitana de Fortaleza.

Com o empreendimento, o “dono da cadeia” passou a saber de detalhes sobre operações internas desse tipo de estabelecimento e fazer vítimas entre outros donos de lotérica Brasil afora. Aritana ensinava parentes sobre formas de enganar as pessoas.

Disfarce de superintendente de banco

Em outro golpe que o Ministério Público considerou ousado, criminosos coordenados por Aritana fingiram ser superintendentes da Caixa Econômica para convencer uma funcionária do banco a fazer depósitos na conta da quadrilha.
Documentos revelam a conversa entre os dois:

Comparsa de Aritana: coloca agora aí “atualização de sistemas”. Deixa eu pegar a conta que seja da agência. Pronto. Coloca seu terminal na parte de depósito.

Servidora do banco: depósito?

Comparsa: É, coloca 15, 0 0 0 [R$ 15 mil].

Em seguida foram outros três depósitos que totalizaram R$ 7 mil para a quadrilha.
O esquema criminoso foi descoberto pelo banco. “Se esse [...] tivesse lá no inferno, eu passava R$ 100 mil hoje. Sabe quanto é o que a Caixa tinha? R$ 58 mil. Tomei o sete, mano”, comenta um membro da quadrilha.

Antes de desligar o telefone, ele provoca o gerente do banco que descobriu o golpe: “Chamar a polícia pra quê? Você foi roubado, otário”.

Em junho de 2017 ocorreu o momento mais inusitado entre as farsas de Aritana, uma exposição de arte com festa, buffet e presença de autoridades.
“Achávamos que tinha sido com alguma verba pública, mas descobrimos, na verdade, que tudo foi pago por Aritana”, afirma o promotor Humberto Ibiapina. Na exposição, ele deu entrevista para um programa de TV.

Segunda prisão

Com a liberdade condicional obtida com a exposição, ele fugiu e voltou a aplicar goles em São Paulo, onde foi preso em agosto de 2018.

O Ministério Público do Ceará quer que ele cumpra o resto da pena pelos crimes que praticou no estado. Pede ainda que a Justiça bloqueie os bens que ele comprou aplicando golpes a vida inteira.
“Enquanto nós não atacarmos o funcionamento do negócio, nós vamos ter a reposição das pessoas que forem presas, e o crime organizado vai continuar se fortalecendo”, argumenta o promotor Manuel Pinheiro Freitas.
G1 CE

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