Com mais de uma linha de telefonia móvel por habitante, o Brasil vem
experimentando um crescimento exponencial no uso do celular para
realização de operações bancárias. Esse volume saltou de 4,7 milhões,
por meio do mobile banking em 2014, para 31,3 milhões no ano passado, um
crescimento de 565%. No mesmo intervalo, a representação das transações
por smartphones passou de 10% do total para 40% em 2018, tornando-se a
principal entre as demais modalidades.
Além do uso cada vez maior do celular para realizar pagamentos,
transferências, investimentos e aplicações, a quantidade de contas
abertas por mobile banking passou de 1,6 milhão em 2017 para 2,5 milhões
em 2018, alta de 56%. E, no ano passado, o volume de contas acessadas
pelo celular ultrapassou, pela primeira vez, o de contas operadas pelo
computador, chegando a 70 milhões, contra 53 milhões do internet
banking.
Porém, apesar dos avanços em relação à quantidade de usuários e de
transações, 90% das operações ainda são sem movimentação financeira, das
quais a maior parte é conferência de saldo. Para a Federação Brasileira
de Bancos (Febraban), a comodidade do uso do celular ajuda a explicar a
adesão dos consumidores ao canal, mas a segurança ainda pesa na decisão
de realizar outras operações.
Segurança online
Pensando nisso, a Febraban e a Câmara Interbancária de Pagamentos
(CIP) anunciaram, na última quarta-feira (12), a primeira rede
blockchain para o setor. Por meio da chamada de Rede Blockchain do
Sistema Financeiro Nacional, os bancos que participam da iniciativa irão
compartilhar informações de dispositivos móveis, detectando possíveis
fraudes. A iniciativa recebeu investimentos de R$ 3 milhões da CIP.
"O investimento em blockchain permite o compartilhamento de
informações de forma mais rápida e mais barata e mostra que o setor está
antenado", diz Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e
Automação Bancária da Febraban. Fosse avalia que o próximo passo do
segmento é integrá-lo com sistemas de inteligência artificial.
Além do mobile, o único canal a registrar um incremento de operações
foram os pontos de venda no comércio, com as maquininhas de débito e
crédito. Estas passaram de uma participação de 15%, em 2017, para 16%,
em 2018. Os pontos de venda representaram 41% de todas as operações
financeiras, enquanto os tradicionais (autoatendimento, cor
respondentes
bancários e agências bancárias), 36%, e os digitais (mobile e internet
banking), 23%.
Open banking
Agora, após liderar o total de operações bancárias, financeiras e não
financeiras, o esforço dos bancos é para aumentar a relevância dos
canais digitais também nos pagamentos, processo que deve ser favorecido
com a implementação do open banking. "Nós estamos vendo um cenário
regulatório extremamente favorável para a adoção de meios de pagamento
digitais. O Banco Central (BC) é muito claro quanto a isso, com redução
de barreiras, aumento da competição e principalmente em relação ao open
banking e aos pagamentos instantâneos. É um cenário inédito, do ponto de
vista regulatório", diz Raul Moreira, diretor executivo de tecnologia,
produtos e operações do Banco Original.
Por meio do open banking, que será implantado no Brasil até o próximo
ano, os clientes poderão, por exemplo, visualizar em um único
aplicativo o extrato consolidado de todas as suas contas bancárias e
investimentos. Sendo possível, também, realizar transferências ou
pagamentos sem precisar acessar diretamente o site ou aplicativo do
banco.
Para Moreira, a adoção do novo modelo no País deverá ser facilitada
pelo perfil do consumidor, "que já nasceu num ambiente de cultura
digital", diz. "Ele não vê o banco, necessariamente, como essencial para
suas soluções digitais, o que é uma oportunidade e um alerta para os
bancos". O diretor do Original ressalta que a tecnologia cria um novo
ambiente para os meios de pagamento digitais.
Segundo Gustavo Fosse, o maior desafio para implantação do open
banking no prazo é a construção das interfaces de programação de
aplicações (APIs) conforme a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). "Não adianta o Banco do Brasil fazer uma API, o Bradesco outra e
uma fintech fazer a mesma coisa, tudo despadronizado. Queremos um
modelo padrão, que vai acontecer ano que vem".
"O open banking e a Lei de Dados são casados, vão andar juntos.
Parte-se do princípio que os meus dados que estão no banco 'A' não são
do banco, mas meus. Vamos fazer isso bem blindado, com segurança. Não
existe a opção de não fazer".
Futuro das agências físicas
Mesmo com o avanço das interações por canais digitais, a percepção é
de que o número de agências permaneça estável nos próximos anos. Em
2014, os Postos de Atendimento Bancário (PABs) somavam 23,1 mil e em
2018 caíram para 21,6 mil. "Há uma manutenção do número de agências, mas
as transações realizadas nelas aumentaram", diz Gustavo Fosse, diretor
setorial de Tecnologia e Automação Bancária da Federação Brasileira de
Bancos (Febraban). "O perfil das agências é que irá mudar, elas atuarão
mais como uma consultoria, de relacionamento, mas não vão acabar".
Já Raul Moreira, diretor executivo de tecnologia, produtos e
operações do Banco Original, avalia que, até 2022, entre os cinco
grandes bancos brasileiros, "pelo menos um será digital". "Será um banco
que não dependa da interação humana, nem de uma rede de agências. E que
todos os seus processos de experiências e serviços sejam digitais".
(Diário do Nordeste)