Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira, 18, pelos
Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, em parceria com uma empresa de
transporte por aplicativo, confirmou que o assédio sexual está presente
na maior parte das mulheres brasileiras, ao apontar que 97% dizem já ter
sido vítimas de assédio em meios de transporte. Outras 71% conhecem
alguma mulher que já sofreu assédio em público.
Para fazer a pesquisa sobre violência contra a mulher
no transporte e entender os obstáculos e desafios que as mulheres
enfrentam em sua locomoção pelas cidades todos os dias, foram ouvidas
1.081 brasileiras em diversas regiões do país e que utilizaram
transporte público e por aplicativo nos três meses anteriores à data do
início do estudo, em fevereiro deste ano.
Segundo o levantamento, 72% das entrevistadas dizem que
o tempo de locomoção entre a casa e o trabalho influenciam na decisão
de aceitar um emprego ou permanecer nele. Ainda assim, 46% das
entrevistadas não se sentem confiantes para usar meios de transporte sem
sofrer assédio sexual.
A segurança no meio de locomoção é o fator que mais
preocupa as mulheres, que relatam situações das mais variadas, passando
por olhares insistentes, cantadas indesejadas, comentários de cunho
sexual, perseguição, e até mesmo passadas de mão ou homens que se
esfregam no corpo da mulher se aproveitando da lotação. As citações de
assédio no transporte público são mais numerosas do que nas outras
alternativas.
De acordo com a pesquisa, uma em cada quatro mulheres
(75%) se sentem seguras quando usam transporte por aplicativo, número
que passa para 68% entre as que mencionam o uso dos táxis, enquanto 26%
se sentem seguras no transporte público. Entre as entrevistadas, 55%
consideram que a denúncia dos abusadores é mais fácil no caso dos
transportes por aplicativo, sendo esse meio, para 45%, o que dá mais
chances de que os assediadores sejam punidos. Para 91% das consultadas,
o transporte por aplicativo melhorou sua capacidade de locomoção pela
cidade e 94% afirmam que se sentem mais seguras sabendo que, se
precisarem, podem chamar um transporte desse tipo para voltar para casa.
Para a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão,
Jacira Melo, é importante não apenas aplicar leis que criminalizem o
assédio sexual no transporte. “É preciso também desenvolver políticas e
mecanismos para prevenção, para garantir que as brasileiras possam se
sentir seguras ao exercerem seu direito de ir e vir, garantindo também
seu direito a uma vida sem violência. Para as mulheres que em sua
maioria estudam e trabalham fora de casa, a segurança no deslocamento é
uma questão essencial”.
Segundo a diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva,
Maíra Saruê Machado, o estudo aponta que as mulheres não têm segurança
para se locomover pelas cidades. “Elas são assediadas, seja nas ruas ou
nos meios de transporte, quando saem para trabalhar, levar as crianças
para a escola, se divertir. Para que as mulheres tenham mais autonomia,
precisamos de políticas de combate à violência que incluam o olhar para
esses deslocamentos".
Agência Brasil