O casal acusado de matar eesquartejar Rhuan Maycon, 9 anos, decidiu cometer o crime no dia em que
descobriram o corte da pensão da irmã de criação do menino, de 8 anos. Rosana
Auri da Silva Candido, 27, mãe da vítima, e Kacyla Priscyla Santiago Damasceno,
28, mãe da garota, contaram, em depoimento, que a vítima seria um “empecilho”
ao relacionamento delas. A Justiça do Acre determinou a suspensão do benefício
em 3 de maio, mas elas souberam da decisão apenas na última sexta-feira, quando
foram a um caixa eletrônico de Samambaia. Agora, os investigadores trabalham
com a hipótese de que a morte de Rhuan tenha sido motivada por diminuição de
gastos caseiros.
Rosana e a companheira fugiram do
Acre com os filhos em 2014, quando os pais dos meninos entraram com ações
judiciais para tomar a guarda das crianças. Apenas a filha de Kacyla recebia
pensão do pai, o agente penitenciário Rodrigo Oliveira. De acordo com o
delegado à frente do caso, Guilherme Sousa Melo, da 26ª Delegacia de Polícia
(Samambaia Norte), apesar da fuga, a Justiça entendeu que o corte do benefício
poderia prejudicar ainda mais a criança. Após cinco anos, o Tribunal de Justiça
do Acre decidiu suspender o benefício, na tentativa de fazer com que a mulher
aparecesse para sacar o benefício.
Além da pensão, Kacyla e Rosana
davam golpes em locatários de imóveis para se manter. Durante o tempo de fuga,
passaram por incontáveis endereços de diferentes estados. Em Goiás, moraram em
Goiânia, Trindade e Anápolis. Também viveram em Aracaju, capital de Sergipe. No
DF, além de Samambaia, onde cometeram o crime, moraram em Ceilândia.
Geralmente, elas ficavam nos imóveis poucos meses e fugiam quando as contas
estavam muito atrasadas. Reservadas, não se relacionavam com os vizinhos e
mantinham a presença das crianças em segredo, principalmente Rhuan, que teve o
pênis cortado por ambas no ano passado. Elas tinham medo que o garoto falasse
sobre a mutilação.
No último endereço, em Samambaia,
Kacyla trabalhava como cabeleireira e saía de casa todos os dias, às 7h. Os
policias tentam descobrir o local de serviço da mulher, para interrogar os
colegas de trabalho dela. “Vamos expandir as investigações para saber do
cotidiano da família, identificar se as crianças sofreram mais crimes e apontar
a motivação real das assassinas. Na quarta-feira, vou ao Acre iniciar as
investigações no estado”, contou Guilherme. Nesta segunda-feira (3/6), o
delegado ouviu vizinhos do casal, que informaram não saber da presença de
crianças na casa. “Em dois meses, eles viram a menina apenas uma vez. As
acusadas ainda deram a entender que a garota era uma visita”, explicou o
policial.
Rhuan e a irmã não frequentavam a
escola havia ao menos dois anos. A menina saía de casa apenas para ir à igreja
frequentada pela mãe e madrasta. O menino ficava trancado o dia inteiro. As
mulheres estudaram métodos de remover o pênis do filho na internet. Elas
informaram aos investigadores que “ele sarou em 15 dias” e não o levaram a um
hospital. O garoto era tratado como menina. Vestia as roupas da irmã e estava
com cabelo comprimido, para passar a imagem feminina. O delegado frisou querer
enquadrar as mulheres em mais crimes, além do homicídio qualificado, como
maus-tratos e lesão corporal, porque há indícios que os filhos teriam sido
agredidos em Goiânia.
Reencontro
Vivendo sob maus-tratos, a filha
de Kacyla carrega sequelas. No domingo, o pai dela, Rodrigo, veio do Acre
buscar a filha. No entanto, o reencontro foi conturbado. Durante cinco anos, o
casal doutrinou a menina para que ela tivesse medo da figura masculina e
constantemente falava que todos os problemas que a família passava era por
causa do pai. Por isso, a garota ainda não consegue ficar à vontade na frente
do agente penitenciário e precisará passar por tratamento psicológico para
reverter o quadro. Enquanto isso, ficará no abrigo, em Taguatinga, para onde
foi levada após a prisão das mulheres que a criavam.
Abalado, Rodrigo não conseguiu
conversar com a reportagem do Correio. De acordo com o Conselho Tutelar, o
órgão intermediará a reaproximação dos dois. Nesta segunda-feira (3/6), pai e
filha se encontraram novamente. Dessa vez, eles se viram na delegacia. Ambos
foram conversar com o delegado e os conselheiros. “Ela demonstra saber o que
aconteceu. Deu alguns detalhes sobre a convivência dentro de casa. Agora, o
trabalho da polícia com a criança está encerrado. Apenas o Conselho acompanhará
o caso”, destacou Guilherme.
Velório
Desempregado, o pai de Rhuan,
Maycon Douglas Lima de Castro, 27, conseguiu dinheiro para transportar o corpo
do filho para o Acre. Ao Correio, ele disse “querer dar um enterro digno ao
filho”. Sem ter como para pagar o serviço, ele terá ajuda do Governo e da
Defensoria Pública do Acre, que garantiram custear as despesas do translado. “O
que eu mais quero é trazer meu menino de volta para a terrinha dele”,
ressaltou.
A Defensoria Pública do Acre
informou que aguarda a finalização dos exames periciais para entrar com ação
para o translado do corpo. De acordo com o órgão, o procedimento é demorado,
mas deve ser finalizado ainda esta semana. O governador e a primeira-dama do
estado, Gladson Cameli (PP), e Ana Paula Cameli, se posicionaram sobre o caso.
Eles disseram estar “perplexos” com o crime, mas que não mediram esforços para
transportar o corpo do garoto.
Ocultação
Rosana e Kacyla assassinaram
Rhuan no fim da noite de sexta-feira. O garoto estava dormindo quando foi
surpreendido com diversos golpes de faca. Em seguida, ele teve o rosto
desfigurado, foi decapitado e esquartejado. As investigadas ainda tentaram
queimar a carne dele em uma churrasqueira, para poder descartá-la em um vaso
sanitário. No entanto, pararam por causa da grande quantidade de fumaça.
As mulheres distribuíram o corpo
do menino em uma mala e duas mochilas escolares. Rosana descartou um dos itens
em um bueiro de Samambaia, mas foi vista por pessoas que estavam na rua.
Curiosos abriram o objeto e encontraram o corpo. A Polícia Civil foi acionada e
prendeu as suspeitas em casa. Elas confessaram o crime.