Dentro de casa e na companhia de familiares. Assim é como a maioria
costuma se sentir mais protegida da violência. A teoria não se aplica a
muitos casos de vítimas de abusos sexuais. Um levantamento divulgado
pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em maio
deste ano, mostrou que no Brasil, aproximadamente, 70% das ocorrências
de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados
por parentes e aconteceram na casa do abusador ou do abusado.
No Ceará, os últimos casos de repercussão também mostraram esta
realidade de proximidade entre criminoso e vítima. Ontem, pai, tio e avô
de uma criança de 11 anos foram presos sob suspeita de estuprar a
menina. As capturas aconteceram em Cascavel, Região Metropolitana de
Fortaleza. A Polícia Civil suspeita que a violência sexual contra a
garota acontecia há pelo menos três anos. Há informação que os crimes
aconteciam quando mãe e irmão da vítima saíam de casa.
O Conselho Tutelar da cidade teve conhecimento do crime e fez a
denúncia na Delegacia Metropolitana de Cascavel. O caso foi investigado
por uma semana e, após a confirmação, a Polícia Civil pediu as prisões
preventivas dos suspeitos. "Ao chegarmos lá, cumprimos os mandados de
prisão. Ninguém ofereceu resistência e reconduzimos todos até a
Delegacia para a lavratura dos procedimentos. Eles foram autuados por
estupro de vulnerável", diz o policial civil Carlos André Pereira.
O supervisor do Núcleo de Defesa dos Direitos da Infância e da
Juventude (Nadij) da Defensoria Pública do Ceará, Adriano Leitinho,
reitera que, assim como o caso de Cascavel, muitos dos crimes acontecem
dentro do próprio lar ou foram perpetrados por pessoas do convívio
diário destas crianças e adolescentes. O defensor explica que a
proximidade faz com que o agressor tenha controle sob a vítima,
impedindo que ela denuncie.
"É mais fácil ludibriar estas vítimas fazendo com que a criança ache
que o ato é natural. É uma forma de controlar até para que a vítima não
denuncie, porque o agressor está ali do lado. Estas vítimas têm medo do
agressor se voltar contra toda a sua família. Muitas vezes, as mães são
enganadas, mas chega a acontecer coisa pior: a criança conta para a mãe e
ela não acredita", conta Adriano Leitinho.
(Diário do Nordeste)