O Papa Francisco criticou o
nacionalismo por conduzir a guerras e acredita que o populismo não reflete a
cultura popular, em uma entrevista publicada nesta sexta-feira (9) no jornal
"La Stampa", em meio à crise política deflagrada na Itália pela
extrema-direita de Matteo Salvini.
"O nacionalismo é uma
atitude de isolamento. Estou preocupado, porque ouvimos discursos que lembram
os de Hitler em 1934. 'Primeiro nós. Nós... nós...': estes são pensamentos
aterrorizantes", afirmou o pontífice.
Concedida dias antes da crise do
governo protagonizada por Salvini, entre os líderes europeus da corrente
nacionalista junto com o húngaro Viktor Orban e a francesa Marine Le Pen, a
entrevista do papa argentino acontece em um momento delicado da política
italiana.
"Um país deve ser soberano,
mas não fechado. A soberania deve ser defendida, mas as relações com outros
países e com a Comunidade Europeia também devem ser protegidas e promovidas. O
nacionalismo é um exagero que sempre acaba mal: leva a guerras",
acrescentou.
Questionado sobre o populismo, o
papa, que vivenciou os anos de Domingo Perón em seu país, explicou que essa
prática também "fecha as nações", caso do nacionalismo.
"No começo, não conseguia
entender, porque, estudando Teologia, eu aprofundava o popularismo, isto é, a
cultura do povo: uma coisa é que o povo que se expresse, e outra é impor ao
povo a atitude populista. O povo é soberano (tem seu jeito de pensar, de se
expressar e de sentir, de avaliar), mas os populismos nos levam ao
nacionalismo: esse sufixo, 'ismos', nunca faz bem", insistiu.
Na entrevista, conduzida por
Domenico Agasso, o pontífice falou também sobre Europa, Amazônia e meio
ambiente.
"A Europa não deve ser
desfeita, devemos salvá-la. Ela tem raízes humanas e cristãs. Uma mulher como
Ursula von der Leyen pode reviver a força dos Pais Fundadores", disse ele,
em referência à nova presidente da Comissão Europeia, eleita em 2 de julho
passado.
Francisco também mencionou várias
catástrofes ambientais, falou sobre a perda dos recursos do planeta e relembrou
uma reunião recente com pescadores que lhe disseram que coletaram seis
toneladas de plástico nos últimos meses.
Agência France Presse