Dos 502 poços profundos perfurados no Ceará pelo Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas (Dnocs), entre 2013 e 2016, apenas 118 foram
instalados pelo órgão. O índice de não conclusão das obras hídricas
dessa modalidade, no período, chega a 74,7% no total.
Os municípios mais atingidos são Quixadá, com 57 poços não instalados,
seguido de Crateús (54), Tauá (40) e Lavras da Mangabeira (39). No
total, são 32 municípios com a obra inacabada. Dentro do percentual não
instalado, estão ainda 93 poços considerados secos. Outros estão na
condição de abandonado, aterrado e em desobstrução.
A incidência do problema apontado no relatório é mais evidente no ano de
2014, quando 139 poços foram perfurados em 18 municípios e nenhum foi
instalado pelo Departamento. Em 2016, a quantidade de poços perfurados
caiu praticamente pela metade se comparada ao ano anterior.
Dnocs
Procurado, o órgão argumentou que não conseguiu instalar os equipamentos
por falta de dinheiro, e que muitos dos acessos feitos no período devem
ter recebido apoio de órgãos ligados ao Governo do Estado para a
conclusão.
"Os poços perfurados pelo Dnocs supostamente foram instalados pelo
Governo do Estado através da Sohidra, Defesa Civil, SDA, prefeituras e
outras entidades, isto porque nos anos de 2013 a 2018 foram anos de
estiagem e que todos os mananciais (poços) existentes nos municípios do
Estado do Ceará foram instalados", respondeu em nota.
O chefe da coordenadoria estadual do Dnocs no Ceará, geólogo Paulo
Roberto, revelou ainda que, dos 328 poços perfurados no ano passado,
nenhum foi instalado. A Autarquia aguarda liberação de recursos
"contingenciados" do Governo Federal para concluir o serviço.
Diante da inconsistência das informações apresentadas pelo Departamento
sobre a instalação dos equipamentos, a reportagem procurou os órgãos
citados. A Secretaria de Desenvolvimento Agrário respondeu, em nota, que
"não concluiu, nem mesmo assumiu, a instalação de nenhum poço perfurado
pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas entre os anos de
2013 e 2016".
A Superintendência de Obras Hidráulicas disse não possuir "acordo ou
convênio com o Dnocs" para a conclusão da instalação de poços perfurados
pelo órgão. A Sohidra confirma, no entanto, a realização de instalações
pontuais a partir de "demandas das prefeituras ou de associações
comunitárias", mas ressalta que isso ocorre apenas "em situações
críticas", e que a instalação das obras hídricas "é pontual e não é uma
regra".
A Defesa Civil do Estado encaminhou uma lista de poços instalados no
interior do Ceará no período de 2012 a 2015, mas não soube dizer se,
entre os instalados, havia algum perfurado pelo órgão regional.
Poços no Ceará
Doutor em Hidrogeologia e Recursos Minerais pela Universidade de São
Paulo, o professor Itabaraci Nazareno Cavalcante aponta que existem no
Ceará 22 mil poços cadastrados, mas que não há informação precisa sobre o
funcionamento deles. O último cadastro no Sistema de Informação de
Águas Subterrâneas (Siagas) ocorreu em 1998.
Sobre os 93 poços secos identificados pelo Dnocs, o pesquisador ressalta
que é comum ter poços com água abaixo do desejável, mas explica que há
tecnologias acessíveis que podem tirar água em poços com vazão ainda
menor, com 200 litros por hora. "Poços secos na região cristalina é
comum, não é comum é começar a ter 40% ou 50% de poços secos num mesmo
município, numa mesma campanha".
Diário do Nordeste