Quase 54 mil pessoas que moram no Município de Acopiara, na região
Centro-Sul do Estado, estão com o abastecimento de água sob constante
ameaça de interrupção. Isto porque, o Açude Trussu, principal
responsável por garantir o fornecimento de água às cidades de Iguatu e
Acopiara, está atualmente com apenas 2,44% de sua capacidade total - o
pior índice desde a sua construção, em 1996.
Como alternativa para garantir acesso hídrico aos acopiarenses, o
Governo do Estado construiu uma adutora, do reservatório Trussu até a
cidade de Acopiara, com 40 km de extensão. No entanto, este equipamento
tem sido alvo de ações criminosas, trazendo ainda mais obstáculos para a
segurança hídrica de Acopiara. Ao longo de toda a extensão da adutora,
criminosos estão afrouxando as braçadeiras da adutora. "Com isso, ocorre
um vazamento da água que pode ser utilizada em benefício de rebanhos,
como também para irrigar campos de pastagem", explica o coordenador
administrativo da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Sérgio
Luiz. Ele pondera que esta prática visa "ludibriar" o sistema de
identificação de crimes. "É normal que ocorra queda de vazão até a
chegada na estação de tratamento por vazamentos inerentes ao
equipamento, o que não é comum, nem legal, é que este vazamento seja
forçado pela ação do homem. Então, eles afrouxam as peças numa tentativa
de simular que o vazamento foi espontâneo", clareou o coordenador.
Ainda conforme Luiz, este tipo de crime "é comum no período de estiagem"
e que o grande desafio do órgão tem sido coibir essa prática.
Fiscalização
Na tarde de ontem (4), um grupo composto por membros da Cagece e
policiais civis de Acopiara fizeram uma inspeção em áreas denunciadas
por moradores. Na localidade de Quincôe, na zona rural de Acopiara,
distante cerca de 30 km da sede do Município, as equipes atestaram o
furto de água. O delegado Glauber Ferreira, que acompanhou a operação,
garantiu que a Polícia já tem pistas do suspeito, "mas que a identidade
será mantida em sigilo até constatar o aspecto doloso do crime". A
Cagece não revelou quanto, em litros, foi furtado na adutora, contudo,
Sérgio garantiu que o crime "compromete o abastecimento de toda a
cidade".
Diante do baixo nível do reservatório Trussu, o Município passa,
atualmente, por rodízio de água. "Com esses furtos, esse calendário é
afetado. Ainda não conseguimos mensurar quanto foi furtado, mas os danos
à população podem ser graves", disse.
O trabalho de inspeção da adutora terá continuidade nos próximos
dias, contudo, Sérgio Luiz reforça que, "devido à extensa área do
equipamento, a denúncia da população é fundamental para coibir este
crime". Glauber reforça que, caso seja constatado o dolo, o suspeito
poderá ser indiciado por furto e por dano ao patrimônio público, este
último, com pena de detenção de um a seis meses ou multa, conforme
preconizado pelo Código Penal brasileiro.
Medidas
Além de intensificar a fiscalização, a Cagece informou que aplicará
uma tinta especial em todas as braçadeiras da adutora. A medida visa
identificar quando o equipamento for danificado de forma proposital.
Luiz reforça ainda que as áreas mas propícias ao furto de água são em
áreas próximas a propriedades rurais.
(Diário do Nordeste)