Adeputada federal Gleisi Hoffmann
(PR) foi reeleita neste domingo, 24, presidente nacional do PT no 7º Congresso
Nacional da sigla, que ocorre na Casa de Portugal, em São Paulo.
Gleisi foi eleita por com 558
votos dos delegados, que foram escolhidos em pleitos regionais por filiados do
partido - o equivalente a 72% dos votos, segundo dados divulgados no
encerramento do Congresso. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não
compareceu ao Congresso neste domingo. Ele fez um discurso na abertura, na
sexta-feira, 22.
"Essa expressividade dos
votos só me dá mais responsabilidade", disse ela em fala após a
proclamação dos resultados. Gleisi disputou o cargo com a deputada federal
Margarida Salomão (MG), que teve 131 votos (16,8% do total) e o historiador e
figura histórica da sigla, Valter Pomar, com 91 votos (11,7%). O deputado
federal Paulo Teixeira (SP) retirou a candidatura um pouco antes de ser
iniciado o processo de votação. Houve 12 votos em branco e nenhum nulo.
"O Brasil passa por uma
situação grave, temos um golpe continuado", disse Glesi em seu discurso,
criticando a política econômica liberal do governo, classificando como
equivocada e que vai retirar direitos da população. "Temos que ser firmes
contra a retirada de direitos do povo." A deputada disse que as
manifestações contra essas políticas liberais, que ocorrem em países como Chile
e Colômbia, vão chegar ao Brasil.
"Queremos Lula presidente da
República novamente", afirmou a deputada no discurso. Ela disse que um dos
desafios do PT é mostrar a inocência do ex-presidente. "A extrema direita
está se organizando, temos que fazer um contraponto." Para ela, é
importante o PT "ir para as vilas", conversar com as pessoas.
Além da confirmação da reeleição
de Gleisi, que já era esperada pelos membros do partido, a principal novidade
do dia ficou por conta da aprovação de uma emenda à tese que vai guiar o
partido nos próximos quatro anos que prevê que o partido, a depender da análise
da conjuntura, possa vir a assumir a defesa do impeachment do presidente Jair
Bolsonaro. Na prática, a sigla não vai adotar essa postura nesse momento, mas
não descarta discutir essa possibilidade a depender da evolução dos fatos e se
forem comprovados atos graves cometidos por Bolsonaro.
A emenda foi apresentada pela
corrente majoritária do partido, da qual Gleisi faz parte, a Construindo um
Novo Brasil (CNB). No Congresso neste domingo, o texto da emenda foi lido pelo
vice-presidente do PT-SP Jilmar Tatto: "A partir da evolução das condições
sociais e percepção pública sobre caráter do governo e da correlação de forças,
a direção nacional do partido, atualizando a tática para enfrentar o projeto do
governo Bolsonaro, poderá vir a exigir a sua saída", diz a emenda.
Segundo Tatto, o texto foi
aprovado com maioria absoluta. "Nós remetemos ao Diretório Nacional para
acompanhar a evolução política que está acontecendo no Brasil e deixamos em
aberto a questão de, eventualmente, em algum momento, se esse governo rasgar a
Constituição ou se for comprovado que fez algo muito grave, como ser um governo
de milicianos, evidentemente que isso adotar postura "Fora Bolsonaro"
está no horizonte em algum momento, mas essa não é nossa prioridade, a nossa
prioridade é defender os trabalhadores."
Tatto completou que, pelo
entendimento do partido, é necessário derrotar o governo Bolsonaro, o que
significa derrotar suas políticas. "Compete mais ao PT nesse momento
organizar a população brasileira para resistir ao desmonte dessas políticas, de
tudo que o governo Lula conseguiu nesses últimos anos. Evidentemente que
defendemos a democracia, defendemos o voto e Bolsonaro foi eleito. Mas, se em
algum momento for comprovado que ele cometeu um fato grave, a Constituição
garante que ele pode ser eventualmente sofrer impeachment."
Mais emendas
Ainda ficaram outras emendas por
votar, o que deve acontecer em uma reunião do diretório do partido. As emendas
aprovadas serão apensadas ao texto final da tese vencedora, também da CNB,
chamada "Lula Livre para Mudar o Brasil".
A tese será a diretriz do partido
nos próximos quatro anos e diz que a estratégia do PT deve ser de resistência
ao governo Bolsonaro, que tem um projeto de "enorme retrocesso
histórico", segundo o texto, e, ao mesmo tempo, de acumulação de forças
para que o País possa retomar "o mais rápido possível" o caminho da
transformação social.
O texto também defende a unidade
de forças progressistas tanto no Parlamento quanto na sociedade e diz que não
há contradição entre consolidar a unidade das esquerdas e buscar alianças mais
amplas com personalidades e setores de centro em prol do Estado de Direito.
Há ainda menção às eleições
municipais de 2020, dizendo que o partido lançará o maior número possível de
candidatos a vereador e que vão buscar alianças para fortalecer o polo de
oposição democrática. "A derrota da ultradireita é um dos nossos objetivos
centrais." O texto também fala em dar centralidade às reformas do Estado,
Política, Tributária, Agrária, entre outras.
Há ainda críticas ao governo
Bolsonaro e afirmações de que o presidente interfere "diretamente" no
inquérito da Polícia Civil do Rio sobre o assassinato da vereadora Marielle
Franco.
Estadão Conteúdo